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Milagres VI

Texto Original

Miraculis VI

VI - De liberatis a periculo partus.

 

1 
1 Comitissa quaedam in Sclavonia, sicut nobilitate illustris, sic et aemula probitatis, erga sanctum Franciscum devotione flagrabat, erga Fratres vero sedula pietate. 
2 Tempore partus duris pervasa doloribus, tanta fuit molestata angustia, ut prolis futurus ortus praesens videretur matris occasus. 
3 Non videbatur infantem eniti posse ad vitam, nisi exspiraret e vita, nec tali nisu parere, sed perire. 
4 Subvenit cordi eius sancti Francisci fama, virtus et gloria (cfr. Apoc 19,1), excitatur fides, inflammatur devotio. 
5 Convertit se ad auxilium efficax, ad fidum amicum, ad devotorum solatium, refugium afflictorum: 
6 “Sancte Francisce”, inquit, ”pietati tuae supplicant omnia ossa mea (cfr. Ps 34,10), et mente voveo quod explicare non possum”. 
7 Mira celeritas pietatis! Finis dicendi finis fuit dolendi, parturiendi meta, pariendi principium. 
8 Statim enim omni cessante pressura, partum edidit cum salute. 
9 Non fuit immemor voti, non propositi refuga. 
10 Ecclesiam quamdam pulchram construi fecit et constructam ad Sancti honorem fratribus assignavit.

 

2 
1 In partibus Romanis mulier quaedam, Beatrix nomine, vicina partui, cum per dies quatuor foetum in ventre portaret exstinctum, multis infelix agitabatur angustiis et exitialibus doloribus urgebatur. 
2 Mortuus foetus matrem cogebat ad mortem, et nondum in lucem proditum abortivum, publicum matris periculum pariebat. 
3 Tentabat medicorum auxilium, sed omne humanum remedium laborabat in vanum (cfr. Ps 126,1). 
4 Sic de primis maledictionibus copiosius aliquid declinarat in miseram, ut, sepulcrum facta conceptus, sepulcrum pro certo proximum exspectaret (cfr. Ier 20,17; Iob 3,21.22). 
5 Fratribus tandem Minoribus per internuntios tota se devotione committens, suppliciter aliquid de sancti Francisci reliquiis fide plena poposcit. 
6 Contigit, nutu divino aliquantulum inveniri de chorda, qua fuerat Sanctus quandoque praecinctus. 
7 Mox, ut super dolentem posita chorda fuit, omnis facillime solutus est dolor, mortis causa mortuus foetus emissus, pristina sanitas restituta.

 

3 
1 Cuiusdam de Carvio nobilis viri uxor, Iuliana nomine, pro filiorum morte annos trahebat lugubres et continue infelices deplorabat eventus, pro eo quod omnes quos cum pressura portaverat filios, modico interiecto tempore, cum vehementiore dolore sepulturae tradiderat. 
2 Cum igitur quatuor mensium conceptum haberet in utero (cfr. Mat 1,23) magisque propter eventus praeteritos de conceptae prolis sollicitaretur obitu quam de ortu, beatum Patrem Franciscum pro vita nondum nati foetus fideliter precabatur. 
3 Ecce autem, nocte quadam dormienti sibi mulier quaedam apparebat in somnis (cfr. Mat 1,20), formosum puerulum gestans in manibus, illumque laetissime offerebat eidem. 
4 Cum vero illa recipere recusaret, quem statim formidabat amittere, mulier illa subiunxit: ”Secure suscipias, quia quem, tuo moerori compatiens, sacer mittit Franciscus, vita vives et sospitate gaudebit”. 
5 Statim evigilans mulier intellexit per ostensam sibi caelitus visionem, beati Francisci sibi adesse suffragium, et ex tunc abundantiore completa laetitia, pro suscipienda prole iuxta promissum multiplicavit preces et vota promisit. 
6 Impletum est denique tempus pariendi, et peperit (cfr. Luc 1,57) femina masculum, qui iuvenilis robore florens aetatis, tamquam per beati Francisci merita fomentum susciperet vitae, incitamentum parentibus praebuit ad Christum et Sanctum eius devotioris affectus. 
7 Simile quiddam huic in Tiburis civitate beatus Pater effecit. 
8 Cum enim mulier quaedam filias plurimas peperisset, desiderio prolis fatigata virilis, apud sanctum Franciscum preces ingeminavit et vota. 
9 Concepit igitur eius meritis mulier illa, et geminos ei parere dedit qui pro uno fuerat exoratus.

