No dia 1º de novembro, a Igreja celebra a festa de Todos os Santos. Segundo a tradição, ela foi colocada neste dia, logo após o dia 31 de outubro que os celtas ingleses, pagãos, celebravam as bruxas e os espíritos que vinham se alimentar e assustar as pessoas nesta noite (Halloween).
Esta Solenidade de Todos os Santos vem do século IV. Em Antioquia, celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos após era fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do “Panteão” dos deuses romanos a Nossa Senhora e a todos os mártires. No ano de 835, esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV para 1º de novembro.
A Igreja já canonizou mais de 20 mil Santos, mas há muito mais que isto no Céu.
A Encíclica “Lúmen Gentium”, do Vaticano II, lembra que: “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (LG 49) (§956)
Cada um de nós é chamado a ser santo. Disse o Concilio Vaticano II que: “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (Lg 40). Todos são chamados à santidade: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48): “Com o fim de conseguir esta perfeição, façam os fiéis uso das forças recebidas (…) cumprindo em tudo a vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao serviço do próximo. Assim a santidade do povo de Deus se expandirá em abundantes frutos, como se demonstra luminosamente na história da Igreja pela vida de tantos santos” (LG 40).
Segundo o Papa Bento XVI, “a santidade é a vocação originária de cada batizado. Cristo, de fato, que com o Pai e com o Espírito é o todo Santo, amou a Igreja como sua esposa e se deu a si mesmo por ela, a fim de santificá-la”.
“Por esta razão todos os membros do Povo de Deus são chamados a serem santos, segundo a afirmação do apóstolo Paulo: ‘A vontade de Deus é que sejam Santos’. Portanto, estamos convidados a olhar a Igreja não em seu aspecto temporário e humano, marcado pela fragilidade, mas sim como Cristo a quis, isto é ‘comunhão dos Santos’”, explica Bento XVI.
Segundo a tradição da Igreja Católica, o Dia dos Fiéis Falecidos, Dia de Finados, é celebrado no dia 2 de Novembro, logo a seguir ao dia de Todos os Santos. Desde o século II, os cristãos rezavam pelos falecidos, visitando os túmulos dos mártires.
No século V, a Igreja dedicava um dia do ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém lembrava. Também o abade de Cluny, santo Odilon, em 998 pedia aos monges que orassem pelos mortos.
Desde o século XI os Papas Silvestre II (1009), João XVII (1009) e Leão IX (1015) obrigam a comunidade a dedicar um dia aos mortos. No século XIII, esse dia anual, que até então era comemorado no dia 1 de novembro, passa a ser comemorado em 2 de novembro, porque 1 de novembro é a Festa de Todos os Santos.
Acompanhe a reflexão do Papa Bento XVI:
Depois de ter celebrado a Solenidade de Todos os Santos, hoje a Igreja convida-nos a comemorar todos os fiéis defuntos, a dirigir o nosso olhar para os numerosos rostos que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. A realidade da morte para nós, cristãos, é iluminada pela Ressurreição de Cristo, e para renovar a nossa fé na vida eterna.
Nestes dias vamos ao cemitério para rezar pelas pessoas queridas que nos deixaram, é quase como ir visitá-las para lhes manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para as sentir ainda próximas, recordando também, deste modo, um artigo do Credo: na comunhão dos Santos há um vínculo estreito entre nós que ainda caminhamos nesta terra e muitos irmãos e irmãs que já alcançaram a eternidade.
Desde sempre, o homem preocupou-se pelos seus mortos e procurou conferir-lhes uma espécie de segunda vida, através da atenção, do cuidado e do carinho. De certa maneira, deseja-se conservar a sua experiência de vida; e, paradoxalmente, como eles viveram, o que amaram, o que temeram e o que detestaram, nós descobrimo-lo precisamente a partir dos túmulos, diante dos quais se apinham recordações. Estas são como que um espelho do seu mundo.
Por que é assim? Porque, não obstante a morte seja com frequência um tema quase proibido na nossa sociedade, e haja a tentativa contínua de eliminar da nossa mente até o pensamento da morte, ela diz respeito a cada um de nós, refere-se ao homem de todos os tempos e de todos os espaços. E diante deste mistério todos, também inconscientemente, procuramos algo que nos convide a esperar, um sinal que nos dê consolação, que abra algum horizonte, que ofereça ainda um futuro. Na realidade, o caminho da morte é uma senda da esperança, e percorrer os nossos cemitérios, como também ler as inscrições sobre os túmulos é realizar um caminho marcado pela esperança de eternidade.
Mas perguntamo-nos: por que sentimos medo diante da morte? Por que motivo uma boa parte da humanidade nunca se resignou a acreditar que para além dela não existe simplesmente o nada? Diria que as respostas são múltiplas: temos medo diante da morte, porque temos medo do nada, este partir rumo a algo que não conhecemos, que nos é desconhecido. E então em nós existe um sentido de rejeição, porque não podemos aceitar que tudo quanto de belo e grande foi realizado durante uma existência inteira seja repentinamente eliminado e precipite no abismo no nada. Sobretudo, nós sentimos que o amor evoca e exige a eternidade, e não é possível aceitar que ele seja destruído pela morte num só instante.
Além disso, temos medo diante da morte porque, quando nos encontramos próximos do fim da existência, há a percepção de que existe um juízo sobre as nossas obras, sobre o modo como conduzimos a nossa vida, principalmente sobre aqueles pontos de sombra que, com habilidade, muitas vezes sabemos anular ou tentamos remover da nossa consciência. Diria que precisamente a questão do juízo está com frequência subjacente ao cuidado do homem de todos os tempos pelos finados, a atenção pelas pessoas que foram significativas para ele e que não estão mais ao seu lado no caminho da vida terrena. Num certo sentido, os gestos de carinho e de amor que circundam o defunto constituem um modo para proteger, na convicção de que eles não permaneçam sem efeito na hora do juízo. Podemos ver isto na maior parte das culturas que caracterizam a história do homem.
Hoje, o mundo tornou-se, pelo menos aparentemente, muito mais racional, ou melhor, difundiu-se a tendência a pensar que cada realidade deve ser enfrentada com os critérios da ciência experimental, e que também à grandiosa interrogação da morte é necessário responder não tanto com a fé, mas a partir de conhecimentos experimentais, empíricos. Porém, não nos damos conta de modo suficiente, de que precisamente desta maneira terminamos por cair em formas de espiritismo, na tentativa de manter algum contato com o mundo para além da morte, quase imaginando que existe uma realidade que, no final, seria uma réplica da vida presente.
A Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos dizem-nos que somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também levar uma vida a partir da esperança. Se nós reduzirmos o homem exclusivamente à sua dimensão horizontal, àquilo que se pode sentir de forma empírica, a própria vida perde o seu profundo sentido. O homem tem necessidade de eternidade, e para ele qualquer outra esperança é demasiado breve, é demasiado limitada. O homem só é explicável, se existir um Amor que supere todo o isolamento, também o da morte, numa totalidade que transcenda até o espaço e o tempo. O homem só é explicável, só encontra o seu sentido mais profundo, se Deus existir. E nós sabemos que Deus saiu do seu afastamento e fez-se próximo, entrou na nossa vida e diz-nos: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá» (Jo 11, 25-26).
Pensemos por um momento na cena do Calvário e voltemos a ouvir as palavras que Jesus, do alto da Cruz, dirige ao malfeitor crucificado à sua direita: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Pensemos nos dois discípulos no caminho de Emaús quando, depois de terem percorrido um trecho da estrada com Jesus Ressuscitado, O reconhecem e, sem hesitar, partem rumo a Jerusalém para anunciar a Ressurreição do Senhor (cf. Lc 24, 13-35). Voltam à mente com clareza renovada as palavras do Mestre: «Jesus continuou dizendo: «Não fique perturbado o coração de vocês. Acreditem em Deus e acreditem também em mim. 2 Existem muitas moradas na casa de meu Pai. Se não fosse assim, eu lhes teria dito, porque vou preparar um lugar para vocês» (Jo 14, 1-2). Deus revelou-se verdadeiramente, tornou-se acessível e amou de tal modo o mundo, «que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16), e no supremo gesto de amor da Cruz, mergulhando no abismo da morte, venceu-a, ressuscitou e abriu também para nós as portas da eternidade. Cristo sustém-nos através da noite da morte que Ele mesmo atravessou; é o Bom Pastor, a cuja guia podemos confiar sem qualquer temor, porque Ele conhece bem o caminho, até através da obscuridade.
Cada domingo, recitando o Credo, nós confirmamos esta verdade. E visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e com força a nossa fé na vida eterna, aliás, a viver com esta grande esperança e testemunhá-la ao mundo: por detrás do presente não existe o nada. E é precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura. Obrigado!
Viúva, religiosa da Segunda Ordem (1463-1521). Aprovou seu culto Bento XV no dia 20 de março de 1921.
Margarida nasceu no Castelo de Vaudémont, próximo de Nancy, em 1463. Era filha de Iolanda de Anjou, descendente de São Luís IX de França, e de Henrique de Vaudémont, Duque da Lorena. Ela passou sua infância em Nancy.
Jovem órfã, ela foi confiada ao seu avô materno, Renato de Anjou, Rei de Provença, que procurou dar a ela uma boa educação católica. Quanto tinha 10 anos, durante um passeio no bosque, Margarida se escondeu com algumas amigas, causando apreensão entre as pessoas do séquito. Encontrada antes do anoitecer, confessou que tinha querido se dar a vida eremítica. As pessoas do seu convívio não ficaram surpresas, pois sabiam que o avô fazia com que a menina lesse a Vida dos Padres do deserto e a Legende Dorée.
Por ocasião da morte do Rei Renato, ela voltou para a Lorena e casou-se, em 1488, com Renato, Duque de Alençon, filho de um companheiro de Santa Joana d’Arc nas lutas contra os ingleses. O casamento não foi fácil, porque os desastres da Guerra dos Cem Anos angustiavam o pequeno Ducado.
Margarida seguia os conselhos e o exemplo de sua cunhada Felipa de Gueldre, Duquesa da Lorena e Rainha da Sicília, que também ingressou nas Clarissas. Margarida ficou viúva em 1492, após 4 anos de casamento. Passou então a se dedicar à educação de seus três filhos – Carlos, Francisca e Ana – e à administração de sua casa, sem negligenciar a oração e as obras de penitência. Os parentes tinham querido subtrair as crianças de sua tutela, mas ela soube educá-las tão bem, que se tornaram admiráveis jovens de sangue real e fizeram ótimos casamentos.
Ela governou com sabedoria o Ducado de Alençon. Fundou vários conventos e instituições de caridade, em particular o mosteiro de Clarissas de Alençon, a partir do mosteiro da Ave Maria de Paris, depois o de Argentan.
Depois de 22 anos de viuvez, de escrupulosa abnegação à família e ao ducado, Margarida, livre do cuidado dos filhos, dividiu seus bens em três partes: uma destinada aos pobres, outra a Igreja e a terceira ao seu próprio sustento; depois se retirou no Castelo de Essai, que se transformou num verdadeiro mosteiro, e permaneceu em estreito contado com as Clarissas de Alençon.
O Bispo da Diocese precisou aconselhar a Duquesa Margarida a moderar seu próprio zelo ascético, que a levava a permanecer quase a noite toda em oração, a usar cilícios, a jejuar longamente, para provar, como ela mesma dizia, “algo da Paixão de Jesus”. Cedendo às exortações do prelado, Margarida aceitou mudar o método: passou a cuidar das chagas dos doentes, num ambulatório aberto por ela em Mortagne.
Antes de se tornar Clarissa em Argentan, Margarida enriqueceu igrejas e mosteiros com bordados de mérito incalculável feitos por ela com todo o carinho: o famoso “ponto de Alençon”, uma arte das mais sutis, e que lhe dão direito a ser considerada legítima ascendente das nossas modernas rendeiras.
O apadrinhamento histórico desta famosa renda cabe à Duquesa Margarida. Esta antepassada de Henrique IV, nora do “Gentil Duque”, que foi o companheiro de armas de Santa Joana d’Arc, não se limitou a administrar o ducado durante vinte anos, com tal sensatez e condescendência que lhe deram o nome de “mãe de toda a caridade”: ela praticou e incentivou esta arte que perdura até nossos dias.
Finalmente, a vocação religiosa de Margarida pode ser coroada de um modo completo e ainda mais austero, quando ela ingressou nas Clarissas pobres de Argentan, aceitando a duríssima vida das filhas de Santa Clara, que hoje a honram como uma de suas Beatas.
