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Homilia do XVII Domingo do Tempo Comum - ano C / Frei João Santiago

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 27/07/2019 - 16:53

XVII Dom Comum Lucas 10, 1-13

Não se trata tanto de dizer que Deus é Pai, mas que o meu Pai é Deus.

- "Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos’” (v. 1) Por vezes, quando admiramos alguém, ficamos a imaginar “o que se passa” no íntimo desse alguém, de onde ele tira tanta coragem, fé, esperança, perdão, amor. Os discípulos no Evangelho de hoje desejam conhecer o íntimo do mestre Jesus, desejam estar com Ele e em seu espírito, participar de sua vida de Filho para que se tornem, também eles, filhos do Pai e irmãos do mesmo Pai.

- “Disse-lhes ele, então: ‘Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino’” (v. 2). “Pai”, Abbá. Como traduzir em nossa linguagem? Pai querido? Papai? Papai querido? Painha? Imaginemos um pai responsável, bondoso, forte, seguro, presente, premuroso para com sua criança. Agora, imaginemos tal crianzinha chamando para si esta presença responsável, bondosa, forte, segura, premurosa para com ela. Pois é... chamará tal presença de pai querido, de “abbá”, de papai querido, de papai, de “painha”. Nosso Senhor se dirigia ao nosso Pai de uma maneira afetuosa e confiante, maneira típica de uma criança que confia no seu pai. Deus não é meramente uma energia, não é o universo, é “pessoa”, é pai, é o Pai, fonte da vida e amante dos filhos que somos nós.

A oração é momento de entrar em comunhão com o Pai, com seu amor e afeição por nós; é ocasião de atuar nossa realidade de filhos amados pelo Pai e que amam o Pai. Há famílias que quando os membros se encontram parece até que o Paraíso se faz presente. Assim também é a oração, pois quando rezamos nossa realidade de filhos e de irmãos se faz maiormente presente.

... santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino”: Que as falsas pregações e ideias acerca de Deus não mais existam, e que Deus, como Pai premuroso, seja reconhecido. Que o Reino do Pai, dos filhos e dos irmãos aconteça sempre e cada vez mais, e que o reino do mal não ganhe mais espaço em nosso meio e nem dentro de nós.

- “dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento” (v. 3): pão especial que só Deus pode dar, pão que nos mantém vivos, o pão que é a vida do Filho em nós, aquela vida que é amor com o Pai e o Espírito Santo, pão que nos dá vida do Eterno.

- “perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam ...” (v. 4). Nosso Pai é presença de perdão e nós somos filhos perdoados. Aceitando que o Pai perdoa, aceito que o outro também foi perdoado pelo Pai, que é Pai de todos. Os pecados dos outros para comigo serão sempre ofensas, mas os meus pecados perante Deus serão sempre pecados, pois Deus é o Santo. Mais um motivo para entender que é, sim, muito razoável oferecer perdão. É praticando o perdão que nós mesmos experimentamos o perdão divino em nós. De qualquer maneira, não percamos a paz, nem mesmo quando temos dificuldades para perdoar. Importa pedir o dom ao Senhor: dom de receber e dar perdão.

- “... e não nos deixeis cair em tentação” (v. 4). Todo discípulo é provado e corre o perigo de abandonar o Mestre, falir como seguidor, desistir da caminhada, abandonar a fileira, “chutar o pau da barraca”, de não mais acreditar no bem, na fidelidade, no respeito, na responsabilidade, no perdão e na verdade. Vencer a tentação é aceitar e vencer o “Getsemani”, a cruz, a noite escura.

Busquemos “Espírito Santo”, a força vital, a energia amorosa e forte que é Deus em nós a fim de que o “Pai-Nosso” aconteça em nós: “5.Em seguida, ele continuou: “Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, 6.pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; 7.e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; 8.eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar.  9.E eu vos digo: pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e vos será aberta. 10.Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. 11.Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? 12.Ou se lhe pedir um ovo, lhe dará porventura um escorpião? 13.Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem”.

Quanto precisamos de um Pai, pois, afinal, a vida, a realidade exige:

-“Há coisas que não se vê como se deve a não ser com olhos que têm pranto”(Louis Veuillot).

- “O homem é um aprendiz, a dor o seu mestre, e a ninguém se conhece enquanto não há sofrido” (Alfred de Musset).

- “O homem descobre-se a si mesmo quando se mede com os obstáculos” (Saint-Exupéry).

- “Não há homens sem sofrimento; se há um, não é um homem”(Shakespeare).

- “Não tenha medo dos insucessos. O primeiro é necessário porque exercita a vontade. O segundo pode ser útil. Se suportares o terceiro és um homem” (René Bazin).

-“Viver não é atravessar uma planície”(provérbio russo). 

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.