O dom da Paz dos Franciscos
Até onde se pode ir, para alcançar a paz?
Com essa questão, ouso levantar essa reflexão. Não sou de fazer postagens dando resposta as inúmeras murmurações – maldizer, conceber mau juízo – que se veem no mundo virtual. Mas, hoje me senti impelido, afinal, falar de paz na Santa Igreja Católica é também recordar aquele o qual desejo imitar o ideal, o Seráfico Pai São Francisco, promotor da paz e do bem. E como alguém que luta para ser um bom filho de Francisco, não posso me omitir diante da ofensa ao gesto de paz, proposto pelo Pontífice de minha fé – o Santo Padre Francisco.
Destarte, relembro dois pontos – em paralelo a dupla dimensão da união hipostática do Salvador.
Primeiro: não esqueçamos que Deus Onipotente, Senhor do Céu e da Terra; o Deus de nosso pais, ao assumir a natureza humana, se fez servo da raça humana. Ele que tudo criou e tudo governa, se fez obediente, pobre e casto. Comendo com os pecadores, caminhando por entres os enfermos, sendo tocado pelos impuros, falando aos que eram tidos como escória da sociedade, lavando os pés daqueles que Ele mesmo criara. Ele nos revelou (Cf. Mc 2,17) que "os sãos não precisam de médico, mas os enfermos; não vindo chamar os justos, mas os pecadores”.
Mas, tudo isso em nome de quê? Por quê?
A resposta é simples, por causa da paz que veio anunciar.
O profeta Isaías, já havia anunciado um dos epítetos do Messias: “Ele será o Príncipe da Paz” (cf. Is 9,5).
O pecado da raça humana privou o mesmo ser da harmonia com seu Criador, ou seja, do seu estado original de paz. O Catecismo nos ensina que Deus pelo Sacramento da Penitência, nos concede na absolvição sacramental do sacerdote, o “perdão e a paz” (Cf. CIC 1424), se assim é, a falta de paz é consequência do pecado. Dessa forma, podemos atestar que a “paz” é também harmonia com Deus, é estado de graça. Nos diz o Divino Salvador no Sermão da Montanha: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).
O ato de rebaixar frente aos que "pensam" ter poder, faz parte do Projeto Salvífico de Deus. Na “kenosis divina”, vemos “o que é loucura no mundo, Deus escolhe para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus escolhe para confundir o que é forte” (Cf. 1Cor 1,27). E isto é credibilizado pelo evento da Encarnação do Divino Verbo. A Encarnação é sinônimo de paz, e não é retórica ao dizermos isto; basta lembrar o canto dos anjos no Evangelho de Lucas – ao Natal do Senhor – "Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama" (2,14). No nascimento do Cristo, a paz já é anunciada. O dom da paz é divino. É fruto do Espírito Santo (Cf. Gl 5,22).
Segundo: o desejo de paz para com os homens, é cerne do Plano Divino da Salvação, pois é colocar o ser humano de volta ao “estado de paraíso” – oposto ao estado de pecado/guerra.
Nossos “irmãos mais velhos na fé” – Judeus – compreendem muito bem o valor e importância da paz para o ser humano, se tornando fundamental esse desejo, que é expresso na essencial saudação “shalom”.
Jesus Cristo, deseja que o ser humano tenha vida, e vida em abundância (Cf. Jo 10,10). Viver bem, viver em paz, é o desejo de nosso Deus. Nos primórdios de nossa fé, já encontramos esse desejo, podemos verificar em nosso primeiro Papa, que nos exorta a viver bem, e para isto, nos aconselha a buscar a paz e segui-la (Cf. 1Pd 3,11). Assim sendo, a paz é característica da pessoa humana em sua plena realização.
Podemos assim, constatar que por Sua Encarnação os anjos anunciam a paz. Durante sua vida pública, ao caminhar ao lado e com os homens, Ele ensina a importância da paz nas casas (famílias), pois diz-nos “em qualquer casa que entrardes, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa!’” (Lc 10,5). E por fim, em sua Gloriosa Ressurreição, o Divino Redentor deixou-nos o dom de sua Ressureição, a reconciliação do gênero humano com o Criador. O homem consegue novamente entrar no estado verdadeiro de paz, através do Mistério Pascal do Senhor. Assim Ele nos diz, “a paz esteja convosco!”(Cf. Lc 24,36; Jo 20,19).
A união hipostática do Verbo, o evento da junção do Divino com o Humano que se dá em Jesus Cristo, de fato, também é um projeto de paz para todos!
Por fim, recordo nosso Seráfico Pai, que ensina-nos a nós seus herdeiros espirituais, que devemos promover a paz entre toda a criação, mas que para isso, devemos primeiramente ter a paz conosco – “Assim como proclamais a paz com a boca, assim em maior medida a tenhais nos vossos corações” (LTC 58,4). O tema da paz é muito caro ao Poverello de Assis, em seus escritos e principalmente em suas hagiografias, vemos claramente essa importância. Não é novidade o que Francisco de Assis realizou, afinal, encontramos nos Evangelhos essa necessidade de paz, e tendo-o como Regra de Vida o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ele não poderia deixar de cumprir esse mandato do Senhor. Celano nos diz: “Em toda pregação sua, antes de propor a palavra de Deus aos que estavam reunidos, invocava a paz, dizendo: ‘O Senhor vos dê a paz!’”(1Cel 23,6).
Se o primeiro “João” anunciou a “a penitência e a conversão” para o perdão dos pecados (Cf. Lc 3,3-14); este segundo “João” (2Cel 3,1), anunciou a “paz e a penitência”. Com essas palavras ele exortava os seus: “ide, caríssimos, dois a dois para as quatro partes do mundo, anunciando aos homens a paz e a penitência para a remissão dos pecados” (1Cel 29,3). Na expressão “quatro partes do mundo”, São Francisco nos ensina que a paz é dom universal do gênero humano, todos merecem e devem viver em paz, mesmo que seguindo meramente a razão, não acreditem que a verdadeira paz provém de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. O Poverello de Assis compreendeu perfeitamente esse dom da paz, por isso lhe valeu o merecido título de “grande arauto da paz!”.
Resta-nos pedir a Santíssima Virgem Maria, Rainha da Paz, que venha em socorro de nossa miserável prepotência e orgulho, ao querer julgar o ato daqueles que defendem a verdadeira paz entre todos os povos.