Ela professou do mosteiro de Argentan no dia 11 de outubro de 1520, nas mãos do Bispo de Séez, na presença do Irmão Gabriel Maria, comissário geral dos Menores da Observância, enquanto que sua cunhada, Felipa de Gueldre, entrava nas Clarissas de Pont-à-Mousson.
Ela deu exemplo da mais generosa observância da Regra; dotou o mosteiro de Estatutos particulares aprovados pelo Papa Leão X: ele autorizou Margarida a agregar ao mosteiro casas de religiosas da Ordem Terceira regular que ajudariam as religiosas reclusas.
Margarida faleceu como verdadeira Clarissa no dia 2 de novembro de 1521, com a reputação de santidade. Sobre seu peito foi encontrada uma cruz de ferro, com três pontas que penetravam na carne da Duquesa de Alençon, neta preferida do Rei Renato de Anjou. Muitos milagres foram atribuídos à sua intercessão. O Papa Bento XV a beatificou em 20 de março de 1921.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Bispo e Cardeal da Terceira Ordem (1538-1584). Canonizado por Paulo V no dia 1º de novembro de 1610
Carlos, o segundo filho de Gilberto, nasceu no dia 2 de outubro de 1538. Menino ainda revelou ótimo talento e uma inteligência rara. Ao lado destas qualidades, manifestou forte inclinação para a vida religiosa, pela piedade e o temor a Deus. Era seu prazer construir altares minúsculos, diante dos quais, em presença dos irmãos e companheiros de idade, imitava as funções sacerdotais que tinha observado na Igreja. Era mero brinquedo infantil. O amor à oração e o aborrecimento aos divertimentos profanos, eram sinais mais positivos da vocação sacerdotal. O ano de 1562 veio a Carlos a graça do sacerdócio.
No silêncio da meditação, lançou Carlos planos grandiosos para a reorganização da Igreja Católica. Estes todos se concentraram na ideia de concluir o Concílio de Trento. De fato, era o que a Igreja mais necessitava, como base e fundamento da renovação e consolidação da vida religiosa. Carlos, sem cessar, chamava a atenção do velho tio para esta necessidade, reclamada por todos os amigos da Igreja. De fato, o Concílio se realizou, e não exageramos se apontamos Carlos como força motriz daquela grandiosa atuação da vida católica.
Carlos quis ser o primeiro a executar as ordens da nova lei, ainda que por esta obediência tivesse de deixar a posição, para ocupar outra inferior. Carlos sabia muito bem que a caridade abre os corações também à religião. Por isto foi que grande parte da receita pertencia aos pobres, reservando ele para si só o indispensável. Heranças ou rendimentos que lhe vinham dos bens de família, distribuía-os entre os desvalidos. Tudo isto não aguenta comparação com as obras de caridade que o arcebispo praticou, quando em 1569-1570 a fome e uma epidemia, semelhante à peste, invadiram a cidade de Milão.
Não tendo mais do seu para dar, pedia em pessoa esmolas para os pobres e abria assim fontes de auxílio, que teriam ficado fechadas. Quando, porém, em 1576 a cidade foi visitada pela peste, e o povo abandonado pelos poderes públicos, não tinha outro recurso senão o bispo; este, para não falar na ereção de hospitais e lazaretos que mantinha, visto que ninguém se compadecia do povo, ainda procurava os pobres doentes de que ninguém lembrava, consolava-os e dava-lhes os santos sacramentos.
Tendo-se esgotado todas as fontes de recurso, Carlos lançou mão de tudo o que possuía, para amenizar a triste sorte dos doentes. Mais de cem sacerdotes tinham pago com a vida, na sua dedicação e serviço aos doentes. Deus conservava a vida do arcebispo, e este se aproveitou da ocasião para dizer duras verdades aos ímpios e ricos esquecidos de Deus.
Gregório XIII, como infundadas não só rejeitou as acusações, mas ainda recebeu Carlos Borromeu em Roma, com as mais altas distinções. Em resposta a este gesto do Papa, o governador de Milão, organizou no primeiro domingo da Quaresma de 1579, um indigno préstito, carnavalesco pelas ruas de Milão, precisamente à hora da missa do arcebispo. O mesmo governador, que tanta guerra ao Prelado movera, e tantas hostilidades contra São Carlos estimulara, no leito de morte reconheceu o erro e teve o consolo da assistência do santo bispo na hora da agonia.
Seu sucessor, Carlos de Aragão, duque de Terra Nova, viveu sempre em paz com a autoridade eclesiástica. O arcebispo gozou deste período só dois anos. Quando em outubro de 1584, como era de costume, se retirara para fazer os exercícios espirituais, teve fortes acessos de febre, a que não ligava importância e dizia: “Um bom pastor de almas, deve saber suportar três febres, antes de se meter na cama”. Os acessos renovaram-se e consumiram as forças do arcebispo.
Provido dos santos sacramentos, expirou aos 03 de novembro de 1584. Suas últimas palavras foram: “Eis Senhor, eu venho, vou já”. São Carlos Borromeu tinha alcançado a idade de apenas 46 anos, e a sua morte foi muito pranteada. Para evitar uma inscrição pomposa na campa, tinha determinado no testamento que, no túmulo, lhe lessem as seguintes palavras: “Carlos, Cardeal, com o título de Santa Praxedes, arcebispo de Milão, que se recomenda à oração fervorosa do clero, do povo e do sexo feminino piedoso, em vida escolheu este monumento para si”. Paulo V, canonizou-o em 1610 e fixou-lhe a festa para o dia 04 de novembro. O Corpo do santo em boa conservação repousa na cripta do “duomo”, de Milão.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Mártires japoneses da Terceira Ordem (+1627). Beatificados por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.
Uma das características do apostolado dos missionários no Japão era a de se rodearem de fiéis do próprio local como colaboradores ativos na obra de evangelização em outras atividades. Pelo fato serem japoneses nativos, perfeitos conhecedores da língua, dos costumes e das instituições, esses ajudantes formavam uma preciosa vanguarda para os missionários. A catequese de crianças e de catecúmenos adultos em preparação para o batismo era geralmente confiada a catequistas japoneses. A assistência a doentes nos hospitais ou a domicílio, as obras de beneficência em favor dos pobres, os orfanatos para acolher crianças abandonadas ou órfãs, eram costumeiramente entregues a esses cristãos, que repetiam nos tempos modernos os prodígios dos cristãos da Igreja primitiva.
Dentre eles, os melhores catequistas, aqueles que evidenciavam melhor formação espiritual ou davam indícios de vocação religiosa, eram admitidos à Ordem Terceira Franciscana, ou em alguns casos mesmo à Primeira Ordem. Nessa situação, mais ligados ao apostolado do missionário e imbuídos do espírito franciscano, trabalhavam ainda com mais diligência. Os Beatos que hoje recordamos estavam nesse caso: eram catequistas e terceiros franciscanos.
O Miguel foi abandonado pelos pais, quando ainda era pequeno. Acolhido por cristãos e confiados à obra da Santa Infância, onde recebeu o batismo e educação cristã. Quando já era crescido foi entregue a um comerciante espanhol. Mais tarde passou à missão, e foi acolhido pelo franciscano espanhol Padre Rojas, que lhe ministrou os estudos primários, nomeou-o catequista, e a pedido do próprio inscreveu-o na TOF. Numa região onde se deslocara por assuntos de catequese, encontrou-se com outro catequista, o Lucas, de quem se tornou amigo, e com o qual regressou a Nagasaki, onde trabalharam em conjunto desde 1618 a 1627.
Nessa época de terrível perseguição religiosa, valeram-se a sua arte de carpinteiros para construírem abrigos e esconderijos onde pudessem pôr a salvo os missionários e outros cristãos perseguidos. Essa atividade, no entanto, valeu-lhes a condenação. Reconhecidos como cristãos, foram detidos e metidos na cadeia durante vários meses. A 16 de agosto de 1627 foram tirados do cárcere e conduzidos a Nagasaki, à chamada Colina Sagrada ou Monte dos Mártires, onde foram decapitados e alcançaram a palma do martírio e a glória do céu.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Religioso e mártir japonês, da Primeira Ordem (+1622). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.
Paulo de Santa Clara era um discípulo muito estimado do Bem-aventurado Apolinário Franco, ministro provincial do Japão e chefe do grupo de mártires japoneses daquele ano. Prestou um belo serviço como catequista e em muitas outras atividades. Sob a dependência dos franciscanos trabalhou na obra de evangelização ensinando a doutrina cristã a crianças e adultos, assistindo e tratando doentes nas suas casas particulares ou nos hospitais. Estava sempre à disposição do Padre Apolinário para tudo quanto dizia respeito ao apostolado ou trabalhos internos do convento, como serviço de cozinha, arranjo da sacristia e da igreja e limpeza da casa.
Esse dedicado serviçal não ocultava o desejo de vir a ser religioso franciscano. Várias vezes exprimira esse desejo ao beato Apolinário, mas por um motivo ou por outro, a data da vestição ia sempre sendo adiada. Mas os caminhos do Senhor são maravilhosos; e não tardaria a chegar para Paulo o momento tão desejado. A perseguição religiosa, como torrente devastadora, não poupava missionários nem cristãos, que, se não abjurassem, eram detidos, encarcerados e condenados à morte.
Com o Beato Apolinário Franco foi preso o catequista Paulo, e conduzidos, em conjunto com outros cristãos e missionários, para a masmorra de Omura. E foi aí, na prisão, que Paulo mais uma vez fez o pedido de ser aceito como frade franciscano. Teve aí lugar uma comovente e sugestiva cerimônia, que mesmo apenas imaginada nunca mais se esquecerá. Juntamente com o nosso catequista mais dois candidatos à vida franciscana foram admitidos ao ano de noviciado. O seu nome de religioso ficou a ser Frei Paulo de Santa Clara. Seguiu-se o ano de noviciado com programas bem definidos, como aconteceria em qualquer comunidade religiosa normal: oração em comum, recitação das horas canônicas, reza do rosário, e muita alegria no meio das dificuldades e limitações da cadeia.
O epílogo dessa vida religiosa foi o martírio. No dia 2 de setembro de 1622 foi promulgada a sentença da condenação à morte a fogo lento. Frei Paulo de Santa Clara e companheiros foram levados a Omura, onde os esperava o seu calvário. Na via-sacra da subida, foram acompanhados por um enorme cortejo, de cristãos, que os aplaudiam pela coragem, e de pagãos que os insultavam e apupavam. As chamas das fogueiras que lhes queimaram os corpos abriram-lhes as portas do céu.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Virgem e religiosa da Segunda Ordem (1208-1242). Aprovou seu culto Inocêncio XIII no dia 29 de outubro de 1695.
Helena Enselmini nasceu em 1207 da nobre família Enselmini, em Pádua, Itália. Desde muito jovem, Helena experimentou viva atração pela vida religiosa. Com idade de apenas treze anos ingressou no Mosteiro das Clarissas em Arcela, nas proximidades de Pádua, onde Santo Antônio ficou hospedado, durante sua última enfermidade em um cômodo junto à portaria, e onde faleceu em 1231.
Há uma antiga tradição que narra ter sido o próprio São Francisco a cortar os belos cabelos loiros de Helena e revesti-la com o hábito pobre das Damas Pobres de São Damião.
Em sua breve existência, Helena deu luminoso exemplo de piedade, humildade, pureza, penitência e heroica conformidade e paciência, nas imensas dores que a atormentaram, prostrando-a no leito durante quinze meses. A principal característica de sua espiritualidade, foi uma profunda devoção à Paixão de Cristo.
Enfrentou com heroísmo sua limitação física, pois nos últimos anos não conseguiu mais ingerir alimentos. Ficou muda, cega e paralítica. Faleceu na idade de trinta e quatro anos, no dia 4 de novembro de 1242. No final do século XVII, o Papa Inocêncio XII confirmou o seu culto, já bastante popular na Itália, beatificando-a. Sua festa ocorre no dia 4 de novembro.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote, doutor sutil e mariano (1265-1308). João Paulo II aprovou seu culto no dia 20 de março de 1993.
Nasceu em Duns, na Escócia, pelos fins de 1265 e, muito jovem ainda, foi recebido na Ordem de São Francisco de Assis. Foi ordenado presbítero no dia 17 de março de 1291. Após obter a graduação acadêmica na Universidade de Sorbonne, em Paris, foi professor nas universidades de Cambridge, Oxford, Paris e, finalmente, em Colônia.