 

4 
1 Apud Viterbium partui propinqua mulier morti propinquior censebatur, visceralibus tormentata doloribus et tota calamitosa infortuniis mulierum. 
2 Cumque naturae succumbente virtute, omnis deficeret artis industria, invocato beati Francisci nomine, liberata confestim mulier, partum salubriter terminavit; 
3 sed assecuta quod voluit et oblita beneficii, quod accepit honori Sancti non deferens, die natalis ipsius ad opera servilia (cfr. Lev 23,7) manus extendit (Prov 31,20). 
4 Et ecce, subito dextrum brachium ad laborem extensum inflexibile remansit et aridum. 
5 Quod cum studeret ad se revocare cum altero, ultione consimili et illud exaruit. 
6 Timore igitur divino correpta, mulier redintegravit votum usumque membrorum, quem propter ingratitudinem amiserat et contemptum, per misericordis et humilis Sancti merita, cui se iterato devovit, recuperare promeruit.

 

5 
1 Mulier quaedam de partibus Aretinis, cum per septem dies partus discrimina sustineret, et iam in nigredinem versa, desperata esset ab omnibus, votum fecit beato Francisco et eius coepit morienis auxilium invocare. 
2 Emisso autem voto, celeriter obdormivit viditque in somnis (cfr. Gen 28,12) beatum Franciscum se dulciter alloquentem ac requirentem, utrum faciem ipsius agnosceret, et an antiphonam illam Virginis gloriosae: ”Salve, Regina misericordiae” sciret ad honorem eiusdem Virginis recitare. 
3 Qua respondente, se habere notitiam de utrisque: ”Incipe”, ait Sanctus, ”antiphonam sacram, et antequam compleas, paries cum salute”. 
4 Ad hanc vocem evigilavit mulier et cum timore coepit dicere: ”Salve, Regina misericordiae”. 
6 Cumque illos misericordes oculos precaretur fructumque commemoraret uteri virginalis, continuo cunctis liberata pressuris, infantem peperit speciosum, gratias agens Reginae misericordiae, quae per beati Francisci merita ipsius dignata fuerat misereri.

Texto Traduzido

Miraculis VI

VI – Sobre as libertadas do perigo do parto.

 

1 
1 Uma condessa da Eslavônia era tão ilustre pela nobreza como eminente pela virtude, tinha fervorosa devoção a São Francisco e piedosa solicitude pelos frades. 
2 Presa de fortes dores, na hora do parto, foi molestada por tamanha angústia que parecia que o eminente nascimento da prole ameaçava a morte da mãe. 
3 Não parecia que a criança pudesse sair para a vida a não ser que ela expirse da vida, e que, pelo esforço, ia perecer e não parir. 
4 Lembrou-se, então, da fama, virtude e glória de São Francisco, excitando sua fé e inflamando sua devoção. 
5 Voltou-se para o auxílio eficaz, para o fiel amigo, para a consolação dos aflitos. 
6 Disse: “São Francisco, todos os meus ossos suplicam pela tua piedade e prometo com a mente o que não posso explicar”. 
7 Admirável rapidez da piedade! Acabou de falar e acabou de sentir a dor, quis parir e começou a dar à luz. 
8 Pois, na mesma hora, cessaram todas as pressões e teve o parto com saúde. 
9 Não se esqueceu do voto nem deu para trás com o propósito. 
10 Fez construir uma igreja bonita e, quando ficou pronta, entregou-a aos frades em honra do santo.

 

2 
1 Na região da România, uma mulher chamada Beatriz estava próxima ao parto e, como já fazia quatro dias que levava no ventre um feto morto, a infeliz estava agitada por muitas angústias, sofrendo dores mortais. 
2 O feto morto obrigava a mãe a morrer, e antes de sair à luz paria um perigo evidente para sua mãe. 
3 Os médicos tentaram ajudar, mas todo remédio humano era em vão. 
4 Caía assim sobre a coitada algo copioso da maldição dos primeiros pais porque convertida em sepulcro do fruto de suas entranhas, era certo que estava esperando para breve o seu próprio sepulcro. 
5 Confiando-se, finalmente, com toda devoção, aos frades menores, através de mensageiros, pediu suplicantemente que lhe dessem alguma coisa das relíquias de São Francisco. 
6 Aconteceu, por permissão divina, que encontraram um cordão que o santo tinha usado alguma vez. 
7 Logo que puseram a corda sobre a doente, toda dor acabou com muita facilidade, a causa da morte, que era o feto morto, saiu, e a mãe foi restituída à saúde anterior.

