Bem-aventurado Luquésio de Poggibonsi
Da Terceira Ordem (1181-1260). Inocêncio XII em 1694 concedeu ofício e missa em sua honra.
O Val d’Elsa, então território florentino, foi a terra natal de Luquésio ou Lúcio, o primeiro terceiro franciscano. Passou a sua juventude mergulhado em interesses mundanos, especialmente na política e na procura de riquezas. Tornou-se tão impopular com seu violento partidarismo em prol da causa dos guelfos, que achou mais prudente sair de Gaggiano, sua terra natal, e estabelecer-se em Poggibonsi, onde continuou seus negócios como fornecedor de mantimentos e prestamista. Entre 30 e 40 anos de idade, sobreveio uma mudança em sua vida, em parte como conseqüência da morte de seus filhos. Seu coração foi tocado pela graça divina, e ele começou a ter interesse pelas obras de caridade, como a assistência e o cuidado dos enfermos e a visita às prisões. Renunciou inclusive a todos os seus bens em favor dos pobres, com exceção de um pedaço de terra que resolveu cultivar com suas próprias mãos.
Pouco tempo depois São Francisco de Assis foi a Poggibonsi. O santo vinha considerando já algum tempo a necessidade de criar uma associação para pessoas que desejassem viver a vida religiosa no mundo, mas, como se narra, Luquésio e sua mulher Bonadonna foram, na verdade, o primeiro homem e a primeira mulher a receber das mãos do Seráfico Pai o hábito e o cordão da Ordem Terceira. A partir daquele momento os dois se entregaram a uma vida de penitência e de caridade. Algumas vezes Luquésio chegava ao ponto de dar aos pobres até mesmo qualquer resto de comida que houvesse em casa. No começo Bonadonna reclamava, porque ela não se alçara de imediato a uma confiança tão perfeita na Providência divina como o marido, mas a experiência depois lhe ensinou que Deus não deixa faltar o pão quotidiano a seus servos fiéis.
Seu marido alcançou um alto grau de santidade e foi favorecido com êxtases e com o dom de curar. Quando se tornou evidente que ele já não tinha muito tempo para viver, sua mulher lhe suplicou que ele esperasse um pouquinho por ela, para que ela, que tinha partilhado de seus sofrimentos aqui na terra, pudesse também tomar parte em sua felicidade no céu. Seu desejo foi atendido, e ela morreu pouco antes de seu marido ir receber sua recompensa eterna. O culto do Beato Luquésio foi confirmado em 1694.
Embora, ao que parece, a vida do Beato Luquésio tenha sido escrita por um contemporâneo, infelizmente não chegou até nós, e nós dependemos daquela que foi compilada por Frei Bartolomeu Tolomeí, um século depois, e publicada em “Acta Sanctorum”, abril, voI. lII. Note-se que esse texto jamais afirma claramente que Luquésio e sua mulher tenham sido os primeiros a receber o hábito como terceiros; ele sugere, antes, o contrário. Vejam-se também F. van den Borne, Die Anfiinge des Franziskanischen Dritten Ordens (1925), e Léon, Auréole séraphique (trad. para o inglês), vol. II, p. 131·137.