Verdadeiro filho do Porevello de Assis, investigou com grande sutileza a divina Revelação, produzindo muitas obras filosóficas e teológicas. Com vigor ardente anunciou o mistério do Verbo Encarnado e foi incansável defensor da Imaculada Conceição da Virgem Maria e da autoridade do Romano Pontífice. Em 23 de junho de 1303, por se ter recusado a subscrever o libelo de Filipe IV, o belo, Rei da França, contra o Papa Bonifácio VIII, foi expulso de Paris, indo para Colônia, onde a 8 de Novembro de 1308 foi colhido por morte prematura, no auge de sua atividade magisterial.
A grande fama de santidade de que o insigne teólogo se viu cercado na vida, por causa de suas excepcionais virtudes cristãs, bem cedo lhe mereceu, na só no âmbito da Ordem seráfica, mas também em Colônia, na Alemanha, onde está sepultado, e em Nola, na Itália, um culto Público que o Papa João Paulo II confirmou a 6 de Julho de 1991.
Scotus viveu em um contexto desafiador e, ao mesmo tempo, extremamente fecundo. O século XIII, no qual também viveram Tomás de Aquino e Boaventura, é atravessado por duas trajetórias filosófico-teológicas bem definidas: agostiniano-boaventuriana e aristotélico-tomista. E uma única matriz polêmica a provocá-las e animá-las: o ingresso das obras de Aristóteles na universidade de Paris.
Nesse contexto, Scotus assume uma postura crítica face aos pressupostos e às principais posições defendidas por ambas as escolas, revelando-se como um pensador original.
Destaca-se pela fina precisão em bem discernir, o que lhe possibilitou dissipar inúmeras confusões e esmerar-se na especulação acerca das questões filosóficas e dos mistérios da fé. O “Doutor sutil” se caracteriza, ainda, por um raciocínio deveras singular capaz de, num cerrado diálogo com seus interlocutores, desconstruir seus argumentos e forjar conceitos e linguagem novos cada vez mais precisos e inclusivos. Com Scotus, talvez o pensamento cristão tenha atingido o mais alto vértice da especulação.
Mensagem do Papa Bento XVI:
Uma antiga inscrição sobre seu túmulo resume as coordenadas geográficas da sua biografia: “A Inglaterra o acolheu; a França o educou; Colônia, na Alemanha, conserva seus restos; na Escócia ele nasceu”. Não podemos descuidar estas informações, também porque temos poucas notícias sobre a vida de Duns Scotus. Ele nasceu provavelmente em 1266, em um povoado que se chamava precisamente Duns, nas proximidades de Edimburgo. Atraído pelo carisma de São Francisco de Assis, entrou na família dos Frades Menores e, em 1291, foi ordenado sacerdote. Dotado de uma inteligência brilhante e levada à especulação – essa inteligência pela qual mereceu da tradição o título de Doctor subtilis, “Doutor sutil” -, Duns Scotus foi dirigido aos estudos de filosofia e de teologia nas célebres universidades de Oxford e de Paris. Concluída com êxito sua formação, dedicou-se ao ensino da teologia nas universidades de Oxford e de Cambridge, e depois de Paris, começando a comentar, como todos os Mestres do seu tempo, as Sentenças de Pedro Lombardo. As principais obras de Duns Scotus representam precisamente o fruto maduro dessas lições, e tomam seu título dos lugares nos quais lecionou: Opus Oxoniense (Oxford), Reportatio Cambrigensis(Cambridge), Reportata Parisiensia (Paris). De Paris ele se afastou quando, após o começo de um grave conflito entre o rei Felipe IV o Belo e o Papa Bonifácio VIII, Duns Scotus preferiu o exílio voluntário, ao invés de assinar um documento hostil ao Sumo Pontífice, como o rei havia imposto a todos os religiosos. Assim, por amor à Sé de Pedro, junto aos frades franciscanos, abandonou o país.
Queridos irmãos e irmãs: este fato nos convida a recordar quantas vezes, na história da Igreja, os crentes encontraram hostilidade e sofreram inclusive perseguições por causa de sua fidelidade e de sua devoção a Cristo, à Igreja e ao Papa. Nós todos contemplamos com admiração esses cristãos, que nos ensinam a proteger como um bem precioso a fé em Cristo e a comunhão com o Sucessor de Pedro e, assim, com a Igreja universal.
No entanto, as relações entre o rei da França e o sucessor de Bonifácio VIII logo voltaram a ser amistosas e, em 1305, Duns Scotus pôde voltar a Paris para lecionar teologia com o título de Magister regens, que hoje seria o de professor efetivo. Sucessivamente, os superiores o enviaram a Colônia como professor do Studium teológico franciscano, mas ele morreu no dia 8 de novembro de 1308, com apenas 43 anos de idade, deixando, contudo, um número relevante de obras.
Por ocasião da fama de santidade de que gozava, seu culto se difundiu em pouco tempo na ordem franciscana e o venerável Papa João Paulo II quis confirmá-lo solenemente beato no dia 20 de março de 1993, definindo-o como “cantor do Verbo encarnado e defensor da Imaculada Conceição”. Nesta expressão está sintetizada a grande contribuição que Duns Scotus ofereceu à história da teologia.
Antes de tudo, meditou sobre o mistério da Encarnação e, ao contrário de muitos pensadores cristãos da época, sustentou que o Filho de Deus teria se feito homem ainda que a humanidade não tivesse pecado. Ele afirma, na Reportata Parisiensa: “Pensar que Deus teria renunciado a esta obra se Adão não tivesse pecado seria totalmente irracional. Digo, portanto, que a queda não foi a causa da predestinação de Cristo, e que, ainda que ninguém tivesse caído, nem o anjo, nem o homem, nesta hipótese Cristo teria estado ainda predestinado da mesma forma” (in III Sent., d. 7, 4). Este pensamento, talvez um pouco surpreendente, nasce porque, para Duns Scotus, a Encarnação do Filho de Deus, projetada desde a eternidade por parte de Deus Pai em seu plano de amor, é cumprimento da criação e torna possível a toda criatura, em Cristo e por meio d’Ele, ser cumulada de graça e dar louvor e glória a Deus na eternidade. Duns Scotus, ainda consciente de que, na realidade, por causa do pecado original, Cristo nos redimiu com sua Paixão, Morte e Ressurreição, reafirma que a Encarnação é a maior e mais bela obra de toda a história da salvação e que esta não está condicionada por nenhum fato contingente, mas é a ideia original de Deus de unir finalmente todo o criado consigo mesmo na pessoa e na carne do Filho.
Fiel discípulo de São Francisco, Duns Scotus amava contemplar e pregar o mistério da Paixão salvífica de Cristo, expressão do amor imenso de Deus, que comunica com grandíssima generosidade fora de si os raios da sua bondade e do seu amor (cf. Tractatus de primo principio, c. 4). E este amor não se revela somente no calvário, mas também na Santíssima Eucaristia, da qual Duns Scotus era devotíssimo e que via como o sacramento da presença real de Jesus e como o sacramento da unidade e da comunhão que nos induz a amar-nos uns aos outros e a amar a Deus como o Sumo Bem comum (cf. Reportata Parisiensia, in IV Sent., d. 8, q. 1, n. 3).
Queridos irmãos e irmãs: esta visão teológica, fortemente “cristocêntrica”, abre-nos à contemplação, ao estupor e à gratidão: Cristo é o centro da história e do cosmos, é Aquele que dá sentido, dignidade e valor à nossa vida. Como o Papa Paulo VI em Manila, também eu, hoje, quero gritar ao mundo: “[Cristo] é o revelador do Deus invisível, é o primogênito de toda criatura, é o fundamento de tudo; é o Mestre da humanidade, é o Redentor; nasceu, morreu e ressuscitou por nós; Ele é o centro da história e do mundo; é Aquele que nos conhece e que nos ama; é o companheiro e o amigo da nossa vida… Eu nunca terminaria de falar d’Ele” (Homilia, 29 de novembro de 1970).
Não somente o papel de Cristo na história da salvação, mas também o de Maria é objeto da reflexão do Doctor subtilis. Na época de Duns Scotus, a maior parte dos teólogos opunha uma objeção, que parecia insuperável, à doutrina segundo a qual Maria Santíssima esteve isenta do pecado original desde o primeiro instante da sua concepção: de fato, a universalidade da Redenção levada a cabo por Cristo, à primeira vista, poderia parecer comprometida por uma afirmação semelhante, como se Maria não tivesse tido necessidade de Cristo e da sua redenção. Por isso, os teólogos se opunham a esta tese. Duns Scotus, então, para fazer compreender esta preservação do pecado original, desenvolveu um argumento que foi depois adotado também pelo Papa Pio IX em 1854, quando definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. E este argumento é o da “redenção preventiva”, segundo a qual a Imaculada Conceição representa a obra de arte da Redenção realizada em Cristo, porque precisamente o poder do seu amor e da sua mediação obteve que a Mãe fosse preservada do pecado original. Portanto, Maria está totalmente redimida por Cristo, mas já antes da sua concepção. Os franciscanos, seus irmãos, acolheram e difundiram com entusiasmo esta doutrina, e os demais teólogos – frequentemente com juramento solene – se comprometeram a defendê-la e aperfeiçoá-la.
A este respeito, eu gostaria de evidenciar um dado que me parece importante. Teólogos de valor, como Duns Scotus sobre a doutrina da Imaculada Conceição, enriqueceram com sua contribuição específica de pensamento o que o Povo de Deus já acreditava espontaneamente sobre a Beatíssima Virgem, e manifestava nos atos de piedade, nas expressões da arte e, em geral, na vida cristã. Assim, a fé, tanto na Imaculada Conceição como na Assunção corporal de Nossa Senhora já estava presente no Povo de Deus, enquanto a teologia não havia encontrado ainda a chave para interpretá-la na totalidade da doutrina da fé. Portanto, o Povo de Deus precede os teólogos e tudo isso graças a esse sensus fidei sobrenatural, isto é, essa capacidade infundida pelo Espírito Santo, que capacita para abraçar a realidade da fé, com a humildade do coração e da mente. Neste sentido, o Povo de Deus é “magistério que precede” e que deve ser depois aprofundado e acolhido intelectualmente pela teologia. Que os teólogos possam sempre colocar-se à escuta dessa fonte da fé e conservar a humildade e a simplicidade dos pequenos! Recordei isso há alguns meses, dizendo: “Existem grandes doutos, grandes especialistas, grandes teólogos, mestres da fé, que nos ensinaram muitas coisas. Penetraram nos pormenores da Sagrada Escritura (…), mas não puderam ver o próprio mistério, o verdadeiro núcleo (…). O essencial permaneceu escondido! (…) Pensemos em Santa Bernadete Soubirous; em Santa Teresa de Lisieux, com a sua nova leitura da Bíblia ‘não científica’, mas que entra no coração da Sagrada Escritura” (Homilia. Missa com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 1º de dezembro de 2009).
Finalmente, Duns Scotus desenvolveu um ponto no qual a modernidade é muito sensível. Trata-se do tema da liberdade e da sua relação com a vontade e com o intelecto. Nosso autor sublinha a liberdade como qualidade fundamental da vontade, iniciando uma postura de tendência voluntarista, que se desenvolveu em contraposição com o chamado intelectualismo agostiniano e tomista. Para São Tomás de Aquino, que segue Santo Agostinho, a liberdade não pode ser considerada uma qualidade inata da vontade, mas o fruto da colaboração da vontade com o intelecto. Uma ideia da liberdade inata e absoluta colocada na vontade que precede o intelecto, tanto em Deus como no homem, corre o risco, de fato, de levar à ideia de um Deus que não estaria ligado tampouco à verdade nem ao bem. O desejo de salvar a absoluta transcendência e diversidade de Deus com uma afirmação tão radical e impenetrável da sua vontade não leva em consideração que o Deus que se revelou em Cristo é o Deus “logos”, que agiu e age repleto de amor a nós. Certamente, como afirma Duns Scotus na linha da teologia franciscana, o amor supera o conhecimento e é capaz de perceber cada vez mais o pensamento, mas é sempre o amor de Deus “logos” (cf. Bento XVI, Discurso em Ratisbona, “Enseñanzas de Benedicto” XVI, II [2006], p. 261). Também no homem a ideia de liberdade absoluta, colocada na vontade, esquecendo o nexo com a verdade, ignora que a própria liberdade deve ser libertada dos limites que lhe foram postos pelo pecado.