 

3 
1 A esposa de um nobre de Calvi, chamada Juliana, durante anos, por causa da morte dos filhos, carregava e lamentava continuamente lúgubres acontecimentos, porque todos os que tinha carregado com sofrimento, passado pouco tempo, teve que entregar à sepultura com dor ainda maior. 
2 Então, como já tinha um concebido em seu seio havia quatro meses, vivia mais preocupada com a morte do que com o nascimento do filho, pelo que acontecera no passado, pedia fielmente ao bem-aventurado pai Francisco pela vida do feto ainda não nascido. 
3 Eis que uma noite, quando ela estava dormindo, apareceu em sonhos uma mulher, carregando um menininho muito bonito, oferecendo-o a ela com alegria. 
4 Como ela se recusava a recebe-lo, pois temia perde-lo logo depois, a mulher acrescentou: “Recebe-o com segurança; São Francisco, compadecido de tua tristeza, manda-te este menino, que vai vier e gozar de saúde”. 
5 Despertando na mesma hora, a mulher compreendeu que tinha recebido o auxílio de São Francisco, pela visão que lhe fora mostrada e, a partir daí, cheia da mais abundante alegria, multiplicou preces e fez votos para acolher o filho de acordo com o que fora prometido. 
6 Completou-se, finalmente, o tempo de dar à luz, e a mulher pariu um menino, que, ao crescer cheio de vigor juvenil, como se pelos méritos de São Francisco estivesse recebendo fomento para a vida, trouxe aos pais um estímulo para um afeto mais devoto a Cristo e ao santo. 
7 O bem-aventurado pai fez algo semelhante a isso na cidade de Tívoli. 
8 Pois, como uma mulher tivesse tido muitas filhas, cansada pelo desejo de ter um menino, redobrou preces e votos a São Francisco. 
9 A mulher concebeu por seus méritos e ele deu-lhe gêmeos no lugar do único que fora pedido.

 

4 
1 Em Viterbo, uma mulher que estava próxima do parto parecia mais perto da morte, atormentada por dores nas entranhas e padecendo a calamidade dos infortúnios femininos. 
2 Tendo sucumbido a força da natureza e sendo incapaz toda a arte da medicina, foi invocado o nome de São Francisco e a mulher ficou livre na mesma hora, terminando saudavelmente o parto. 
3 Mas, tendo conseguido o que queria, esqueceu-se do benefício. Não rendeu ao santo a honra devida, dedicando-se a trabalhos servis no dia de sua festa. 
4 E is que, de repente, seu braço direito, estendido para o trabalho, ficou duro e seco. 
5 Quando quis puxá-lo com o outro, ele também secou pelo mesmo castigo. 
6 Tomada pelo temor de Deus, a mulher refez o voto e, pela misericórdia e merecimentos do humilde santo, a quem se consagrou de novo, mereceu recuperar o uso dos membros, que tinha perdido por ingratidão e desprezo.

 

5 
1 Uma mulher da região de Arezzo tinha suportado por sete dias as dificuldades do parto e, já começando a ficar escura, desesperada de tudo, fez um voto ao bem-aventurado Francisco e, moribunda, começou as invocar seu auxílio. 
2 Mas logo que fez o voto começou a dormir e viu em sonhos o bem-aventurado Francisco falando com ela docemente e perguntando se era capaz de reconhecer seu rosto e sabia rezar aquela antífona da Virgem gloriosa: “Salve, Rainha de misericórdia”, feita em sua honra. 
3 Como ela respondeu que sabia as duas coisas, o santo disse: “Começa a antífona sagrada; antes de acabá-la vais parir com saúde”. 
4 Ouvindo essa voz, a mulher acordou e começou a dizer com temor: “Salve, Rainha de misericórdia”. 
5 Quando ela estava suplicando àqueles olhos misericordiosos e recordando o fruto do útero virginal, foi imediatamente libertada de todas as pressões, deu à luz um menino bonito, dando graças à Rainha de misericórdia, que, pelos méritos do bem-aventurado Francisco, dignara-se ter misericórdia dela.