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Capítulo 102

Texto Original

Caput 102

Qualiter praevidit casum fratris qui nolebat confiteri sub specie silentii.

 

1 Fuit quidam frater honestae et sanctae conversationis exterioris, qui die noctuque videbatur sollicitus circa orationem; 2 et silentium sic observabat continuum quod aliquando, cum sacerdoti confiteretur, solis signis quibusdam et non verbis confitebatur. Ita enim videbatur esse devotus et fervens in dilectione Dei quod sedens aliquando cum fratribus, licet non loqueretur, audiendo tamen bona verba, interius et exterius mirabiliter laetabatur, ita quod ex hoc saepe ad devotionem fratres alios attrahebat.
5 Cum autem pluribus annis in conversatione hujusmodi perstitisset, accidit ut beatus Franciscus veniret ad locum ubi ille manebat. 6 Qui cum audisset a fratribus conversationem illius, dixit eis: “Sciatis inveritate (cfr. Mat 22,16) quoniam diabolica tentatio est quia non vult confiteri”.
7 Interim generalis minister venit illuc visitare beatum Franciscum, et coepit illum commendare coram beato Francisco. Et ait illi beatus Franciscus: “Crede mihi, frater, quoniam a maligno spiritu ducitur et decipitur iste frater”.
Dixit generalis minister: “Mirum mihi videtur et quasi incredibile quod hoc possit esse de homine qui habet tot signa et opera sanctitatis”. 9 Et dixit ei beatus Franciscus: “Proba ipsum, dicens illi ut saltem semel vel bis confiteatur in hebdomada. Si autem te non audierit, scias verum esse quod dixi tibi”.
10 Dixit ergo generalis minister illi fratri: “Frater, volo penitus quod bis, vel semel ad minus, confitearis in hebdomada”. 11 Ille autem posuit digitum super os suum, ducens caput et ostendens per signa quod nullatenus hoc faceret amore silentii. Minister vero, timens illum scandalizare, dimisit eum.
12 Et non post multos dies (cfr. Luc 15,13)voluntate propria, egressus est ordinem frater ille, et rediit ad saeculum, portans habitum saecularem.
13 Factum est autem dum quadam die duo ex sociis beati Francisci ambularent per quamdam viam, obviaverunt illi; qui ambulabat solus, tanquam peregrinus pauperrimus. 14 Cui compatientes dixerunt: “O miser, ubi est honesta et sancta conversatio tua? Nolebas enim loqui et ostendere te fratribus tuis, et modo vadis discurrendo per mundum, tanquam homo ignorans Deum (cfr. 1The 4,5)!”.
15 Ille autem coepit eis loqui jurando saepe in sua fide, sicut homines saeculares, et dixerunt ei: “Miser homo, cur in fide tua juras, sicut saeculares, qui non tantum averbis otiosis (cfr. Mat 12,36) sed etiam a bonis silebas?”.
16 Et sic dimiserunt eum. Et parum post mortuus est. Et valde admirati fuimus, videntes sic ad litteram esse verum, sicut praedixerat de illo beatus Franciscus, tempore quo reputabatur sanctus a fratribus ille miser.

Texto Traduzido

Caput 102

Como previu o caso do frade que não queria con­fessar-se a pretexto do silêncio.

 

Havia um frade de comportamento exterior honesto e santo que parecia dedicado à oração dia e noite; 2 observava um silêncio tão contínuo que, às vezes, na confissão a um sa­cerdote, confessava-se somente por alguns sinais e não por pala­vras. Pois parecia tão devoto e fervoroso no amor de Deus que, quando estava sentado com os irmãos, embora não fa­lasse, alegrava-se interior e exteriormente de forma admirável ouvindo as boas palavras, 4 e, por isso, muitas vezes atraía os outros frades à devoção.
Persistindo ele nesse comportamento por muitos anos, acon­teceu que o bem-aventurado Francisco foi ao lugar onde ele morava. 6 Ao saber do seu procedimento pelos frades, disse-lhes: “Na verdade, sabei (cf. Mt 22,16) que é uma tentação diabólica, porque não quer se confessar” .
7 Nesse tempo, o ministro geral foi lá para visitar o bem-aventurado Francisco e começou a elogiá-lo diante do bem-aventurado Francisco. Dis­se-lhe o bem-aventurado Francisco: “Acredita-me, irmão, esse frade é levado e enganado por um espírito maligno”.
8 O ministro geral respondeu: “Muito me admira e parece-me quase inacreditável que isso possa acontecer com um homem que tem tantos sinais e obras de santidade”. 9 Disse-lhe o bem-aventurado Francisco: “Põe-no à prova, dizendo-lhe que se confesse ao me­nos uma ou duas vezes por semana. Se não te ouvir, sabe que é verdade o que eu te digo”.
10 Então o ministro geral disse àquele frade: “Irmão, quero abso­lutamente que te confesses duas vezes ou ao menos uma vez por se­mana”. 11 Mas ele pôs o dedo sobre sua boca, sacudiu a cabeça e mostrou por sinais que, por amor ao silêncio, de forma alguma faria isso. Temendo escandalizá-lo, o ministro deixou-o.
12 Não muitos dias depois (cf. Lc 15,13), esse frade saiu da ordem por vontade própria e voltou ao mundo, vestindo roupa secular.
13 Ora, aconteceu que um dia dois companheiros do bem-aventurado Francis­co andavam por um caminho e o encontraram, andando sozinho, como um peregrino paupérrimo. 14 Compadecidos, disseram: “Ó infeliz, onde está tua vida santa e honesta? Pois não queri­as falar e mostrar-te a teus irmãos e agora vais vagueando pelo mundo como um homem que não conhece a Deus!” (cf. 1Ts 4,5).
15 Mas ele começou a falar-lhes, jurando por sua fé muitas ve­zes, como fazem os seculares. Disseram-lhe: “Pobre homem, por que juras por tua fé, como os seculares, se não só calavas as palavras ociosas (cf. Mt 12,36), mas também as boas?”
16 E assim o deixaram. Pouco depois ele morreu. E ficamos muito admirados, vendo que era literalmente verdadeiro. o que o bem-aventurado Francisco predissera dele no tempo em que aquele miserável era considerado santo pelos frades.