Falando aos seminaristas de Roma, no ano passado, eu recordava que “a liberdade, em todas as épocas, foi o grande sonho da humanidade, desde o início, mas particularmente na época moderna (Discurso ao Pontifício Seminário Maior Romano, 20 de fevereiro de 2009). Mas precisamente a história moderna, além da nossa experiência cotidiana, ensina-nos que a liberdade é autêntica e ajuda na construção de uma civilização verdadeiramente humana somente quando está reconciliada com a verdade. Quando se separa da verdade, a liberdade se converte tragicamente em princípio de destruição da harmonia interior da pessoa humana, fonte de prevaricação dos mais fortes e dos mais violentos e causa de sofrimentos e de lutos. A liberdade, como todas as faculdades de que o homem está dotado, cresce e se aperfeiçoa, afirma Duns Scotus, quando o homem se abre a Deus, valorizando essa disposição à escuta da sua voz, que ele chama de potentia oboedientialis: quando nos colocamos à escuta da Revelação divina, da Palavra de Deus, para acolhê-la, então somos alcançados por uma mensagem que enche de luz e de esperança nossa vida e somos verdadeiramente livres.
Virgem reclusa da Terceira Ordem (1244-1307). Pio VI concedeu em sua honra ofício e missa no dia 17 de setembro de 1798.
A parte mais antiga da povoação de Signa, no alto da colina, de aspecto medieval, ainda hoje é conhecido pelo nome de “A Beata”, continuando assim a recordar e honrar a Beata de Signa por antonomásia, Joana. Nascida em 1244, era filha de pais humildes, e na juventude foi simples pastora, de vida e alma imaculada. Às vezes reunia-se com outros pastores, e falava-lhes de coisas do céu e da prática da virtude.
Só mais ou menos aos 30 anos lhe foi possível realizar o ideal sonhado de vida religiosa, fazendo-se reclusa voluntária. Nesse intuito, depois de haver recebido dos frades menores o hábito da terceira ordem franciscana, fez-se emparedar numa pequena cela junto ao rio Arno, e aí viveu em penitência durante uns quarenta anos. Embora separada do mundo, a partir desse estreito refúgio derramou dons de misericórdia sobre todos quantos a ele recorriam: curou doentes, consolou aflitos, converteu pecadores, esclareceu indecisos, ajudou necessitados. A sua fama perdurou até aos nossos dias, devido também aos milagres póstumos e graças recebidas por sua intercessão.
Há lendas pitorescas sobre a sua juventude de pastora. Conta-se, por exemplo, que quando corriam tempestades e aguaceiros, ela reunia junto de uma frondosa árvore o rebanho, que assim ficava a salvo da chuva, do granizo e dos raios. Por isso, ao pressentirem a aproximação de tempestade, outros pastores corriam junto dela com os respectivos rebanhos. E ela aproveitava a oportunidade para lhes lembrar, com palavras simples e eficazes, a necessidade de salvarem a alma e merecerem o paraíso.
Outras vezes, quando o caudal do Arno crescia de modo a impedir a passagem de uma margem para a outra, houve quem a visse estender sobre as águas revoltas a sua grosseira capa e atravessar o rio sobre ela, como se fosse um barco seguro.
Como reclusa, Joana viveu uma vida mais angélica do que humana. Da caridade dos fiéis recebia o indispensável para a sustentação. Foi exímia na mais rigorosa austeridade, na oração fervorosa, na contemplação assídua, em êxtases e colóquios com o seu amado. O Senhor glorificou a santidade da sua serva com numerosos prodígios realizados, sobretudo, em favor de doentes, para quais obtinha de Deus a cura do corpo e da alma. Da cela onde viveu emparedada voou para o céu aos 63 anos, no dia 09 de novembro de 1307, e diz-se que no momento do seu desenlace repicaram festivamente os sinos das igrejas, a celebrarem a sua entrada na glória celeste.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
(1881-1922), terceira franciscana. Doméstica, beatificada no dia 13 de agosto de 1991 por João Paulo II, em Cracóvia.
Filha de um casal de agricultores pobres, mas muito religiosos, Ângela nasceu em uma região árida e improdutiva situada a uns 18 quilômetros de Cracóvia.
Era a mais nova de nove irmãos e, além disso, nasceu e cresceu mal nutrida, fraca e enfermiça. Quanto a qualidades morais, era um tanto desobediente e caprichosa. Frequentou na escola da cidade os dois anos de estudo possíveis, e aí mal aprendeu a ler menos mal, mas mal aprendeu a escrever. Ficou a gostar de ler bons livros, sobretudo livros de piedade. Aos 12 anos começou a empregar-se em trabalhos domésticos em casas da vizinhança.
Aos 16 anos, em busca de melhores condições de trabalho, foi para Cracóvia, onde já residia uma sua irmã, Tereza, que a ajudou a arranjar o primeiro emprego. Os primeiros tempos, contudo, foram difíceis, e viu-se obrigada a mudar de ocupação com frequência. Resolveu então inscrever-se na Associação de santa Zita, das empregadas domésticas. De início levou uma vida pouco exemplar, pois era vaidosa, frívola e pouco piedosa, ao contrário da irmã, que, toda se esforçava por seguir o caminho do céu; ela também queria chegar lá, mas mais devagar… Não obstante, continuou mais ou menos assídua às práticas de piedade e fiel no cumprimento dos deveres religiosos, talvez mais por rotina que por convicção.
Os conselhos da irmã e a morte prematura da mesma levaram-na a mudar de conduta e a tomar a vida mais a sério. Foi pondo de parte a frivolidade nas diversões e a vaidade no modo de se apresentar, conservando apenas aquela dignidade própria de uma filha de Deus. Fez também progressos na vida de piedade, chegando a ser a orientadora de algumas companheiras. Chegou mesmo a pensar em entrar num mosteiro. Consultado o confessor a esse respeito, optou por fazer simplesmente um voto de castidade perpétua. Foi descobrindo pouco a pouco que a sua vocação era sofrer com Cristo, e embora consciente da sua debilidade, aceitou-a. Deliciava-se em longas orações diante do SS. Sacramento; lia livros de mística tomando nota de passagens mais interessantes. Por ordem do confessor, começou escrever um diário, para anotar as suas vivências místicas, facilita as consultas e abreviar as confissões.
Tendo encontrado por fim condições favoráveis de trabalho, empregada de um casal sem filhos, com eles viveu oito anos. Por outro lado, foi alvo de vexames incríveis, por exemplo o do ser esbofeteada em plena igreja por uma mulher, e o de o seu confessor habitual, cansado com intrigas de pessoas invejosas, e até com calúnias levantadas contra Ângela, se negar sem mais nem mesmo a atendê-la em confissão, e em público a obrigar a retirar-se da fila do confessionário. Ângela suportou com paciência estas dolorosas humilhações.
A senhora em cuja casa ela trabalhava adoeceu gravemente e morreu, assistida por ela. Depois disso, vieram viver com o viúvo duas mulheres seus parentes, que começaram a criar dificuldades à vida e ao trabalho de Ângela. Sentindo-se abandonada, ouviu Jesus a dizer-lhe: “Minha filha, porque te preocupas? Eu não te abandonei”. Tomou então como diretor espiritual um padre jesuíta, que acompanhou o seu processo até o fim. E para seguir mais de perto Cristo pobre e crucificado, fez-se terceira franciscana, cuja regra professa em 1913.
Enquanto se encontra em condições de trabalhar, ajuda os doentes nos hospitais, socorre os pobres e as suas companheiras necessitadas. Mas no outono de 1916 é expulsa do emprego, acusada de roubo. Sente-se destroçada por doenças, necessidades, invejas, insultos e calúnias. Apenas consegue alguns biscates passageiros, e no ano seguinte deixa de poder trabalhar. Resolve então recolher-se no hospital da Santa Zita, de que tinha sido sócia. Mas como nem aí a deixam em paz a calúnia e a inveja, resolve ir viver sozinha, num pequeno cubículo alugado. Mas foi aí, no meio dos sofrimentos, que teve visões de Jesus a confortá-la e corrigi-la. Raramente e com grande dificuldade pode ir à igreja comungar; muitas vezes fica privada do pão do céu, pois tinha sido acusada por uma invejosa de se fingir doente, e essa calúnia fizera com que os padres franciscanos se recusassem a levarem-lhe a comunhão em casa. Ângela oferece todos os sofrimentos pela libertação da Polônia, sua pátria.
Em 1920 com imensa dificuldade participa de uma peregrinação ao santuário mariano de Chestochowa; e desde finais desse ano até meados do ano seguinte sofre dores tão atrozes que quase a levam ao desespero. Mas aceita todos esses “queridos tormentos” para se unir aos sofrimentos de Cristo. Na última etapa da vida, é alternadamente atormentada por tentações diabólicas de orgulho e presunção e confortada por Cristo com visões celestiais. Numa dessas visões passou a experimentar a felicidade do céu, a 12 de março de 1922.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Primeira Ordem (1385-1456). Aprovou seu culto Bento XIV no dia 19 de setembro de 1753.
Gabriel Ferretti nasceu em Ancona por volta de 1385, e aos 18 anos, contra vontade dos pais, iniciou o noviciado entre os frades menores no convento de São Francisco do Alto, onde passado esse ano de prova se consagrou totalmente a Deus pelos votos de pobreza, castidade e obediência.
No recolhimento e no silêncio do eremitério onde passou a viver, todos concentrado em Deus e na prática da vida religiosa, aprofundou o estudo das ciências teológicas, e uma vez ordenado sacerdote, dedicou-se ao apostolado entre pobres e doentes, e não tardou muito a ser conhecido como “o padre de Ancona”.
As virtudes e raras qualidades de Gabriel não passaram despercebidas aos superiores religiosos, que em 1245 o nomearam guardião do convento de São Francisco do Alto, convento que ele se apressou a restaurar e melhorar, sem deixar de prestar abnegada assistência às vítimas da peste que assolou a região durante dois anos.
Em 1434, os frades menores da província das marcas, reunidos em capítulo, elegeram-no ministro provincial, o que muito contribuiu para nessa província se propagar eficazmente a fiel observância da regra franciscana. O papa Eugênio IV concedeu-lhe amplas faculdades para abrir novos conventos, privilégio que ele não desperdiçou em benefício da ordem. Mas apesar das múltiplas e constantes ocupações e preocupações que tal tarefa exigia, nunca deixou de se interessar pelo seu velho convento e pelos seus concidadãos de Ancona.
Em 1438, por sugestão do seu íntimo amigo São Tiago da Marca, foi convidado pelo ministro geral P. Guilherme de Casal a pregar na Bósnia, onde já tinham anunciado a Palavra de Deus o mesmo São Tiago da Marca e outros religiosos franciscanos. Mas a assembleia municipal de Ancona, que não queria ver-se privada da solícita assistência do santo frade, pediu para o deixarem continuar na sua cidade, e a petição foi atendida. Assim, Frei Gabriel não chegou a sair das Marcas, prosseguindo na obra de assistência aos pobres e doentes da cidade.
A sua terna devoção a Maria fez dele um divulgador da coroa seráfica dos sete gozos de Nossa senhora, e a Mãe do céu recompensou o amor filial do seu servo com aparições e doces colóquios. E Deus não deixou também de premiar as virtudes do humilde franciscano com o dom da profecia e dos milagres. Cassandra, uma sua sobrinha impossibilitada de caminhar, recorreu ao valimento do tio, que com um simples sinal da cruz traçado sobre a articulação afetada a curou imediatamente.
Gabriel terminou a sua virtuosa e laboriosa carreira na terra aos 71 anos no convento de Ancona, no dia 12 de novembro de 1456, assistido por São Tiago da Marca, que no funeral exaltou as virtudes do seu santo confrade.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Ermitão da Terceira Ordem (1270-1340). Aprovou seu culto Pio IX no dia 10 de setembro de 1857.
De João da Paz conservam-se notas biográficas em três dísticos colocados no seu túmulo. Neles se afirma em resumo que era de nobre estirpe, que viveu inicialmente como eremita numa mata solitária, mas depois, por amor de Deus, voltou à sua cidade natal e aí construiu uma igreja dedicada à Santíssima Trindade e um oratório a São João Evangelista.
Nasceu em Pisa, em 1270, mais ou menos. Recebeu o apelido “da Paz” por ter vivido muito tempo num eremitério situado junto de uma porta da cidade chamada “porta da paz”. Teve na juventude uma educação e formação verdadeiramente cristã. Não admira por isso que o seu nome figure entre os primeiros cristãos de Pisa que abraçaram a ordem terceira da penitência, recentemente instituída pelo pobrezinho para santificação dos simples fiéis.
Antes de se fazer terceiro franciscano tinha sido soldado da república de Pisa. Entretanto, iluminado pela graça, foi refletindo sobre seu modo de vida militar, que não lhe pareceu consentâneo com o espírito do Evangelho. Por isso decidiu separar-se do mundo e seguir Jesus mais de perto, pelos caminhos da penitência. Contava com 35 anos quando trocou a vida militar pela de terceiro franciscano.
