Mas o clero ainda nos objeta que usurpamos o ofício da pregação, quando pregar cabe a eles, tanto porque têm obrigação para com os súditos como porque foram constituídos como prelados. Respondendo, nós dizemos que tinha que faze-lo quando não havia outros melhores do que eles que pregassem. Mas, depois que se tornaram indignos por sua vida péssima e porque não possuem a ciência necessária, o Senhor colocou no lugar deles outros melhores do que eles... (p. 596).
... Mas não crêem nessas coisas aqueles cuja ambição engordou o coração... Esses são os sacerdotes e os clérigos deste tempo, , e não querem que vivam os frades menores e os pregadores. E isso é uma grande crueldade, principalmente porque estes são mais úteis para a Igreja do que eles, que recebem as prebendas e não fazem aquilo por que recebem as prebendas... E não querem nem que tenhamos de viver das esmolas que recolhemos com tanta fadiga e rubor.
É ainda há muitos na Ordem dos frades menores e dos pregadores que, se estivessem no clero secular, poderiam muito bem ter aquelas prebendas que eles têm e muito mais, porque nobres, ricos e poderosos , letrados e sábios foram e são como eles, e poderiam muito bem ser presbíteros, arquipresbíteros, cônegos, arquidiáconos, bispos, arcebispos, talvez patriarcas, cardeais e papas, como eles. E por isso deveriam reconhecer que deixamos para eles todas essas coisas do mundo e saímos mendigando dia após dia, não temos adegas nem celeiros, de que eles têm tanto; e ainda sustentamos todas as suas fadigas: pregamos, ouvimos confissões, damos conselhos bons e úteis para a salvação... (pp. 605-606).