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Frei Mauro Johri: 'Agora é a hora de passar o leme para outra pessoa'

02/09/2018 - 08h22
Em última entrevista para o Brasil, Frei Mauro Jöhri faz um balanço dos doze anos que comandou a Ordem e aponta perspectivas para o futuro

Termina no dia 3 de setembro o mandato do atual Ministro Geral, Frei Mauro Jöhri. O suiço de 71 anos, completados durante o Capítulo, foi o responsável por conduzir por 12 anos os trabalhos de uma Ordem mundial com mais de 10 mil frades. Enfrentou problemáticas como a redução do número de vocações e o desafio de iniciar a discussão da criação de um documento sobre a unificação da formação de novos frades, a Ratio Formationis. Frei Mauro foi Ministro Provincial dos capuchinhos na Suíça, em 1995. Em 2004, a cúria geral o chamou para uma comissão de reelaboração das Constituições e dos Estatutos da Ordem. Foi eleito pela primeira vez Ministro Geral em 2006 e reeleito em 2012.

Em sua última entrevista para o Brasil como Ministro Geral, falou ao Vida Fraterna, boletim dos Capuchinhos de São Paulo, sobre diversos assuntos:

VF: Em outubro de 2014 você publicou uma carta circular sobre ‘Identidade e Pertença’, lá faz alguns questionamentos. Após 12 anos como Ministro Geral, você encontrou respostas para estas questões que envolvem a identidade e pertença dos frades? 

A carta “Identidade e pertença capuchinha” nasceu de uma frase do Papa Francisco, quando disse que não há identidade sem pertença. Naquela carta eu quis estimular os frades a interrogar-se sobre a nossa identidade não de modo abstrato, mas concreto. Faz parte um pouco do meu estilo o fato de levantar perguntas aqui e ali, fazer questionamentos... Desejo que quem leia se sinta interpelado. Procure responder. Neste sentido não recebi respostas para as perguntas que eu fiz no texto, porém, a carta teve uma boa acolhida e serviu para estimular o diálogo entre os frades nos vários momentos de encontro. Creio que já é um bom resultado!

A selfie histórica com FranciscoVF: Afinal, hoje, quem são os Frades Menores Capuchinhos? Qual a principal marca de vocês?

Somos o ramo do franciscanismo que surgiu no primeiro semestre de 1500. Mas hoje muitas coisas mudaram. As maiores mudanças foram depois do Concílio Vaticano II. Somos e queremos ser em primeiro lugar uma Ordem de irmãos que vivem em minoridade. Viver a fraternidade e suscitar a fraternidade deveria ser uma das nossas características principais. A minoridade deveria nos levar a ser particularmente próximo as todas as formas de pobreza que caracterizam as nossas sociedades. Nos distingue a simplicidade no estar vizinho a gente comum. 

VF: Quais são os maiores desafios enfrentados pela Ordem nos últimos 12 anos em que esteve à frente e quais desafios imagina que o próximo Ministro Geral terá?

Um desafio é manter unida uma Ordem presente em centenas de países de diversas culturas. No momento me parece que há um bom sentido de pertença embora estejam inseridos em campos muito diferentes. Agora, é uma questão de manter e reforçar esta unidade no que diz respeito à pluralidade das diferentes culturas. Ao mesmo tempo se trata de favorecer a colaboração entre os frades dos vários continentes. Hoje o crescimento está principalmente na Ásia e na África enquanto vemos uma forte diminuição em muitos países europeus, onde se torna importante garantir a continuidade de algumas presenças com frades que vêm de fora.

Frei Mauro fala aos capitulares, em RomaVF: Estive na ALAC, em Lima, no começo deste ano, e um de seus conselheiros ao ser questionado sobre a contribuição que a América Latina pode oferecer à Ordem brincou “esperamos um Ministro Geral latino-americano”. Em sua opinião, qual a contribuição dos frades latinos para a Ordem e qual a possibilidade de um dia termos um latino-americano como Ministro Geral?

Para mim a questão não é tanto a proveniência, mas a competência exigida ao irmão chamado a assumir o papel de Ministro Geral. É preciso que ele tenha uma visão global e que esteja disposto a viajar muito para conhecer a Ordem nos mais variados contextos além de ter um certo carisma para animar a Ordem do ponto de vista espiritual. É importante que saiba escolher os colaboradores capazes de cumprir as múltiplas exigências de um organismo internacional como o nosso. Se há um candidato sul-americano que transmita essas e outras qualidades, ele certamente será eleito Ministro Geral!

VF: Você teve a oportunidade de visitar o Brasil algumas vezes, inclusive no Capítulo Provincial de São Paulo, em 2013. Qual a impressão que tem do nosso país? Como enxerga a Ordem por aqui, diante da pluralidade de um país continental?

Certo que o Brasil é grande e complexo e isto se reflete também entre os capuchinhos. O Norte não é o Sul e vice-versa. É interessante ver o desafio deixado pelos frades vindos das várias Províncias europeias há mais de cem anos. Em geral, os frades estão muito ocupados no nível paroquial. Me agrada as atividades das equipes itinerantes que se dedicam à pregação das missões populares.  Eu me pergunto se já foi feito o suficiente sobre o que aconteceu no passado recente com os projetos de inclusão em ambientes pobres e populares, que eu acho que foram abandonados.

Frei Mauro e Frei Sigrist

VF: Uma conclusão sobre seu período como Ministro Geral e uma saudação aos frades paulistas. 

Foram anos desafiantes, mas também muito belos. Dei o máximo que pude e recebi muito no encontro com os frades, nos vários contextos, vendo que vivem com alegria e dedicação em suas missões. Agora é a hora de passar o leme para outra pessoa que, com nova força e vigor, afronte os desafios do momento. À Província de São Paulo desejo e peço que estejam perto dos pobres, inspirando-se na bela figura de frade que foi Frei Francisco Sigrist, o frade da vossa Província que conheci no longínquo mês de junho do 1991.


A eleição do novo Ministro Geral acontecerá amanhã, às 9h30 no horário de Roma, 4h30 da manhã no horário de Brasilia. 

Entrevista completa será publicada no boletim dos capuchinhos de SP.
Colaboraram: Frei Pedro Cesar, Frei José Gomes, Frei Ricardo Aparecido e Frei Pawel Teperski

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Paulo Henrique (Assessoria de Comunicação e Imprensa, São Paulo - SP)

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