Propôs-se reativar “A Pia Casa da Misericórdia”, com o fim de aliviar os sofrimentos dos pobres, dar abrigos a peregrinos e dedicar-se a outras obras de caridade. Mas não se limitou a isso, até porque o seu ideal e a sua grande aspiração era a vida eremítica. Nesse intuito construiu uma cela junto à porta da paz, e aí se dedicou à penitência e a oração, a fim de alcançar de Deus o perdão para as próprias culpas e implorar para os seus compatriotas, frequentemente vítimas de sangrentas lutas, anelada paz. Durante vários anos João fez brilhar a cidade de Pisa com o esplendor das suas virtudes, e o seu nome andava na boca de toda a gente, para quem ele se mostrava sempre afável e carinhoso, desfazendo-se para bem de todos.
Deus fez dele pai espiritual de numerosos discípulos que lhe seguiram o exemplo e se vieram a chamar os “eremitas terceiros franciscanos”. Foi a eles que em 1330 o arcebispo de Pisa entregou o eremitério de Santa Maria da Sambuca, que sob a sua direção veio a produzir belos frutos de santidade. Aí deixou João um grupo dos seus eremitas, enquanto ele voltou para o seu oratório da porta da paz, onde passou o resto dos seus dias numa vida mais celestial do que terrena.
Ao atingir a idade de 70 anos, consumidos pela vida austera a que se sujeitara, preparou-se para a morte, que o veio acolher como terna irmã, a 13 de novembro de 1340.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Religioso da Primeira Ordem (1400-1463). Canonizado por Sixto V no dia 2 de julho 1588.
Diogo nasceu pelo ano de 1400 em São Nicolau do Porto, na região espanhola de Andaluzia. Sentindo desde muito novo inclinação para vida solitária e penitente, durante vários anos viveu como eremita junto da igreja de São Nicolau, no seu torrão de natal. No entanto, à oração e contemplação aliava o trabalho manual, como cultivo de uma horta e a confecção de cestos de vime e pequenos utensílios para uso doméstico, os lucros desses trabalhos destinava-os por inteiro a ajudar os pobres. A fama de sua virtude estendeu-se a povoações vizinhas, e passou a ser venerado por muita gente.
Entretanto começou a sonhar em voos mais altos, e resolveu ingressar na ordem dos frades menores. Dirigiu-se nesse intuito a um convento próximo de Córdova, onde foi admitido ao noviciado, e a seu tempo à profissão dos votos religiosos. Exerceu vários ofícios humildes em diversos conventos da província religiosa, até que em 1441 foi enviado às Canárias para evangelizar os nativos, que tinham recaído em superstições e idolatrias. Só por obediência aceitou o cargo de guardião de um convento para o qual fora eleito em 1446. Dedicou-se com especial empenho a defender os indígenas da exploração por parte dos conquistadores, que por isso mesmo lhe levantaram muitas dificuldades e causaram muitas contrariedades, a ponto de em 1449 pedir autorização para regressar à Espanha. No ano seguinte em 1450, foi com um confrade a Roma, para ganhar o jubileu e assistir à canonização de São Bernardino de Sena.
Aconteceu que o convento romano de Araceli, onde os dois religiosos se tinham hospedado, foi atingido pela epidemia que nesse ano flagelou a cidade de Roma, e quase todos os frades, que eram muitos, caíram doentes. Diogo desfez-se em cuidados para com eles, quer a respeito de tratamentos, quer para providenciar ao sustento necessário, que era escasso, apesar das providências tomadas pelas autoridades públicas. Foi um autêntico herói nesse apostolado de caridade, cuidando dos doentes e socorrendo os pobres mais afetados pela carestia resultante da peste. Chegou a curar muitos enfermos pelo simples contato das mãos, untada no azeite da lâmpada colocada junto à imagem de Nossa Senhora.
Ao voltar à pátria, viveu de novo em diversos conventos antes de a morte lhe abrir as portas do céu, em Alcalá de Henares, perto de Madrid, a 12 de novembro de 1463, aos 63 anos de idade. A fama de santidade de vida desse humilde irmão leigo franciscano, unida aos muitos milagres que Deus por sua intercessão realizou, levou Sisto V a inscrevê-lo no catálogo dos santos, a 2 de julho de 1558.
São Diogo de Alcalá fez reviver a figura daqueles irmãos, simples e humildes, que nos tempos do franciscanismo primitivo foram o orgulho e a alegria de São Francisco, que no trabalho, no silêncio e na penitência conquistavam almas para Cristo. Na ordem franciscana é venerado como especial patrono dos irmãos não clérigos.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
São Nicolau Tavelic e companheiros (1340 -1391) Presbíteros e mártires da Primeira Ordem.
Nicolau nasceu em Sebenic pelo ano de 1340. Exerceu primeiramente o ministério de pregador, na Bósnia, com seu confrade Deodato e, depois, em 1384, partiu com ele para a Palestina. Lá, com outros dois confrades, Pedro e Estevão, prepararam uma exposição apologética sobre a fé cristã, e, fortalecidos pela oração, proferiram-na diante do Juiz Mulçumano de Jerusalém. Mandados retratar o que haviam dito, com decisão se recusaram: pelo que foram postos na prisão e condenados à morte. Seus corpos, retalhados, foram lançados ao fogo em novembro de 1391, em Jerusalém.
Ó Deus, que glorificastes São Nicolau e seus companheiros pelo zelo na propagação da fé e a palma do martírio, concedei-nos, por seu exemplo e intercessão, seguir o caminho dos vossos mandamentos, para que mereçamos receber o prêmio da vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Religiosa da Terceira Ordem Regular (1839-1904). Fundadora das Franciscanas Missionárias de Maria. Foi beatificada no dia 14 de Maio de 2006.
Helena Chapotin nasceu em Nanci, França, a 21 de Maio de 1839, e faleceu em São Remo a 15 de novembro de 1904. Superadas muitas provas, em 1865 ingressou na congregação das religiosas da Maria Reparadora em Tolosa, e logo no ano seguinte partiu para a Índia, onde foi superiora e seguidamente provincial da missão de Medura, onde com zelo incansável deu novo alento às atividades missionárias já iniciadas e as multiplicou.
Chamada a Roma em 1877, com a benção de Pio IX fundou uma nova congregação, das irmãs franciscanas de Maria (vítimas, adoradoras e missionárias), a qual em 1885 foi agregada à ordem franciscana regular sob a obediência dos frades menores. Em 1896 Leão XIII aprovou as constituições do novo instituto, redigidas pela fundadora. Foi ela quem até à morte o governou, multiplicando casas e obras com uma rapidez assombrosa por toda a Europa e mais ainda em terras de missão.
Contudo, na véspera da morte, reconheceu: “Se o instituto fosse obra minha, morreria comigo. Mas é obra de Deus!”. Seguindo as pisadas da fundadora, as franciscanas missionárias de Maria oferecem com gosto a própria vida para completarem o que falta à Paixão de Cristo. Um refrão muito repetido pela madre Maria da Paixão era este: “A nossa pátria é todo o gênero humano”. Por isso as religiosas do seu instituto estão sempre prontas para irem viver em qualquer parte e aí darem testemunho do Evangelho, em especial nos países e lugares onde a Igreja está menos presente, no meio dos pobres e deserdados. Desde o sangue das sete santas mártires da China em 1900, até os incontáveis e obscuros sacrifícios de tantas outras irmãs, entre as quais a B. Maria Assunta Pallotta, as missionárias de Maria têm pago com a vida, e por vezes com o próprio sangue, a sua dedicação a povos e países que se encontram em situação dramática.
Para conferir a esse ideal uma base sólida e segura, a fundadora não encontrou melhor ponto de apoio do que o espírito de Francisco de Assis. Desde a juventude ela se sentira atraída pelo santo pobrezinho. Quando se lhe tornou possível enxertar no tronco robusto da família franciscana o novo rebento que Deus por seu intermédio suscitara, para dela receber uma maior participação de espírito evangélico, de pobreza, de simplicidade e de alegria, sentiu plenamente realizado o seu próprio carisma e o desígnio de Deus sobre ela e sobre a sua obra.
Da mesma seiva e do mesmo espírito se nutrem ainda hoje as 9.000 franciscanas missionárias de Maria, pertencentes a 63 nacionalidades e distribuídas por mais de 73 países dos cinco continentes, continuando a obra de Maria da Paixão. A extrema diversidade das irmãs da congregação quanto a origens, línguas, culturas e atitudes, bem como a vastíssima gama de compromissos apostólicos, encontram em Cristo, Palavra e Pão, um centro de união e comunhão na diversidade, que foi sempre característica fundamental do Instituto das Franciscanas Missionárias de Maria.
Maria da Paixão foi beatificada em Nápoles, no dia 14 de Maio de 2006.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Viúva da Terceira Ordem (1207-1231). Canonizada por Gregório IX no dia 27 de maio de 1235.
Esta Santa do século XIII, padroeira da Ordem Terceira Franciscana, consumou a curta vida na prática do bem, deixando atrás de si uma esteira luminosa de amor, exemplo que a cristandade jamais esqueceu.
Isabel era uma princesa, filha do rei André da Hungria e sua esposa Gertrudes. Nascida em 1207, quando ainda era criança foi dada por esposa a Luís, conde da Turíngia, em cujo palácio cresceu no amor de Deus e do próximo. Passava noites inteiras em oração, e os dias a visitar doentes e socorrer os necessitados. Mas a sua grandeza da alma brilhou, sobretudo, após a morte do esposo, que se inscrevera numa cruzada, pois a família do defunto despojou-a de todos os bens e pô-la na rua com os filhos. Assim, aquela que tinha ajudado tanta gente e construíra hospitais para os súditos, viu-se forçada a procurar abrigo num estábulo de animais. No entanto, não queixou dessa tremenda injustiça: Pelo contrário, dirigiu-se a uma igreja dos Frades Menores e pediu para cantarem um Te Deum em ação de graças, por o Senhor a ter assemelhado a si na pobreza. Vestiu o hábito da Ordem Terceira e recebeu de São Francisco o próprio manto como prenda.
Quando mais tarde a justiça lhe repôs os direitos usurpados, que ela reivindicou para os filhos, não mudou de vida: continuou sempre a trabalhar com suas próprias mãos para ajudar os pobres. Com frequência recebia visitas do Senhor na oração.
Nos curtos 24 anos da vida terrena, Santa Isabel experimentou riqueza e miséria, honras e desprezo, e santificou todas as condições de vida duma mulher: extremamente religiosa desde a juventude, esposa afetuosa, mãe carinhosa de três filhos, senhora empenhada no bem do seu povo, viúva precoce espoliada de todos os bens, com três filhos famintos a sustentar e a educar, e em todas as circunstâncias irradiava alegria divina, porque sempre e em tudo se sentia amparada pelo amor de Deus. E o Senhor não a abandonou: os filhos foram reconhecidos como príncipes herdeiros. Para si mesma conservou apenas o tesouro inestimável da pobreza franciscana, que lhe tinha revelado a doçura de Deus.
A faceta mais característica da sua vida é a caridade para com os pobres, a quem ajudava com régia generosidade e visitava nas barracas onde viviam. É célebre o episódio do seu marido, Luís, que cruzou com a esposa quando ela levava escondidas, debaixo da capa, provisões para alguns pobres. Perguntando-lhe ele o que levava escondido, ela simplesmente levantou a capa, e apareceu um belo buquê de rosas, apesar de estar em pleno inverno. Outra vez foi um leproso a quem ela tinha lavado os pés e dado de comer, e depois deixara dormir no seu próprio leito. Quando o marido regressou e soube do caso, ficou indignado e quis ver quem era esse leproso que se tinha enfiado na sua própria cama. Qual não foi o seu espanto quando ao abrir a porta viu o próprio Cristo num nimbo de luz, que logo desapareceu e deixou radiante os dois cônjuges.
Morreu aos 24 anos, a 17 de novembro de 1231, e foi sepultada em Marbugo no dia 19 do mesmo mês.
Ó Deus, que destes a Santa Isabel da Hungria reconhecer e venerar o Cristo nos pobres, concedei-nos, por sua intercessão, servir os pobres e aflitos com incansável caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Virgem, religiosa da Segunda Ordem (1211-1268). Aprovou seu culto Clemente X no dia 17 de maio de 1673.
