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Homilia do II Domingo do Tempo Comum - ano B / Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 19/01/2018 - 11:42

II Domingo do Tempo Comum - ano B

João 1, 35-42

"No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. 36.E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. 37.Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. 38.Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? 39.Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima. 40.André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. 41.Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). 42.Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).
 

Um dia João Batista conseguiu, tornou-se capaz de visualizar em Jesus, o filho de Maria, Aquele que tira o pecado do mundo. Viu a Jesus como o Cordeiro: Cordeiro que tira o pecado do mundo. O Evangelho de hoje é um desafio, uma revolução, até. Apostar e crer que o Cordeiro consiga sobreviver em meio aos lobos e ainda consiga eliminar o mal imperante no mundo dos homens.

A tradição bíblica falava de um Messias que viria e seria como um pastor, como um juiz, como um rei, uma espécie de justiceiro. Ao mesmo tempo havia também outra tradição bíblica que falava de um justo condenado por nossas culpas e pecados e que faria possível o lobo e os cordeiros viverem em paz. São Joao Batista e o evangelho de hoje apostam na segunda tradição: assim como o sangue do cordeiro livrou os hebreus quando o anjo exterminador passou pelo Egito, assim Jesus, o Cordeiro de Deus, nos livra do mal.

Somos desafiados a apostar nossa vida no Cordeiro manso e humilde que faz da própria vida uma entrega e doação. Somos desafiados a crer firmemente que a minha salvação, alegria, paz e felicidade, assim como a salvação, alegria, paz e felicidade de nossas comunidades e do nosso mundo passam em crer naquilo que Joao Batista acreditou: somente o Cordeiro, com sua mansidão, consegue gerar vida e paz (e não morte e guerra) mesmo em meio aos lobos vorazes.

É uma tarefa espiritual, é uma chamada à conversão e mudança de vida, juízos e pensamentos, começar a viver segundo o Espírito. Não é tarefa fácil apostar que a vitória de todos (não só minha) esteja na força do pequeno Menino Jesus, na força da doçura do Cordeiro Jesus, no poder do crucificado Jesus. Muitas manias de grandezas nos afastam da genuína fé cristã.

A vitória cristã não é vitória pagã ou mundana. O bom pastor deixa as noventa e nove e vai atrás de uma única ovelha: ou a vitória é de todos ou não é de ninguém.

André e outro discípulo seguem o Cordeiro Jesus. Talvez não tenhamos tal coragem! Seguir um cordeiro em meio aos lobos?

O pecado do mundo. Não sejamos ingênuos. Façamos um discernimento. O pecado nos sussurra, fala ao redor e ao interno de nós mesmos: intrigas, ciúmes, invejas, guerras, difamações, ódio, revanche, violência, intolerância, soberba, falta de emprego, dor e sofrimentos de toda ordem, drogas e prostituição. Se seguirmos o Cordeiro que tira o pecado do mundo, não poderemos compactuar com toda a lista de males acima descrita.

É verdade, porém, que Deus nos deve atrair ao rebanho do Cordeiro. Rezemos para isso. Sozinhos jamais poderemos dar-nos conta que estamos mergulhados e agindo, até sem saber, num mundo que salva um e despreza outro, e depois despreza aquele que salvou para se aproveitar de um que sirva ao momento, e, assim, segue sua corrente malvada e demoníaca. Que o Senhor nos atraia ao seu Reino de bondade e verdade, justiça e mansidão.

“Que procurais?”, disse Jesus aos primeiros discípulos. Tenhamos cuidado. Podemos nos desiludir caso formos atrás de Jesus tal quando vamos à casa lotérica. Decididamente não sigamos a Jesus querendo ter uma espécie de poder que só sirva para esmagar e ser mais (“metidos”) do que os outros.

O seguimento a Jesus significa ter encontrado o sentido do viver, ter encontrado o pão de cada dia, ter encontrado uma comunidade para se viver, uns irmãos para partilhar o que temos e somos, e ter encontrado uma alegria maior para passar aos outros (missão).

Onde moras?”.  Que essa seja nossa oração: busca de coabitar, de ter intimidades com o Senhor, fazer próprio os projetos e anseios do Mestre. Em oração, sempre perguntemos e busquemos: “Mestre, onde moras?”

Durante a missa o sacerdote sempre diz, erguendo a hóstia santa, Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. E, eu, engolindo a hóstia santa, estou assimilando, fazendo minha,  a causa de Jesus, busca de vida para todos (Jo 10, 10) crendo e apostando a vida no Cordeiro que traz Luz (Jo 1, 9) e que tira mal amando, dando a vida (Jo 19, 34: o melhor que tinha em si para os pior dos malvados).

Interessante! Jesus morre como Cordeiro. Alguém esperava que ele ressuscitasse como um leão. Mas o apocalipse continua falando do Cordeiro, do vitorioso cordeiro, para nos ensinar que a vitória do nosso Deus não tem nada a ver com nossas manias de grandezas e de desforra (cf. Ap 21).

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.