Homilia da Ascensão de Jesus - ano A - Frei João Santiago
Ascensão do Senhor (Mateus 28, 16-20)
"Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado. Quando o viram, adoraram-no ... Jesus lhes disse: ‘Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo’".
“Naquele tempo!” Hoje? Amanhã? Quando vai acontecer? Quando algo maravilhoso e mais do que eu irá acontecer? Quando e onde no corriqueiro e comum da vida encontrarei uma Montanha, um Monte, um Céu? Um “Monte” em meio a esta “terra plana” de cada dia. O Evangelho de hoje narra que os discípulos foram à Montanha e lá adoraram. O que tinha acontecido naquela Montanha? Palavras de felicidades (lembre-se das Bem-aventuranças, Mt 5). Vamos à Montanha, vamos adorar ao Senhor, vamos criar nossas relações.
No Monte para adorar: Marcello Candia, grande industrial, decidiu destinar parte do lucro de sua empresa em vista de uma “Fundação”. Tal Fundação, hoje em dia, socorre inúmeros pobres, idosos abandonados e leprosos em vários países, inclusive no Brasil. Mais do que esmola o convite é mesmo para se partilhar os recursos a fim de tornar o outro “meu irmão”, isto é, em igual condição de dignidade.
No Monte para adorar: Perante tanta melhoria possível e tanta chance de eliminar o sofrimento de tantas pessoas, resta ao cristão se afligir. A aflição, neste contexto, significa uma força interior, uma resistência contra o descaso e a indiferença. A nível pessoal significa nossa capacidade de reconhecer nossa carência, nosso pedido de ajuda. Não sejamos autossuficientes, encontremos o consolo na família, na comunidade.
No Monte para adorar: “Não te irrites contra os que praticam o mal e nem invejes os que praticam iniquidades” (salmo 37). É difícil resistir a tentação, e é fácil ceder ao mal quando você se vê injustiçado, traído, enganado. Temos que nos empenhar, nos defender, mas com a disposição do homem que já viu quem vence (o crucificado venceu). E Jesus promete, ao manso, vencer, ser gente de sucesso, possuir a terra, a dignidade, a honra. Ser manso também é um convite a não ludibriar e não passar a rasteira no próximo.
No Monte para adorar: O que mais nos dá apetite do que matar a fome e a sede? Por isso Nosso Senhor pede que tenhamos esse mesmo penar e gana por instaurar a justiça. Um mundo onde todos são irmãos e partilham do que se tem.
No Monte para adorar: Como se atua a misericórdia? 1. Dando-se conta da necessidade do outro tal como o bom samaritano. 2. Provando compaixão com o outro. 3. Intervindo concretamente como o bom samaritano. Aos misericordiosos foi dada uma promessa: serão “tragados”, fisgados pela filiação divina, serão filhos de Deus, pois terão entrados em sintonia com “O Misericordioso”.
No Monte para adorar: Prossigamos em nossa vida sendo guiados somente por Deus, sem mistura, sem ídolos, puros. Que no nosso coração haja retas decisões e intenções e não segundas intenções.
No Monte para adorar: Os pacíficos promovem a paz. A paz combate a ignorância, as doenças, a fome, o desamparo, as drogas, os desajustes em família. A paz que vem de Cristo não é proveniente de acordos, mas o bálsamo para os nossos conflitos. A quem assim se empenha, ao pacífico, Deus considera filho seu, pois realmente é semelhantes a Deus. Imaginemos Deus dizendo ao pacífico: “Você se parece comigo, você é meu filho”.
No Monte para adorar: Madre Teresa dizia: "No dia que você fizer o bem pode ser que alguém lhe recrimine. Mas continue a fazer o bem. Tudo aquilo que você levou anos para construir alguém pode vir e destruir em uma hora. Mas continue a fazer o bem”. O Reino precisa de pessoas que iluminem e que não perdem a coragem diante de críticas destrutivas e diante do ódio das trevas.
Entrando em sintonia com as “Bem-aventuranças”, eles viram a Jesus. Quem me dera ver!!! Só um olhar bondoso sobre meu rosto pode fazer com que eu me olhe e me veja como bom. Rosto para um outro rosto. Face para outra face. Somos, vivemos e sobrevivemos em relações (Sozinho ninguém nasceu nem tomou seu primeiro banho. Ninguem aprendeu falar sozinho nem escolheu o próprio nome. O último banho será dado por outro e outros me carregarão na última viagem). “Ver” é dizer que um rosto se apresenta diante de mim, que um olhar me olha, que uma face me procura. A “palavra” sai de uma boca em um rosto. E, assim, entro em comunicação, saio de minha miséria e solidão e entro em relação. A “palavra” sempre me levará a ver.... um rosto, uma pessoa. E, então, o “ver” aquele rosto que me procura me levará a adorar. Você sabia que a palavra “adorar” significa “beijar”? O beijo, aqui, é comunhão de vida, é quando os que se beijam respiraram o mesmo ar. Passam a viver de um mesmo respiro, de um mesmo ar e hálito. Eu me encontro no teu rosto, meu rosto se encontra no teu rosto.... então.... adoro, beijo. O Evangelho de hoje diz que os discípulos “viram” a Jesus e adoraram – beijaram - à Ele (ajoelharam-se).
- “Todo poder me foi dado ...Ide, ensinai e fazei que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo ... Eis que estou convosco todos dos dias, até o fim dos tempos”.
Creio firmemente que você já tenha encontrado um grupo, uma comunidade cristã, pessoas que fazem você pensar: “Realmente é verdade; aquele mundo inaugurado por Jesus persiste”. Isso acontece quando vemos nessas comunidades e pessoas o “Monte das bem-aventuranças” e verdadeiros adoradores. É o poder de Nosso Senhor, poder de construir algo novo nesse mundo ainda marcado pela ferocidade.
Aderindo ao Cordeiro (não à uma fera) vitorioso somos chamados a fazerem outros aderirem. Recebemos do Ressuscitado a tarefa de tornar as “nações” acolhedoras daquela proposta do Monte das Bem-aventuranças. Jesus ao dizer-nos “Ide e ensinai” revela o nosso verdadeiro nome. O nosso nome é uma ida, é ir ao encontro de outros. Testemunhar a fraternidade. Isso mesmo! Mais do que doutrina, a missão é fazer acreditar que somos “irmãos”, que só a prática das “Bem-aventuranças” pode nos salvar, salvar nossas famílias, salvar nossas vidas, nossos dias, salvar o tecido social.
Apregoar um cristianismo sem a prática da vida comunitária não passa de “lavagem cerebral”. Tal missão dirá que a vida é sensata, tem sentido, não é absurda.
Testemunhar! Com nosso testemunho estaremos dizendo com a própria vida que a vida tem um desabrochar de sentido, tem um cumprimento, não um final. Lembro daquela mãe que agradeceu à nossa comunidade católica porque ajudou na recuperação do seu filho que se encontrava escravo das drogas (testemuno comunitário de fé e caridade).
Batizar significa imergir, banhar-se: que a comunidade cristã leve tantos irmãos e irmãs a banharem-se naquelaVida comunitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo, pois, assim, nascerão para uma nova vida, a vida do Espírito.