Salomé, princesa da Polônia, nasceu em 1211. Em conformidade com os costumes da época, aos três anos de idade foi prometida como esposa a um príncipe de seis anos, Colomano, filhos do rei da Hungria. A cerimônia da coroação teve lugar no outono desse mesmo ano, e com autorização do papa Inocêncio III foi presidida pelo bispo de Strigônia.
O reinado das duas crianças durou menos de três anos, porque um outro príncipe se insurgiu contra eles e os fez prisioneiros. Nessa altura, contando Salomé com 9 anos e Colomano 12, ambos de comum acordo fizeram voto de castidade. Quando André, filho do rei da Hungria, destituiu o usurpador e repôs a normalidade da situação, puderam ambos regressar à corte húngara.
Ao completar de 16 anos e atingir a maioridade, Salomé considerou-se sempre ligada ao voto de castidade que fizera, e sabendo que a sua beleza poderia seduzir os homens, procurava evitá-los, usava roupas modestas e recusava-se a tomar parte nas festas e diversões mundanas da corte, dedicando à oração o tempo que dessa forma poupava.
Colomano, ainda em vida do pai, governou a Dalmácia e a Eslavônia até morrer até morrer em 1241 numa batalha contra os Tártaros. Entretanto Salomé protegia e ajudava os conventos dos franciscanos e dominicanos. Um ano depois da morte do marido, regressou à Polônia, onde em 1245 vestiu o hábito das irmãs clarissas. Nesse mesmo ano, associada ao seu irmão Boleslau, fundou uma igreja e respectivo convento para os franciscanos, e para as clarissas um hospital e um mosteiro onde ela mesma se enclausurou.
Perante a ameaça dos Tártaros, em março de 1259 parte das clarissas transferiu-se para Skala, onde Salomé fundou novo mosteiro que dotou com alfaias de culto e ornamentos litúrgicos. Durante 28 anos viveu no silêncio e recolhimento do mosteiro, onde foi modelo de penitência, abnegação, humildade, inocência e caridade. Por muitos anos foi uma abadessa bondosa, afável, serviçal, apaixonada pelo ideal da pobreza seráfica.
A 17 de novembro de 1268 foi favorecida com uma aparição da Virgem Santíssima e de seu Filho, percebendo do que se tratava reuniu as irmãs, exortou-as à mútua caridade, à paz, à pureza de coração, à obediência sem limites e ao desprendimento das coisas do mundo. Pouco depois as irmãs viram uma espécie de pequena estrela a formar-se sobre ela e a subir ao céu. Salomé de Cracóvia entregava a Deus a sua bela alma, aos 57 anos. Os seus restos mortais foram mais tarde traslados para a igreja dos franciscanos de Cracóvia, onde ainda hoje se encontram.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Virgem religiosa da Segunda Ordem (1443-1514). Aprovou seu culto Pio IX no dia 6 de setembro de 1876.
Nascida em 1443, com 15 anos entrou no mosteiro das irmãs clarissas de Santa Luizia, Mântua, onde foi abadessa durante muitos anos. A Paixão de Jesus era para ela o assunto mais frequente das conversas, bem como das meditações e contemplações. Foi também singularmente devota da Eucaristia. Levava uma vida austera, com cilícios, flagelações e jejuns, e sentia-se feliz nas humilhações, fadigas e trabalhos.
No relacionamento com as irmãs mostrava-se cheia de caridade e sempre pronta a ajudá-las em qualquer necessidade. Sob a sua direção o mosteiro de Santa Luzia ganhou fama pelas numerosas vocações e pela vida seráfica das religiosas.
Em agradecimento ao Senhor pelos favores por ele concedidos, costumava repetir esta oração: “Meu Deus, eu te amo de todo o coração, com um amor sem medida, e nunca deixarei de cantar os teus louvores”. Nos 56 anos de vida religiosa, nunca causou qualquer desgosto às irmãs. Como superiora, procurou não apenas o bem espiritual das religiosas, mas também o bem material da comunidade, convencida de que não pode haver perfeita observância da regra se falta o indispensável para a vida. No jardim mandou abrir um poço, que veio a chamar-se o “Poço da Beata Paula”, a cuja água se tem atribuído propriedades curativas.
Era grande a sua confiança em Deus. Amiúde repetia a expressão de São Paulo: “Sei em quem confio!”. Era às vezes arrebatada em êxtase, e outras vezes ouviram-se coros angélicos a cantarem junto ao sacrário. Escreveu vários opúsculos, em especial sobre o nome de Jesus, que lamentavelmente se perderam.
Um dia, estando a orar em êxtase diante dum crucifixo situado ao cimo dumas escadas, foi atacada pelo demônio, que a lançou por terra. Socorrida pelas irmãs, foi reclinada num enxergão. Eram os seus últimos dias e as suas últimas palavras. Exausta pelas prolongadas vigílias, pelos rigorosos jejuns e outras ásperas penitências, assistida pelo seu confessor e pelas irmãs, apertando contra o coração o crucifixo repetia mais uma vez a sua jaculatória predileta “Paixão de Cristo, Sangue de Cristo, misericórdia!”, expirou serenamente no dia 18 de agosto de 1514. Tinha 71 anos, 56 dos quais passados no mosteiro.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Virgem da Segunda Ordem (1198-1253). Bento XIV, no dia 15 de abril de 1762, concedeu ofício e Missa em sua honra.
Inês era irmã de Clara, mais nova do que ela, nascida em Assis em 1198. Em princípios de abril de 1212 foi juntar-se à irmã, que quinze dias antes tinha fugido da casa paterna para abraçar o ideal franciscano e se recolher no mosteiro de Santo Ângelo, nas faldas do Subásio, perto de Assis. Os parentes, exasperados com semelhantes gestos, que consideravam um segundo atentado contra o bom nome da família, serviram-se de todos os recursos para tentarem impedi-la de realizar os seus intentos, sem excluírem mesmo a violência física: Inês chegou a ser brutalmente ferida pelo seu tio Monaldo, que teve o atrevimento de violar a clausura e a tranquilidade do mosteiro. Porém, nem mesmo a força bruta conseguiu fazer vergar a jovem. Foi São Francisco quem sugeriu para a nova consagrada o nome de Inês, porque, pela fortaleza de que dera provas, esta jovem de 15 anos recordava a valentia da mártir romana Santa Inês.
Em 1212 São Francisco trouxe as duas irmãs para São Damião. Em 1220 Inês foi enviada para Florença, como abadessa do mosteiro de Monticelli, fundado no ano anterior. Mas muitos outros mosteiros de Clarissas se orgulham de ter hospedado a santa. Mais tarde regressou a São Damião, onde foi agraciada com uma aparição do Menino Jesus, por isso se representa por vezes Santa Inês com o menino Jesus nos braços. Em Assis Inês assistiu à morte da irmã Clara no dia 12 de agosto de 1253.
No coro do pobrezinho convento de São Damião ainda se podem ler os nomes das primeiras companheiras que seguiram as pegadas de Santa Clara e São Francisco pelo caminho da renúncia total e absoluta pobreza. São conhecidos nomes de senhoras e jovens de Assis que em São Damião tiveram o seu primeiro ninho: Hortolana, Inês, Beatriz, Pacífica, Benvinda, Cristiana, Amada, Iluminada, Consolada… Os três primeiros nomes pertencem a mulheres da família de Santa Clara: Hortolana era a sua mãe, e Inês e Beatriz eram suas irmãs.
Inês foi a primeira a seguir o exemplo da irmã Clara, quinze dias depois dela, pouco depois veio a outra irmã, Beatriz, e por fim a mãe Hortolona. Inês, além de ter sido a primeira, também foi a que mais fielmente seguiu a irmã, vivendo à sua sombra luminosa, sempre delicada e obediente, duma firmeza de caráter excepcional, quase viril, em especial na observância da pobreza. Como superiora foi terna e caridosa, mas inflexível e tenaz. Depois do regresso a São Damião, morreu serenamente três meses depois da irmã Santa Clara, a 16 de novembro de 1253, com 55 anos de idade.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Isabel Maria Satellico, Virgem da Segunda Ordem (1706-1745). Beatificada por João Paulo II no dia 10 de outubro de 1993.
Isabel Maria nasceu em Veneza no último dia do ano de 1706. Recebeu a primeira educação cristã dos pais e de um tio sacerdote. Era de saúde delicada, e mostrava grandes qualidades para a música e o canto, mas mais ainda para a oração.
Recebida entre as clarissas para ser por elas orientadas nos caminhos de Deus, prestou-lhes bons serviços como organista e diretora de canto. Aos 19 anos foi recebida como noviça e mudou o nome para Maria Crucificada, pela devoção que consagrava a Maria e à Paixão de Cristo.
Conjugava com uma sublime contemplação uma rigorosa austeridade e penitência, participando assim mais intimamente nos sofrimento do Senhor. O seu ideal foi a perfeita conformação com Cristo crucificado, unida à caridade para com o próximo, e uma filial devoção à Santíssima Virgem. Eleita como abadessa, distinguiu-se pela solicitude para com as irmãs e para com os pobres. Morreu a 8 de novembro de 1745, e é nessa data que se celebra a sua memória litúrgica.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote e mártir da Primeira Ordem (1853-1895). Beatificado no dia 3 de outubro de 1982 por João Paulo II.
Nasceu para a vida terrena numa Capadócia da Itália, província de Áquila, e durante 15 anos trabalhou como missionário na célebre região da Capadócia, atualmente turca, junto à Armênia, onde nasceu pelo martírio para a vida do céu.
Foi o sexto e último filho de uma família de boa prática religiosa e situação econômica desafogada, devido à atividade comercial do pai. O ambiente familiar profundamente cristão fez germinar e crescer no menino Salvador sentimentos de fé e piedade, e ao mesmo tempo as possibilidades econômicas permitiram-lhe uma preparação e instrução escolar fora do comum.
Aos 18 anos, Salvador apresentou-se ao guardião do convento de São Francisco da Ripa, em Roma, pedindo para ser admitido na ordem dos frades menores. Em 1863 resolveu ir como missionário para a Terra Santa, onde desde os tempos de São Francisco os franciscanos são encarregados de cuidar de santuários e assistir a peregrinos. Continuou na Palestina os estudos de filosofia e teologia, primeiro em Belém e a seguir em Jerusalém, onde foi ordenado sacerdote em 1879. No ano seguinte foi à Turquia; como conhecia diversas línguas orientais, a árabe, a turca e a armênia, desenvolveu um frutuoso apostolado entre os cristãos dessas regiões, sobretudo em Marasc.
Em 1885 voltou à Itália para visitar a família e os confrades, e logo no ano seguinte regressou a Marasc, onde, como superior da missão no quadriênio de 1890-1894 realizou importantes obras de caridade e de assistência social em favor dos fiéis.
Coadjuvado por outros confrades, durante 15 anos a sua ação apostólica não se limitou a atividades religiosas, senão que também fomentou a instrução e a promoção social dos pobres. Graças aos seus extraordinários dotes de inteligência e de coração e ao perfeito conhecimento da língua turca, tanto falada como literária, depressa e sem dificuldade granjeou o afeto dos cristãos e a estima e o respeito dos não cristãos, inclusivamente das autoridades, devido, sobretudo, aos empreendimentos de ordem social, como o de ter adquirido uma grande propriedade e a ter dotado de alfaias agrícolas e ter aberto um dispensário.
Em 1885 os mulçumanos desencadearam uma perseguição armada, sistemática e feroz contra a minoria armênia da região. Frei Salvador, que havia dezesseis meses era pároco, além de superior da fraternidade, recusou fazer-se muçulmano. Ferido numa perna, e depois feito prisioneiro com dez dos seus paroquianos, foi assediado pelos maometanos, com subornos e com ameaças, no intuito de o fazerem apostatar. Mas manteve-se sempre firme e inquebrantável; e apesar da ferida da perna, que provocava grande perda de sangue, ainda confortava e animava os outros, dizendo-lhes: “Meus filhos, sede fortes na fé, não vos façais muçulmanos. O sofrimento passa depressa, e no céu está à nossa espera Jesus com todos os seus santos. Coragem! Depois do martírio espera-nos a coroa de glória no paraíso”.
No dia 22 de novembro de 1895, junto com sete cristãos armênios seus paroquianos, foi imolado a golpes de baioneta. No dia 3 de outubro de 1982, como conclusão do oitavo centenário do nascimento de São Francisco (1182-1982), o papa João Paulo II proclamava Bem aventurados Salvador Lilli e os sete cristãos seus companheiros no martírio pela fé em Cristo.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Religioso da Primeira Ordem (1582-1637). Beatificado por Leão XIII no dia 29 de janeiro de 1882.
