Selecione

93. Quaresma no Alverne

Texto Original

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1 Quodam tempore ivit beatus Franciscus ad heremitorium montis Alverne; 
2 et quia valde remotus est locus ille, tantum placuit ei quod voluit ibi facere quadragesimam ad honorem sancti Michaelis. 
3 Iverat autem illuc ante festum Assumptionis gloriose virginis Marie, et numeravit dies a festo sancte Marie usque ad festum [sancti] Michaelis, quod essent quadraginta dies, 
4 et ait: “Ad honorem Dei et beate Virginis Marie, matris eius, et beati Michaelis, angelorum principis et animarum, volo hic facere quadragesimam”. 
5 Et factum est, dum introisset in cellam ad manendum in ea continue, rogavit Dominum in prima nocte, ut sibi ostenderet in aliquo quod cognoscere posset utrum esset voluntas sua quod maneret ibi. 
6 Nam beatus Franciscus semper sollicitus fuit, cum staret in aliquo loco continue ad orationem vel cum iret per mundum predicando, cognoscere voluntatem Domini, secundum quam sibi magis placere posset; 
7 quia quandoque timebat ne, sub specie remotius manendi in oratione, corpus vellet quiescere recusando laborem eundi per mundum ad predicandum, pro quo Christus de celo in hunc mundum descendit; 
8 immo, qui sibi dilecti a Domino videbantur, hos faciebat rogare Dominum ut ostenderet illis suam voluntatem, utrum deberet ire per mundum predicando, an aliquando maneret in aliquo remoto loco ad orationem. 
9 Et summo mane in aurora, cum staret in oratione de diversis generibus aves venerunt super cellam ubi manebat, non coadunate simul, sed prius veniebat una et cantabat, dulcem faciendo versum suum, et postea recedebat; 
10 et alia veniebat et cantabat et recedebat; et sic omnes fecerunt. 
11 Et plurimum de hoc admiratus est beatus Franciscus et habuit inde maximam consolationem; sed cepit meditari quid hoc esset. 
12 Et dictum fuit ei a Domino in spiritu: “Hoc signum est quod Dominus bene faciet tibi in cella ista et multas dabit consolationes”. 
13 Quod ita verum fuit; nam inter alias multas consolationes occultas et manifestas, quas sibi contulit Dominus ostensa est sibi a Domino visio Seraphyn, de qua multam habuit consolationem in anima sua inter se et Dominum toto tempore vite sue. 
14 Et factum est, dum socius eius portaret ei comestionem narravit ei omnia que sibi acciderant. 
15 Et licet habuerit multas consolationes in cella illa, multas [tamen] tribulationes fecerunt sibi de nocte demones, sicut idem socio suo narravit. 
16 Unde quadam vice dixit: “Si scirent fratres quot tribulationes faciunt michi demones, nullus esset illorum quin pietatem magnam et compassionem de me haberet”. 
17 Et ideo sicut multotiens dixit sociis suis, non poterat de se satisfacere fratribus et ostendere illis aliquando familiaritatem sicut fratres desiderabant.

Texto Traduzido

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1 Certa ocasião, o bem-aventurado Francisco foi ao eremitério de Monte Alverne; 
2 e como o lugar era muito afastado, ele gostou tanto que quis fazer aí a quaresma em honra de São Miguel. 
3 Pois fora para lá antes da festa da Assunção da gloriosa Virgem Maria, e contou os dias desde a festa de santa Maria até a festa de São Miguel, eram quarenta dias. 
4 E disse: “Em honra de Deus e da bem-aventurada Virgem Maria, sua mãe, e do bem-aventurado Miguel, príncipe dos anjos e das almas, quero fazer aqui uma quaresma”. 
5 E aconteceu que, quando entrou na cela para lá ficar continuamente, rogou ao Senhor na primeira noite que lhe mostrasse de alguma maneira como poderia saber se era sua vontade que ficasse ali. 
6 Pois o bem-aventurado Francisco sempre foi solícito, quando estava em algum lugar continuamente em oração, ou quando saía pelo mundo em pregação, em conhecer a vontade do Senhor, segundo a qual mais pudesse agradá-lo. 
7 Porque algumas vezes temia que, com a desculpa de ficar mais afastado para orar, o corpo quisesse descansar, recusando o trabalho de ir pregando pelo mundo, pois para isso Cristo desceu do céu ao mundo.
8 Até mais, os que lhe pareciam amados pelo Senhor, fazia-os rogar ao Senhor que lhes mostrasse sua vontade, se devia sair pelo mundo pregando ou de vez em quando tinha que permanecer em algum lugar remoto para orar. 
9 Bem cedo, na aurora, quando estava em oração, vieram pássaros de diversos tipos para cima da cela onde ficava, não todos juntos, mas primeiro vinha um e cantava, demonstrando o seu doce verso, e depois ia embora. 
10 Depois vinha outro, cantava e ia embora; e assim fizeram todos. 
11 O bem-aventurado Francisco ficou muito admirado com isso e teve a maior consolação, mas começou a meditar sobre o que seria isso. 
12 E foi dito pelo Senhor em espírito: “Isso é sinal de que o Senhor vai te fazer o bem nessa cela e vai dar-lhe muitas consolações”. 
13 E essa foi a verdade; pois entre muitas outras consolações ocultas e manifestas, que deus lhe fez, foi-lhe mostrada por Deus a visão de um Serafim, da qual teve muita consolação em sua alma, entre ele mesmo e o Senhor durante todo o tempo de sua vida. 
14 E aconteceu que, quando seu companheiro levou-lhe a comida, ele contou tudo que lhe tinha acontecido. 
15 E embora tivesse muitas consolações naquela cela, os demônios também lhe causaram muitas tribulações, como contou ao mesmo companheiro. 
16 Por isso, uma vez, disse: “Se os frades soubessem quantas tribulações me fazem os demônios, não haveria nenhum deles que não tivesse muita piedade e compaixão de mim”. 
17 E por isso, como disse muitas vezes aos seus companheiros, ele não podia prestar as satisfações e mostrar-lhes de vez em quando sua familiaridade, como os frades desejavam.