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Capítulo 151

Texto Original

Caput CLI

De devotione ad Nativitatem Domini et quomodo volebat tunc omnibus subveniri.

 

199 
1 Nativitatem pueri Iesu prae aliis solemnitatibus ineffabili alacritate colebat, festum festorum asserens, quo Deus, infans parvulus factus, ad ubera pependit humana. 
2 Infantilium illorum membrorum imagines famelica cogitatione lambebat, et eliquata pueri compassio in cor suum etiam verba dulcedinis faciebat more infantium balbutire. 
3 Eratque sibi hoc nomen quasi mel et favus (cfr. Prov 16,24) in ore. 
4 Cum de non comedendis carnibus collatio fieret, quia dies Veneris erat, respondit fratri Morico dicens: “Peccas, frater, diem Veneris vocans quo Puer natus est nobis (cfr. Is 9,6). 
5 Volo”, inquit, “quod etiam parietes tali die comedant carnes, et si non possunt, vel de foris liniantur!”.

 

200 
1 Volebat hoc die pauperes et famelicos a divitibus saturari (cfr. 1Re 2,5), et annonam et foenum plus solito bobus et asinis indulgeri. 
2 “Si locutus”, ait, “fuero Imperatori, supplicabo constitutum fieri generale, ut omnes qui possunt, frumenta et grana per vias proiciant, ut die tantae sollemnitatis abundent aviculae, praecipue sorores alaudae”. 
3 Paupercula Virgo quanta illo die fuerit circumvecta penuria, non sine lacrimis recolebat. 
4 Sedenti namque ad prandium die quadam, paupertatem beatae Virginis commemorat quidam frater, et Christi Filii eius inopiam replicat. 
5 Protinus surgit a mensa (cfr. 1Re 20,24), singultus ingeminat dolorosos, et perfusus lacrimis supra nudam humum reliquum panem manducat. 
6 Inde hanc virtutem regiam esse dicebat, quae in Rege et Regina tam praestanter effulserit. 
7 Nam et consultantibus in conclavi fratribus, quae virtus magis amicum redderet Christo, quasi secretum sui cordis aperiens, respondebat: “Paupertatem noveritis, filii, specialem viam salutis, cuius est fructus multiplex et paucis notissimus”.

Texto Traduzido

Caput CLI

Sobre a devoção ao Natal do Senhor e como queria que todos fossem servidos nessa ocasião.

 

199 
1 Celebrava com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos. 
2 Lambia como um esfomeado as imagens desses membros infantis, e a derretida compaixão que tinha no coração pelo Menino fazia até com que balbuciasse doces palavras como uma criancinha. 
3 Para ele, esse nome era como um favo de mel (cfr. Pr 16,24) na boca. 
4 Certa vez em que os frades discutiam se podiam comer carne porque era uma sexta-feira, disse a Frei Morico: “Irmão, cometes um pecado chamando de sexta-feira (dia de Vênus) o dia em que o Menino nasceu para nós. 
5 Quero que nesse dia até as paredes comam carne. Se não podem, pelo menos sejam esfregadas com carne pelo menos por fora!”

 

200 
1 Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno para os bois e os burros. 
2 Até disse: “Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigo e grãos, para que nesse dia tão solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias”. 
3 Não podia recordar sem chorar toda a penúria de que esteve cercada nesse dia a pobrezinha da Virgem.
4 Num dia em que estava sentado a almoçar, um dos frades lembrou a pobreza da Virgem bem-aventurada e as privações de Cristo seu Filho. 
5 Ele se levantou imediatamente da mesa, soltou dolorosos soluços e comeu o resto de pão no chão nu, banhado em lágrimas. 
6 Dizia que a pobreza era uma virtude real, pois brilhava de maneira tão significativa no Rei e na Rainha. 
7 Quando os frades lhe perguntaram, em uma reunião, que virtude mais faz de alguém um amigo de Cristo, respondeu, como quem contava um segredo de seu coração: “Ficai sabendo, filhos, que a pobreza é o caminho especial da salvação, que seu fruto é múltiplo e conhecidíssimo por poucos”.