Homilia Dominical / Frei João Santiago
São Pedro e São Paulo, Apóstolos.
Mateus 16, 13-19
"Chegando ao território de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: No dizer do povo, quem é o Filho do Homem? 14.Responderam: Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou um dos profetas. 15.Disse-lhes Jesus: E vós quem dizeis que eu sou? 16.Simão Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo! 17.Jesus então lhe disse: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. 18.E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. 19.Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus."
Distância! Pedro e os demais discípulos serão levados para longe, para Cesaréia de Filipe. Todos nós passamos por “distâncias”! Imaginem um casal que por anos a fio veêm seus filhos crescerem. Um dia cada um dos filhos se distanciará, construirá, cada um, a própria família, irá para longe, terá a própria casa. Distância! Imaginem dois jovens apaixonados e um deles decide romper, terminar o namoro. Distância! A idade e os achaques trazem distância de quando se era jovem e forte. Mudanças de cidade, amizades que se rompem, decepções, perdas de entes queridos, problemas fianceiros e de realizações.... tantas distâncias! Nestas distâncias seremos perguntados sobre o sentido da vida e sobre o sentido de tantas coisas, tais como o sentido do amor, da amizade, da fidelidade, da dedicação, dos sacrifícios, da fé.
- “Quem é o Filho do Homem? O Filho do Homem pode ser João Batista, Jeremias ou um dos profetas, respondem alguns. É... diante das distâncias e desatinos tendemos a dar respostas “humanas” que basicamente dizem assim: “A vida é assim!”; “Busque superar as distâncias, faça uma faculdade, faça academia, busque uma espiritualidade, busque um outro amor, faça o que quiser”. São respostas que não provocam tanto e que sepultam o Vivente que nos pode fazer vivos.
Nosso Senhor, a um certo momento, provoca fortemente seus discípulos: “E vós quem dizeis que eu sou?”, isto é, qual meu peso, importância e significado em vossas vidas? Eu conto para vós? Eu significo algo para vós? Jesus provoca ser olhado, considerado. Ele quer entrar em comunhão e em diálogo. Jesus, o Filho de Deus entre nós, humildemente se expõe, mostra sua fraqueza, sua fragilidade, mostra seu amor, e quem ama deseja, quer ser aceito por aquele a quem ama. Amar é se expôr, é fazer uma declaração, é revelação, pois quem ama se revela e espera ser acolhido, reconhecido.
Pedro responde pelo grupo: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Pedro estava dizendo: “Tu és o Vivente, Aquele que me faz vivo, o Esperado do meu coração, a Plenitude dos meus desejos e da minha ambiçao, a Realizaçao de todas as promessas. Tu és o meu Deus, o meu Tudo”. A partir daquele dia Pedro será Pedra, receberá um nome nome, uma missão, um destino, um futuro. Nasceu novamente, se fez nova criatura.
Quando Jesus Cristo, o filho de Maria e do Deus vivo, perde sua insiginificancia e passa a ser significante para minha pessoa, eu me torno “beato”, feliz, degustador dos segredos do Senhor: Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus.
O segredo. Pedro descobriu o Vivente no homem Jesus.
Aceitar que Jesus, o filho de Maria, seja o Messias? Só uma graça especial torna isso possível. Por quê?
Enquanto os judeus esperavam o “dia da vingança” (cf. Isaias 61, 2.5), Jesus apregoa o perdão e proclama a “esperança” também para os pagãos e invasores.
Esperar o “dia da vingança” é aquela satisfação que temos quando tudo acontece segundo o nosso planejado, o nosso desejo e também segundo o que achamos certo, correto e justo. Por isso é bem capaz que cada um tenha o seu Deus na própria cabeça.
Pedro não ficou petrificado, fanático e nem fixado em suas crenças. Pedro não se satisfez contente com o próprio mundinho e juízos. Não ficou ébrio de si. Ao contrário, se ateve ao novo, se rendeu àquelas palavras cheias de encanto que saiam dos lábios de Jesus. Aceitou que o Messias fosse humano, aceitou sua mãe, sua descendência; Aceitou que fosse filho de Maria. Não foi fácil para Pedro (de fato, cairá, trairá), não é fácil deixar o nosso “dia da vingança”. Mas, para conhecer a Jesus como Senhor, Vivente e Messias, urge adesão, confiança, entrega e abandono amoroso ao Jesus que Maria nos apresentou.