Homilia do XXI Domingo do Tempo Comum - ano A - Frei João Santiago
XXI Domingo do Tempo Comum (Mateus 16, 13-20)
Por vezes fugimos de certas perguntas
- “.... Jesus perguntou a seus discípulos ... quem é o Filho do Homem? Responderam: ‘Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas’” (vv. 13-14).
Chega um momento na vida que velhas respostas já não servem mais, e, então, fazemos novas perguntas, buscamos outras respostas. O tempo passando, os anos chegando, a vida nos pergunta, nos pede, nos põe em “saia justa”. Mas, somos “espertos”, tentamos nos safar oferecendo velhas respostas: “Eu já sei... é João batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas”. Mas.... a Palavra contundente de Deus, a Palavra que se faz carne nos provoca sempre, e nos questiona, nos põe em questão, nos põe na parede: “E vós quem dizeis que eu sou?”. Quem é este Jesus que pergunta, e que tocava nos leprosos, perdoava a quem pedisse perdão, ensinava a verdade e a liberdade, saciava a fome da multidão, amava os inimigos, rezava ao Pai, seu tesouro. Diante de Jesus, Pedro responde, se rende: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!”, isto é, tu és o meu Cristo, o esperado do meu coração, Deus eterno entre nós, o nosso Salvador, Redentor, que me liberta de toda ignorância e culpa, que me concede a alegria e a liberdade de viver e existir.
Queira Deus que um dia cada um de nós chegue aceitar Jesus de Nazaré, seus feitos e palavras (... tocava nos leprosos, perdoava a quem pedisse perdão, ensinava a verdade e a liberdade, saciava a fome da multidão, amava os inimigos, rezava ao Pai, seu tesouro) como nosso Cristo, como o esperado do nosso coração, como Aquele que nos faz vivos, viventes, plenos de vida, satisfeitos e em regozijo.
Só o amor nos faz viver e não mais vegetar
“Quem sou eu para você?” (cf. v. 15). Quando alguém revela o seu amor por outro, espera que esse outro o reconheça. E espera palavras tais como: “você é importante para mim!” Jesus, o homem Deus entre nós, espera ser reconhecido como aquele que nos faz viver: “Tu és o Filho de Deus vivo, que nos faz viver!”. Desta maneira, e não de outra, nos tornamos discípulos de Jesus: quando ele for o motivo do nosso viver, não vegetar. Só uma relação amorosa nos faz vivos, pulsantes de vida: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim ... que me amou e se entregou por mim” (Gal 2, 20). Amar não deixa de ser uma rendição, dar-se por vencido pelo amor, reconhecer que não nos bastamos a nós mesmos. Neste sentido, amar, é reconhecer uma fraqueza: “Quando estou fraco então é que sou forte” (2Cor 12, 10). Ser forte, então, é encontrar a força, não em si, mas no Outro: “Tu és o Filho do Deus vivo, ao qual me rendo e que me faz viver”.
Um novo nome, a minha missão.
Respondendo à Jesus “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (v. 16), Pedro estava dizendo: “Tu és o Vivente, Aquele que me faz vivo, o Esperado do meu coração, a Plenitude dos meus desejos e de todas as minhas expectativas, a Realização de todas as promessas. Tu és o meu Deus, o meu Tudo”.
Somos imagem e semelhança de Deus. Por vezes reduzimos Deus a um ser ciumento, justiceiro, invejoso da nossa felicidade, meramente punitivo. Fazendo isso, nós mesmos nos tornamos mesquinhos, ciumentos, invejosos, justiceiros e com manias de grandezas. Mas Ele, o amor que se encarna, é o Vivente que nos faz vivos. Naquele dia Pedro engrandeceu ao Senhor; o Amor tornou-se grande, magno, para ele. Pedro descobriu que Deus é dom, dilata o coração, abre a vida para uma maior possibilidade, para uma maravilha maior. A maior possibilidade de uma pessoa nasce quando se rende e se entrega ao Deus que é o próprio Jesus. Pedro, fazendo de Jesus o Cristo, o esperado do seu coração, estava aceitando também tocar no leproso, perdoar a quem pedisse perdão, ensinar a verdade e a liberdade, saciar a fome da multidão, amar os inimigos, rezar ao Pai.
E, então, Jesus declara: “... tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus ...” (vv. 18-19). A partir daquele dia Pedro será Pedra, receberá um novo nome, uma missão, um destino, um futuro. Diante de tantas opiniões, controvérsias, ideologias, seitas, teorias, religiões, fiquemos com Pedro, com a fé dele, fiquemos em nossa Igreja, pois, assim, seremos libertos da boca do leão, protegidos das portas do inferno. “... todos me desampararam. ... o Senhor permaneceu ao meu lado .... E eu fui liberto da boca do leão! ... o Senhor me livrará também de toda a obra maligna!” (2Tm 4, 16-18).