Humilde, cuja terra natal é uma humilde povoação da província de Cosenza, região da Calábria, no sul da Itália, nasceu a 26 de agosto de 1582, e deu mostras duma extraordinária piedade: participava na missa todos os dias, comungava em todas as festas, orava e meditava na Paixão do Senhor em todos os momentos possíveis, até nos trabalhos agrícolas.
Os membros da confraria da Imaculada Conceição, em que se inscreveu, não lhe regateavam elogios, tomando-o por modelo de todas as virtudes. Quando uma vez alguém lhe deu em público uma grande bofetada, a sua única resposta foi apresentar a outra face ao malcriado agressor.
Aos 18 anos sentiu-se chamado à vida religiosa, mas teve de diferir por nove anos a realização desse ideal. Entretanto, continuando no mundo, levava uma vida de religioso. Aos 27 anos foi admitido ao noviciado dos Frades Menores, onde os encarregados da formação dos jovens candidatos eram dois santos religiosos. Embora as dificuldades continuassem, frei Humilde, recorrendo à intercessão de Maria, conseguiu superá-las, e emitiu os votos de consagração ao Senhor no dia 4 de setembro de 1610.
As referidas dificuldades radicavam, sobretudo, no dom do êxtase em que era frequentemente arrebatado, a ponto de lhe chamarem o “frade extático”. Quando tais êxtases começaram a ocorrer-lhe em público, os superiores acharam por bem sujeitá-lo a uma série de humilhantes provas, a ver se tais arroubos seriam de fato uma graça de Deus, e não um embuste. Suportadas e vencidas com êxito essas provações, passou a ser mais apreciado e venerado tanto entre os confrades como entre o povo.
Além do êxtase, foi agraciado com outros carismas, como perscrutação dos corações, profecia, milagres e ciência infusa. Apesar de ser analfabeto, certas respostas sobre a sagrada Escritura e a doutrina católica deixavam pasmados até mesmo teólogos de nomeada. O arcebispo de Réggio Calábria, como presidente duma assembleia de padres e teólogos, apresentou-lhe certas dúvidas e objeções, a que ele deu resposta rápida e correta. Levado perante o Inquisidor de Nápoles, Monsenhor Campanile, frei Humilde sempre respondeu com franciscana simplicidade.
O ministro geral dos frades menores teve por ele tal apreço que quis levá-lo como companheiro em visitas a várias províncias da ordem; e papas Gregório XV e Urbano VIII, que o chamaram a Roma e o fizeram examinar rigorosamente, depositaram nele grande confiança, a ponto de lhe pedirem orações e conselhos.
As virtudes em que mais se distinguiu foram a humildade, a obediência e a oração. Morreu aos 55 anos na terra onde nascera e passara os derradeiros anos da vida, Bisigniano, a 26 de novembro de 1637.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Mártir no Japão, da Terceira Ordem (+1628). Beatificado por Pio IX no dia 7 de julho de 1867.
O pai de Mateus Álvares era português, e a mãe japonesa. O filho foi um cristão exemplar já em vida, mas, sobretudo na morte. Pertence ao número imponente dos convertidos japoneses depois da mais antiga experiência de evangelização desse país do extremo Oriente, ligado à história e à glória de São Francisco Xavier.
São Francisco Xavier tinha estado no Japão por volta de 1550, e aí lançara as primeiras sementes do apostolado cristão. Depois dele, a obra evangelizadora foi continuada pelos seus confrades da Companhia de Jesus, com êxito tanto mais surpreendente, quanto era difícil penetrar naquela cultura e mentalidade muito diferente da ocidental, e ainda devido à complexidade da língua japonesa.
Apesar disso, menos de 30 anos depois, em 1587, já se contavam no Japão mais de 200.000 cristãos. Um deles era o Beato Mateus Álvares. Batizado pelos franciscanos, tinha-se inscrito na ordem terceira de São Francisco e esforçava-se por viver segundo o espírito seráfico. Como bom japonês, conhecia perfeitamente as doutrinas e os costumes budistas, e isso permitiu-lhe sair vencedor em variadas discussões e obter numerosas conversões.
Durante certo tempo os missionários do Japão viveram em clima de tolerância e inclusivamente de simpatia. Mas de repente, por motivos diversos e complexos, foi decretada a expulsão dos missionários estrangeiros. Contudo, grande parte dos religiosos não fizeram caso do decreto e continuaram lá, na clandestinidade, prosseguindo com as devidas cautelas o trabalho de apostolado e assistência às comunidades cristãs. Sucedeu que a chegada de novos missionários e o seu proselitismo demasiadamente descarado sobressaltou as autoridades, que decretaram a prisão de todos os missionários e também de cristãos mais notáveis.
Mateus foi detido e levado para a cadeia, onde já encontrou outros cristãos e missionários. Todos sofreram refinadas e humilhantes torturas, entre as quais a de serem expostos à irrisão e escárnio das populações. Eram também solicitados a renegar a fé cristã; mas nem ele nem nenhum dos companheiros desertou. Finalmente a 8 de setembro de 1628 foi executado na colina próxima de Nagasáki, chamada mais tarde a Colina Sagrada. Foi primeiro atravessado com lanças cruzadas que lhe atravessaram o coração, e de seguida decapitado. Antes de morrer dirigiu-se pela última vez ao povo para exortar à perseverança, e aos verdugos para lhes declarar o seu perdão.
Sobre a Colina Sagrada, ou Colina dos Mártires, de Nagasáki, erguia-se um estandarte não de derrota, mas de perene vitória.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Terceira Ordem (1842-1915). Fundador dos Servos da caridade e das Filhas de Santa Maria da Providência. Beatificado por Paulo VI no dia 25 de outubro de 1964.
Natural duma povoação italiana dos Alpes Bergamascos foi o nono dos treze filhos de uma piedosa família, que desde a infância lhe incutiu uma fé viva e operante, um constante amor ao trabalho e uma terna caridade para com os pobres.
Passada a infância entre os montes que sempre recordou com saudade, frequentou primeiro o Colégio Gálio em Como, e depois, para os estudos eclesiásticos, os seminários diocesanos. Em todos esses centros de estudo se salientou pela piedade, amabilidade e aproveitamento nas disciplinas escolares.
Ordenado sacerdote em 1868, foi em várias freguesias pároco e ao mesmo tempo mestre-escola, pois tinha diploma de professor chegando mesmo a construir uma escola primária. Além disso, tomou iniciativas benéficas em favor dos pobres, e organizou a Ação Católica Juvenil, recentemente fundada. Em 1875 foi a Turim encontrar-se com João Bosco, de quem aprendeu o caminho da santidade e o método pedagógico. Vinculou-se então com votos religiosos à Sociedade Salesiana. Mas em 1878 foi chamado pelo bispo à sua diocese, para ser novamente nomeado pároco. Foi nessas circunstâncias que soou para ele a hora da graça, com a primeira fundação das obras de há muito sonhadas em favor dos pobres abandonados.
Como vários santos sacerdotes do seu tempo, por exemplo, João Bosco, José Cafasso, José Bento Cotolengo e outros, também ele fundou várias obras de beneficência, que rapidamente floresceram devido à dedicação e às qualidades pedagógicas dos seus colaboradores.
Devoto e admirador de São Francisco de Assis, ingressou na Ordem Terceira. Da vida do pobrezinho assumiu o espírito de pobreza e de perfeita alegria, de grande confiança em Deus e continuar a obra fundou duas congregações religiosas: os Servos da Caridade (Guanelianos) e as Filhas de Santa Maria da Providência (Guanelianas). A obra desenvolveu-se admiravelmente tanto na Itália como no estrangeiro. A pia união do Trânsito de São José, por ele iniciada em Roma, conta hoje com mais de dez milhões de membros.
Numa época de exacerbado anticlericalismo, as autoridades laicas não viram com bons olhos essas obras, e ele foi alvos de injustiças e perseguições, mas tudo venceu com a força da fé e o fogo da caridade. Foi à América acompanhado de emigrantes, e muito trabalhou para a assistência religiosa aos mesmos. Para instruir a juventude abriu escolas de iniciação e oratórios. Para assistir às vítimas de terremotos, não poupou energias nem meios materiais.
Em Como, no dia 24 de outubro de 1915, aos 73 anos, concluiu a sua atividade terrena este herói da caridade. O seu corpo venera-se no santuário do Sagrado Coração, em Como.
Foi canonizado pelo Papa Bento XVI em 23 de outubro de 2011.
Oh, bem-aventurado Luís Guanella, fundador dos servos da caridade. Com sua dedicação e perseverança no serviço aos pobres conseguiste dar passos largos na via da santidade. Conserva-nos também no amor aos nossos irmãozinhos mais débeis, pobres e fracos na fé. Ensina-nos a dedicação e fazer nossa parte nas obras de misericórdias corporais e espirituais. Amém.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Virgem, religiosa da Terceira Ordem Regular (1386-1420). Aprovou seu culto Clemente XIII no dia 19 de julho de 1766.
A filha saiu aos pais, humildes e pobres de bens temporais, mas ricos de virtude: também ela se distinguiu desde a meninice por uma piedade rara, inocência virginal e um feito tão doce e amável que todos a tratavam como a “Boa” (Bona), sobrenome por que ficou a ser conhecida.
Quando Isabel contava 14 anos, o padre Conrado Kigelin, seu confessor, aconselhou-a a deixar o mundo e tomar o hábito da ordem terceira de São Francisco. Passou a viver segundo a regra franciscana primeiramente em sua própria casa; mas pouco depois achou melhor deixar os pais para ir viver com uma piedosa terceira franciscana. O demônio para impedir os progressos de Isabel no caminho da perfeição, atormentava-a com frequência. Enquanto ela aprendia a arte de tecelã, estragava o seu trabalho, fazia-a perder a metade do tempo em reparações de defeitos. Mas Isabel levava sempre a melhor com a sua paciência a toda a prova.
Quando ela completou 17 anos, o padre Conrado Kigelin orientou-a para uma comunidade feminina onde algumas religiosas seguiam com fervor a regra franciscana da ordem terceira. Enquadrada nessa comunidade, Isabel continuou sempre com a mesma doçura e obediência, assídua à oração e à penitência, preferindo os ofícios mais humildes, tão amante da solidão que só saía do convento por motivos de força maior, a ponta de lhe chamarem “a reclusa”.
O demônio continuou a persegui-la de forma implacável, mas sem êxito. Foi atacada pela lepra e outros sofrimentos físicos. No entanto, essas novas provações ainda tornaram mais heroica a paciência de Isabel, que nunca se queixava de nada, pelo contrário, louvava a Deus por tudo.
E Deus compensou as virtudes da sua humilde serva, favorecendo-a com êxtases e visões maravilhosas. Durante o concílio ecumênico de Constança prognosticou o fim do cisma do ocidente e a eleição do papa Martinho V. Jesus concedeu-lhe a graça de experimentar os sofrimentos da sua Paixão e de receber no corpo a impressão das Chagas. Por vezes a cabeça aparecia ferida por espinhos. No meio das dores, exclamava: “Obrigada, Senhor, por me fazeres sentir as dores da tua Paixão!”. As chagas apareciam apenas de vez em quando, mas os sofrimentos eram contínuos. O padre Conrado Kigelin, que foi sempre o seu diretor espiritual, deixou-nos uma biografia da sua dirigida, escrita por ele próprio. Isabel foi uma alma mística, rica de especiais carismas. Morreu a 25 de novembro de 1420, com 34 anos de idade.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Primeira Ordem (1676-1751). Canonizado por Pio IX no dia 29 de junho de 1867.
São Leonardo foi proclamado pela Igreja como Padroeiro das missões entre fiéis, pela orientação particular que deu ao seu apostolado e pela amplidão da sua obra missionária, que se estendeu a todas as cidades da península itálica. Nasceu em Porto Maurício, na Ligúria, e frequentou em Roma o colégio gregoriano. Entrou ainda jovem na ordem dos frades menores, e desde o noviciado propôs imitar o mais fielmente possível a vida de São Francisco. Veio a conseguir o seu intento, sobretudo na penitência, que raiava pelo heroísmo, na altíssima contemplação e no zelo apostólico.
Ordenado sacerdote, dedicou-se por mais de 40 anos à pregação, com grande proveito para os fiéis, escolhendo como temas as mais importantes verdades cristãs, seguindo também neste pormenor a exortação de São Francisco.
