Tamanho do Texto:
A+
A-

Homilia do II Domingo do Tempo Comum - ano C / Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 20/01/2019 - 07:52

II Domingo do Tempo Comum - ano C

(João 2, 1-11)

1."Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. 2.Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. 3.Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: ‘Eles já não têm vinho’. 4.Respondeu-lhe Jesus: ‘Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou’.  5.Disse, então, sua mãe aos serventes: ‘Fazei o que ele vos disser’. 6.Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas.  7.Jesus ordena-lhes: ‘Enchei as talhas de água’. Eles encheram-nas até em cima. 8.’Tirai agora’ – disse-lhes Jesus – ‘e levai ao chefe dos serventes’. E levaram. 9.Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo 10.e disse-lhe: ‘É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho me­lhor até agora’. 11.Esse foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele."

 

As bodas em Caná, ou seja, a grande festividade por motivo de um casamento, falam, na verdade, do casamento de Deus, o verdadeiro esposo, com o seu povo, a esposa Israel.

Jesus e Maria têm vinho, mas os demais não o têm: “Eles já não têm vinho”, disse Maria a Jesus.  O velho Israel infiel ao Senhor esposo tinha se deteriorado em uma religião marcadamente centrada em meros ritos exteriores e vivia de uma espiritualidade marcada pelo circulo vicioso formado pela lei, pelo pecado e por tantas tentativas de purificação. De fato, faltava vinho, a graça, o amor a Deus, a alegria dos filhos de Deus.

Jesus responde a Maria chamando-a de “mulher”, isto é, esposa fiel do antigo Israel, e declara à sua mãe que não veio restabelecer antigas tradições, mas tem a nos oferecer uma vida nova, uma “Nova Aliança” (“Vinho novo em odres novos”): oferecer sua vida a todos que precisarem e quiserem, para além da prática de meros ritos.

Maria percebe que não tem mais vinho, o chefe dos serventes não percebe. Aqui temos uma forte crítica a toda liderança, especialmente a toda liderança religiosa que não presta atenção ao seu povo, que não tem “o cheiro das ovelhas”, e que insiste em esperar “Vinho novo de odres velhos”, não percebendo a falência da velha religião marcada por códigos de leis, códigos de pureza, que mantinham o israelita longe e distante de conhecer a graça e o amor de Deus. Dizemos isso porque, de fato, o chefe dos serventes julgou que o vinho era antigo e que estava guardado pelo noivo da festa: “Mas tu guardaste o vinho me­lhor até agora”.

 

Enquanto o chefe dos serventes nada percebeu, os discípulos creram em Jesus, começaram um novo caminho em suas vidas. Tenhamos cuidado, sejamos atentos, não façamos como o chefe dos serventes.

 

Naquele dia, Jesus manifestou a sua glória. Simplesmente não tinham vinho, e Jesus deu-lhes vinho. Por vezes buscamos a purificação em vista de acolher o amor de Deus. O Evangelho de hoje nos mostra que o caminho certo é acolher o amor de Deus, pois este amor purifica o homem. A glória do Senhor, portanto, é ver seus filhos amados, cheios do Espírito, inebriados do “vinho” que é Ele mesmo.

E a mãe? Ora, Maria aponta e nos ensina que Jesus é novo Moisés, aquele que nos dar a Nova Aliança: “Fazei o que ele vos disser”.

Diante de um casamento sem vinho, quando o amor acabou, Maria representa também aquela (pessoa, comunidade, Igreja) que quer acolher e que anseia pela vinda do “Novo”: “Eles não tem mais vinho", diz ela.

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.