Homilia Dominical / Frei João Santiago
XV Domindo do Tempo Comum - ano A
Mateus 13, 1-23
Navegar é preciso, semear é fundamental: ser terra boa!
Cansar de semear também é uma tentação. Melhoria de si mesmo, buscar
superação, começar novos projetos, apostar ainda na bondade dos
corações, dedicar o próprio tempo em semear o bem. Tudo isso é semear.
A Palavra de Deus, sua ação, traz e gera frutos. O Evangelho de hoje
foi escrito para quando a tentação de desistir do bem vier.
Parafraseando Santa Madre Teresa diria: "Os seres humanos são o que
são (por vezes egoístas), ama-os assim mesmo. Quando tu fazes o bem,
alguns podem dizer que tu o fazes por segundas intenções, mas não
desista, continue fazendo. Quando o sucesso bater à tua porta, muitos
falsos amigos e muitos inimigos aparecerão, mas tu não desista do
sucesso. A sinceridade e a franqueza te fazem vulnerável, mas tu não
desista de ser sincero e franco. Aquilo que construístes depois de
muitos anos de sacrifício pode ser destruído em um só dia, mas tu
continue a construir. Mesmo aqueles que recebem tua ajuda podem te
atacar, mas tu continue a ajudá-los. Oferece ao mundo o melhor de ti,
e, quem sabe, não te tratarão com desprezo! Mas, tu continue a dar o
melhor de ti”.
Sabemos que nem tudo o que se semeia é bem aceito, e nem sempre dá
frutos. Mas, sabemos também, que nossa dedicação e nosso amor não
serão totalmente perdidos, pois conhecemos pessoas e projetos que
nasceram como frutos da dedicação, da Palavra, do sacrifício e do amor
dispensados.
O Senhor semeia: tantas Palavras em nossa vida; quantas histórias de
fé em nossas casas, lares e famílias; tantas “pessoas autênticas e de
testemunho” temos conhecido; tantas luzes e verdades ficam em nossa
consciência; tantas promessas de felicidade vislumbramos; tantos
gestos e ensinamentos de Jesus sabemos; tantos acontecimentos nos
provocam a uma melhoria. Em nossos anos de vida, quantos “quadros
belos” temos visto, quantos santos e santas conhecemos (alguns
reconhecidos oficialmente, e outros, não), pois o Senhor semeia.
Diante de tantas “sementes” lançadas sobre nós, fica a pergunta: “qual
nossa reação?”
- Importa “abraçar” a Palavra semeada, senão o Maligno arranca o
semeado. Por vezes é útil fugir do senso comum, não continuar com os
mesmos pensamentos e julgamentos de sempre. Mudemos certos juízos,
conceitos e formas de encarar a vida. Pessoas rígidas, que não dão o
braço a torcer correm o perigo de não germinarem, de nunca passarem a
uma nova vida. Terra dura, terra batida, coração petrificado, desejo
de revanche: aqui a semente se perde.....
- Solo pedregoso! Viver só de “emoções” e sensações não constrói nada.
Como é bela uma cerimônia de matrimônio. Mas sabemos que não basta
para manter o casal unido. Chegará o momento da tribulação, do
sacrifício e do cansaço. Importa decidir-se de uma vez por todas e não
perder a atração pela “Palavra”, afinal existe um maná escondido para
quem persevera no bem mostrado por Deus e sua Palavra: "Ao vencedor
darei o maná escondido e lhe entregarei uma pedra branca, na qual está
escrito um nome novo que ninguém conhece, senão aquele que o receber"
(Apocalipse 2, 17).
Atenção! Diz-se que nossa época marcada por tantas informações,
solicitações midiáticas, facilidades, conforto e justificativas para
todo tipo de atitudes, seja uma época que torna difícil o nosso
envolvimento real com uma causa, com pessoas, com Deus e conosco
mesmo. Solicitados por inúmeras emoções e tantos prazeres, nos
tornamos terreno pedregoso, reativos aos apelos da Palavra e
perdedores. Isso mesmo: perdedores! Perdedores daquilo que realmente
nos convém.
- Espinhos sufocam a semente, a Palavra. Nós, cristãos, vivemos em
“exílio”: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas
concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef 2, 19-22).
Não é por acaso que há tantas guerras, contendas, ciúmes, traições,
inveja e ganância entre nós. Tudo isso acontece quando o homem se
identifica completamente com esse mundo sem nenhuma abertura para tudo
o que é santo e vem de Deus: a honestidade de vida, a beleza, a
verdade, a pureza, o respeito, a ternura, o cuidado consigo e com os
demais. Jesus fala da terra cheia de espinhos como “os cuidados do
mundo e a sedução e enganos das riquezas”. Mesmo que a Palavra esteja
presente, não dá frutos, está sufocada por um poder, está dominada por
um poder mortal, pelo poder de “Mamona”, o ídolo do dinheiro. Rezemos,
irmãos e irmãs, para não cairmos sob o domínio desse espírito mau. De
fato, Jesus nos ensinou: “...livrai-nos do mal”.
- Terra boa, terra de bons frutos. Terra vicejante, viva e
ressuscitada. Terra que diz “sim”, que abraça fortemente tudo aquilo
que é bom e verdadeiro, que não se trai, que não mente para si
própria. Lembremos de São Mateus. Sentado recebendo e cobrando
impostos. De repente apresenta-se à ele a pessoa magnífica de Jesus de
Nazaré que lhe faz um convite: “Vem, segue-me!”. Duas opções: viver
para sempre sentado e servindo a um mundo corrupto (era funcionário do
Império) ou “abraçar” aquela Palavra encarnada, Jesus que não
prometida coisas, mas promessas maiores: “Farei de ti pescador de
homens”; Farás obras maiores do que aqueles que eu fiz”. A terra boa
aceitou o maior bem, Mateus o seguiu.
Quem ouve a Palavra e põe em prática jamais será o mesmo! A Palavra é
eficaz e faz germinar e crescer pessoas novas, magníficas, estupendas.
São aquelas pessoas que quando as encontramos passamos a pensar que
afinal a criação de Deus não foi em vão, que ainda temos esperança no
ser humano.
Todos nós sabemos que a Palavra abraçada gera, cria e faz germinar e
nascer pessoas estupendas e maravilhosas. Pensemos na Virgem Maria e
sua fé. Pensemos num São Francisco e sua herança de fraternidade
universal. Lembremos de irmã Dulce da Bahia e seu cuidado para com os
“perdidos” da vida. Pensemos em tantos outros.
- Onde eu vivo, estudo e trabalho é um bom terreno? A boa semente, a
Palavra, já meu tornou um belo fruto? Quais sonhos, desejos, perguntas
e questões da vida me dominam? Perguntas importante que revelam qual o
terreno que tenho dentro de mim.
- Eu também sou um projeto, sou uma semente. Dará frutos ou será em vão?
- Qual é a tua característica, aquela que é somente tua? Em que te
distingue dos demais? Pergunta importante, porque uma pessoa que não
se distingue das demais é só uma fotocópia. Não sejamos fotocópia,
sejamos boa semente em terra boa que geram frutos únicos.