A simples apresentação da sua figura já constituía um bom princípio de pregação: austero, magro, ardente de fé e de amor. O seu estilo retórico, em conformidade com o costume da época valia-se de sinais exteriores destinados a causar impacto e mover à contrição e às lágrimas, apelando à sensibilidade. Neste clima se situa a grande devoção da Via Sacra, de que foi eminente divulgador. Deixou algumas obras escritas, desde simples esboços até tratados de ascética e de pregação.
A pregação de São Leonardo caracterizava-se por algo de dramático e até trágico. Multidões imensas acorriam a escutá-lo, e ficavam impressionadas pela sua palavra ardente, convidando à penitência e à piedade cristã. Dizia dele Santo Afonso Maria de Ligório, que era “o maior missionário do século”. Não era raro durante a sua pregação o auditório inteiro prorromper em pranto e em soluços. Pregou por toda a Itália, mas a região favorita foi a Toscana, por causa do jansenismo, que ele se propôs combater com todo o empenho, abordando para isso os temas que lhe pareceram mais eficazes: o nome de Jesus, a Virgem Maria e a Via Sacra. Quando ele fazia uma missão na Córsega, os bandidos desta atormentada ilha deram tiros para o ar gritando: “Viva Frei Leonardo! Viva a Paz!”.
Bastante desgastado pelos constantes trabalhos apostólicos, foi chamado a Roma, onde, em apaixonados sermões a que o próprio papa por vezes assistia, preparou o clima espiritual para o jubileu de 1750. Foi nessa altura que erigiu a Via Sacra no Coliseu, declarando sagrado aquele lugar onde muitos mártires tinham vertido o sangue por Cristo. No ano seguinte ainda se deslocou à região de Bolonha, para as suas últimas pregações.
Regressando a Roma, ao convento de São Boaventura no Palatino, a 26 de novembro, com 75 anos de idade, terminou a carreira terrena este incomparável missionário do povo cristão. As autoridades tiveram de recorrer às forças de segurança para controlarem a multidão dos devotos que queriam ver o Santo e levar relíquias dele. Foi a respeito dele que disse o papa Lambertini: “Perdemos um amigo na terra, mas ganhamos um Santo no céu”.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Primeira Ordem (1681-1742). Canonizado por João Paulo II no dia 13 de abril de 1986.
Francisco Antônio Fasani, natural de Lucera, na região italiana da Apúlia, era filho duma família de modestos lavradores. Sendo ainda muito novo, entrou na ordem franciscana, no convento de Lucera dos frades menores conventuais, e não tardou distinguir-se pela inocência de vida, espírito de penitência e pobreza, ardor seráfico e zelo apostólico, a ponto de parecer um São Francisco redivivo.
Fez o noviciado no convento do Monte Santo Ângelo, no Gárgano, e aí emitiu os votos de consagração ao Senhor em 1699. Quatro anos depois, para completar a formação, foi enviado para o Sacro Convento de Assis, onde foi ordenado sacerdote em 1705.
Dali passou ao colégio de São Boaventura, onde recebeu o título de mestre de teologia – e por isso daí em diante os seus conterrâneos de Lucera começaram a chamar-lhe de o “Padre Mestre”. Voltando para Assis, dedicou-se à pregação pelas aldeias, até que pouco depois voltou definitivamente à sua terra natal.
A partir da cátedra, do púlpito ou do confessionário, o seu apostolado era sempre intenso e fecundo. Percorreu todas as terras da Apúlia e arredores, merecendo o epíteto de “apóstolo da sua terra”. Profundo em filosofia e não menos em teologia, começou por ser leitor e prefeito de estudos no Colégio de Filosofia de Lucera. Depois foi mestre de noviços e guardião do convento, e sempre modelo de observância regular para os confrades, sendo por isso nomeado em 1721, por especial Breve de Clemente XI, ministro da Província religiosa de Santo Ângelo, que nesse tempo era muito extensa. Escreveu diversas obras de pregação, entre elas um “Quaresmal” e um “Marial”. A sua principal preocupação ao falar ao povo era fazer-se entender por todos. Por isso a sua catequese, tipicamente franciscana, era especialmente dirigida ao povo simples, pelo qual ele sentia particular atração.
Outra característica sua foi uma inesgotável caridade para com os pobres. Entre as diversas iniciativas, promoveu o simpático costume de recolher e distribuir prendas úteis para os pobres por ocasião do Natal. Também foi notável o seu zelo sacerdotal na assistência a presos e condenados à morte, a quem acompanhava até o lugar do suplício, para os consolar nos derradeiros momentos. Neste admirável ministério da caridade antecipou-se a São José Cafasso.
Mandou restaurar a bela igreja de São Francisco em Lucera, centro da sua incansável atividade sacerdotal durante 35 anos. Às pessoas de quem era diretor espiritual recomendava a devoção a Santíssima Virgem, em especial no privilégio da Imaculada Conceição.
Aos 61 anos de idade morreu onde nascera, em Lucera, a 29 de novembro de 1742, o primeiro dia da grande novena da Imaculada. O seu corpo é venerado na igreja de São Francisco.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Primeira Ordem (1391-1476). Canonizado por Bento XIII no dia 10 de dezembro de 1726.
Em conjunto com João de Capistrano, Bernardino de Sena e Alberto de Sarteano, Tiago das Marcas é uma das colunas da Observância Franciscana, a singular reforma da Ordem no século XV, que, opondo-se a um humanismo exagerado, propôs o retorno à vida pobre e simples e ao zelo apostólico que caracterizou o franciscanismo primitivo.
Nascido em 1391 em Montprandone (Piceno), desde muito novo se sentiu atraído pelo ideal franciscano, e vestiu o hábito dos frades menores no convento dos Cárceres, perto de Assis. Era tão propenso à mortificação, que o seu mestre de teologia e de vida espiritual, São Bernardino de Sena, teve de lhe recomendar certa moderação. Dotado de excepcionais dotes oratórios, uma vez ordenado sacerdote percorreu a Itália e grande parte da Europa a pregar a fiéis, hereges e infiéis, com abundantes frutos de conversão e reforma de costumes.
Recusou a oferta do arcebispado de Milão e foi conselheiro de papas e imperadores. Esteve ao serviço da santa Sé em numerosas missões, e sucedeu a São João de Capistrano como guia espiritual da cruzada contra os turcos.
Sendo um pregador de raras qualidades, exerceu essa forma de apostolado não apenas na Itália, mas ainda em países estrangeiros, como a Bósnia, a Boêmia e a Polônia. Estava em meio duma refeição quando lhe chegou às mãos a ordem papal de partir para a Hungria. Levantou-se imediatamente, sem acabar de comer, para cumprir a ordem recebida. Era assim a sua obediência, absoluta e instantânea.
Levava uma vida de rigor e austeridade. Durante o ano fazia nada menos de sete quaresmas, e nos outros dias a sua alimentação limitava-se a pequenas e pobres rações, como uma malga de favas simplesmente cozidas em água. O seu zelo pela castidade levava-o a disciplinar-se por vezes de noite, ao ser atormentado por tentações carnais. Enfermiço e debilitado pelos jejuns, por seis vezes recebeu a Unção dos Enfermos. Apesar disso resistiu até aos 80 anos na fatigante vida de pregador volante.
Os temas de sua pregação eram idênticos aos de São Bernardino, cauterizando em especial a avareza e a usura. Para combater esta praga social idealizou os Montes de Piedade ou Montepios, onde os pobres podiam empenhar os seus bens por um preço justo e com juros mínimos, ao contrário do que faziam os usuários privados.
No dia 28 de novembro de 1476, com 85 anos de idade, faleceu em Nápoles, onde se conservam os seus restos mortais na igreja de Santa Maria Nova. Apaixonado pelo estudo, traduziu muitas obras e compôs algumas de sua autoria, as quais nos permitem ter um conhecimento profundo da sua vida, da sua espiritualidade e da sua ação apostólica.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Total de membros das ordens franciscanas canonizados e beatificados, no fim do milênio, 482.
No aniversário da aprovação da regra de São Francisco por Honório III, no dia 29 de novembro de 1223. A ordem franciscana recolhe-se em oração festiva para contemplar a grandiosa árvore de santidade nascida daquele livrinho que Francisco dizia ter recebido do próprio Jesus e constituía a “medula do Evangelho”.
Era esse precisamente o projeto de vida e o carisma do pobrezinho: ser sal da terra e luz do mundo, fazer reviver na Igreja o Evangelho em sua pureza, ou seja, apresentar perante os homens a vida de Cristo em todas as suas dimensões: desde a pobreza ao zelo pela salvação de todos, do anúncio da Boa Nova ao sacrifício da cruz.
Quem poderia contar a imensa multidão de Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus – se quisermos utilizar esta terminologia canônica – ou melhor ainda, de todos os irmãos e irmãs, sem nome e sem rosto, que nos limites da sua fragilidade viveram a perfeição evangélica, fazendo da regra franciscana a norma da sua vida? É um imenso capital de santidade e de amor, muitas vezes desconhecido, outras vezes esquecido, quando não mesmo desprezado pelo mundo! O bem dá menos nas vistas do que o mal; no entanto, a história do bem, tantas vezes anônima e despercebida, tem escrito o nome e o rosto de Cristo. É essa história que impede o mundo de cair no desespero e fecunda as atividades da Igreja.
São Francisco disse um dia aos irmãos, numa explosão de alegria: “Caríssimos, consolai-vos e alegrai-vos no Senhor! Não vos deixeis entristecer pelo fato de serem poucos, nem vos assusteis da minha simplicidade nem da vossa, pois o Senhor me revelou que há de fazer de nós uma inumerável multidão e nos propagará até os confins do mundo. Ele me mostrou um grande número de pessoas a vir ter conosco, com o desejo de viverem segundo a nossa regra. Ainda me parece ouvir o ruído dos seus passos! Enchiam diversos caminhos, vindos de todas as nações: eram franceses, espanhóis, alemães, ingleses, uma turba imensa de várias outras línguas e nações”.
Ao ouvirem estas palavras, uma santa alegria se apoderou dos irmãos, pela graça que Deus concedia ao seu Santo.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.
Sacerdote da Primeira Ordem (1420-1503). Aprovou seu culto Leão XII no dia 26 de março de 1828.
Bernardino Amici, pregador e escritor franciscano, nasceu em 1420 em Fossa, perto de Áquila. Em Perúsia, onde se tinha formado em direito, ingressou nos frades menores em 1445. Viveu em vários conventos da Úmbria e dos Abruzos, mas a residência mais habitual foi em Áquila. Por três triênios o elegeram para ministro provincial da sua província, e também foi procurador geral da ordem na cúria romana. Tomou parte em vários capítulos gerais realizados em Áquila, Assis, Milão, Roma e Mântua. Várias vezes recusou o bispado de Áquila.
Foi célebre pregador, em Itália e não só; deu brado uma quaresma que pregou na Dalmácia em 1465. Nos últimos anos da vida divulgou alguns escritos seus de caráter teológico e histórico, mas a maior parte das suas obras ficou inédita.
Como filho fiel do seráfico pobrezinho e ardente ministro de Cristo, propôs-se seguir o trilho de São Bernardino de Sena, a quem várias vezes ouvira pregar e por quem ficara fascinado, em especial quando em 1438 ele pregou em Áquila sobre a Assunção de Maria em corpo e alma ao céu. A multidão imensa no meio da qual se encontrava Bernardino viu brilhar no céu uma estrela luminosa cujo esplendor superava o do sol.
De São Bernardino de Sena copiou o nosso frei Bernardino o espírito de fé e de recolhimento, a prudência, a humildade, a modéstia, o zelo ardente pela glória de Deus. Por isso o vemos a calcorrear cidades e mais cidades a pregar a palavra de Deus, suscitando por toda a parte o entusiasmo e obtendo numerosas conversões.
Durante oito meses esteve prostrado de cama, atormentado por terríveis sofrimentos, suportados como exemplar resignação. Até que um dia lhe apareceu o seu patrono São Bernardino de Sena, que lhe obteve do Senhor a cura completa.
Liberto dos compromissos que a ordem lhe confiara, regressou aos Abruzos e prosseguiu as lides apostólicas com renovado fervor. Fundou novos conventos, entre eles o de Santo Ângelo de Ocre na sua região natal, onde decidiu viver até avançada idade. Aos 83 anos, esgotado pelos trabalhos apostólicos e pela austeridade de vida, retirou-se ao convento de São Julião próximo de Áquila, a preparar-se para o encontro com a irmã morte, que sobreveio no dia 27 de novembro de 1503. Foi um digno filho de São Francisco e fiel imitador de São Bernardino de Sena, e Deus não deixou de avalizar a sua santidade com o dom dos milagres.
Fonte: “Santos Franciscanos para cada dia”, Ed. Porziuncola.