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Homilia do Domingo de Ramos / Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 08/04/2017 - 16:56

Domingo de Ramos.

Mateus 21, 1-11

Naquele tempo, Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém ... Então Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim!” ... Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”. ... Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou. ... As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” ...

“Não temas, filha de Sião; veja que vem teu Rei montado em um jumento. Suprimirá os carros de Efrain e os cavalos de Jerusalém; será suprimido o arco de combate, e ele proclamará a paz às nações. Seu domínio irá de mar a mar e desde o Rio até os confins da terra” (Zacarias 9, 9-10).

A tão sonhada liberdade.

Em primeiro lugar, a profecia afirma o Rei será um Rei dos pobres, um pobre entre outros que conservam a fé e pelejam em humildade. “Assistindo” Jesus e sua entrada em Jerusalém, somos convidados, com fé e humildade, a afastar de nós a inveja, a avareza, a ânsia de riqueza e de poder. Desta maneira seremos agremiados ao seu Reino e realeza, e assim, granjearemos a “liberdade”. O nosso Rei que cavalga o jumentinho, e não o cavalo, nos fará livres.

No Domingo de Ramos aclamamos o Rei que nos indica o caminho para a meta da liberdade, Jesus, e lhe pedimos que nos leve consigo em seu caminho.

O tão sonhado Shalom de Deus.

Em segundo lugar, o profeta mostra-nos que este Rei será o promotor da paz: fará que desapareçam os carros de guerra e os cavalos de batalha, romperá os arcos que lançam flechas mortais e anunciará a paz. Na figura de Jesus, isto se concretiza com o sinal da Cruz. Vemos aqui a Cruz como um arco quebrado, como um autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e estende pontes entre corações e povos divididos. A nova arma que Jesus põe em nossas mãos é a Cruz, sinal de reconciliação, sinal do amor que é mais forte que a morte. Cada vez que nós fazemos o sinal da Cruz, temos de nos lembrar de não responder à injustiça com outra injustiça, à violência com outra violência; temos de nos lembrar de que só podemos vencer o mal com o bem, sem oferecer mal por mal. 

 “Um jumentinho e o anticristo”.

- “O nosso rei está em meio a nós como aquele que serve” (Lc 22,27). O animal que Jesus se fez servir para entrar em Jerusalém é comumente chamado de “jumento de carga”, porque leva consigo o “peso” que os outros lhe carregam diariamente. São Paulo nos exorta: “suportai-vos uns aos outros”. O jumentinho é figura de Jesus, o Samaritano que toma sobre si o nosso peso (Lc 10,34). 

- Por que o jumentinho e não um o cavalo?  Sabemos que quando há reprodução gerada do cruzamento entre eles, se tem a mula. A mula é um animal estéril e sem “inteligência”. Cabe aos cristãos terem cuidado com o fermento dos fariseus. “Não se pode servir a dois Senhores. Não se pode servir a Deus e a Mammona. Ou quente ou frio, pois o morno será vomitado”. Dizer que se ama a Deus e ao próximo e ao mesmo tempo “cruzar-se” com segundas intenções, com malícias e em tudo querer tirar vantagem, é dizer que se cavalga o jumentinho e ao mesmo tempo cavalgar um cavalo. O resultado será perder a vida: “Quem quiser se safar de qualquer jeito vai perder a própria vida.

- Os cavalos eram usados em carros de guerra. O livro do Apocalipse descreve um monstro apocalíptico: tem chifres como um manso cordeiro, mas “fala” como um dragão (cf. Ap 13,11). Querer ser cordeiro e ao mesmo tempo imitar cavalos de guerra – que se matam por poder - nos deixa como monstros  ou bestas apocalípticas.

- Não acatar o jumentinho, mas querer sempre cavalgar cavalos, andar montados na arrogância, vaidade e soberba desse mundo nos faz membros do partido do anticristo.

Tanto se fala do anticristo.  O anticristo é simplesmente todo aquele que não reconhece o Messias, o Filho de Deus na carne de Jesus (cf. 1Jo 4,2s). O Messias é o ungido de Deus, é o poder maior entre nós. Esse poder maior veio em carne, isto é, em confiança, em humanidade, em falecimento que espera tudo mais do amor que é Deus. A aposta de fé que fazemos nesse Domingo de Ramos é que a “palavra final”, a justiça derradeira e a paz para toda a humanidade passam pelo método de Jesus, aquele método de cavalgar o jumentinho, não o cavalo.

Pai, perdoa-nos, porque muito frequentemente não sabemos aquilo que fazemos! Sobretudo quando usamos para o teu Reino exatamente o que teu Filho descartou como tentação, isto é, queremos te adorar e ao mesmo tempo viver abraçados com o revanche, a desforra,  com o domínio, com o desrespeito, com a avareza, em abusando das coisas e pessoas, etc.

 - Quando, finalmente, Jesus se torna nosso Messias?

O que é um “manto”?  

O manto para o pobre é vestido e casa, cama e cobertor, o seu único bem. Por isto se proíbe de penhorar o manto do pobre: “Se for um pobre, porém, não irás dormir conservando o seu penhor; ao por do sol deverás devolver sem falta o penhor, para que ele durma com o seu manto e te abençoe” (Dt 24,12-13).

 Qual o teu mais valioso bem?

Muitos, naquela procissão, deram a Jesus seu mais valioso bem.

“Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou”. ... As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor!

Ora, deram seus mantos porque reconheceram Jesus como o máximo. Fizeram Jesus montar sobre seus mantos. Jesus teve mais valor do que mantos e vestes.  Aqui Jesus triunfa, é a entronização de Jesus como Rei de nossos corações. Aqui se há, de verdade, glória a Deus.

- Se eles deram seus mantos é porque Jesus tornou-se o verdadeiro e duradouro manto para cada um deles. Pensemos nestas palavras.

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.