Homilia Dominical / Frei João Santiago
II Domingo Advento. Mateus 3, 1-12
PARA HAVER LIBERTAÇÃO
Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia. 2.Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus. .... endireitai as suas veredas (Is 40,3). 4.João usava uma vestimenta de pêlos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. ... 5.Pessoas de Jerusalém ....Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do Jordão. 7.Ao ver, porém, que muitos dos fariseus e dos saduceus vinham ao seu batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera vindoura? 8.Dai, pois, frutos de verdadeira penitência.9.Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! ... . 10.O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo. .... Ele (o Messias) vos batizará no Espírito Santo e em fogo.12.Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível.
O peixe começa a feder pela cabeça
O Batista dizia “Fazei Penitência, convertei-vos”. Paremos um pouco e prestemos atenção às nossas “conversas”, aquelas que ninguém escuta, aquelas eu que digo a mim mesmo, aquelas que voltam sempre à minha mente, que “martelam” o meu juízo. João Batista está falando disso. Converter a mente, os pensamentos, pois tais pensamentos geram palavras, geram atitudes, geram uma maneira de ser, e –isso é grave – geram meu destino. Atenção aos pensamentos: muitos deles são como vírus que criam epidemias de dor e pestilências de medo, de culpa e de angústia (“Não valho muita coisa!”; “Não consigo!”; “Ninguém se importa comigo”; “Vou provar para eles!”, etc.)
Como são meus pensamentos? Será que a vida é assim mesmo como tu dizes ou são teus pensamentos que a fazem assim?
O Reino chegou com Jesus. Entra nele quem se converte (o pobre em Espírito – cf. 5, 3). Vivamos livres, não em possessão. Não sejamos possuídos pelo ciúme, pela gana de fama, aplausos e com medo de envelhecer. Sejamos livres, vivos, partilhando e fazendo acontecer para que outros tenham também cultura, profissão, trabalho, dignidade.
- Versículo 6 e a confissão dos pecados. Basicamente é reconhecer que o modo em que vivemos nos leva para longe e distante do Deus da vida.
- Versículo 7 e o batismo. Não é um mero rito. É mudança de vida. Por que Será que Jesus disse aos fariseus que os publicanos, pecadores e prostitutas entrariam primeiro do que eles no Reino? Porque os fariseus estavam possuídos, escravos e não libertos. Atacados que eram ao próprio prestígio, à própria linhagem, à própria concepção de Deus e da religião, às regalias e posses, tinham muito “a perder” em produziram frutos de conversão.
Fariseus e Saduceus queriam ouvir palavras que apaziguassem seus crimes. Não! O Batista chama-os de serpentes que fogem do fogo. Na confusão religiosa imperante no Brasil muitas pessoas buscam um lugar onde Deus realize seus caprichos e não o contrário: fazer a vontade dEle. Jesus traz o “fogo”, a verdade. O que resta ao Fariseu e ao Saduceu? Ou viverem fugindo da verdade ou tentarem apagar o “fogo” (de fato o mal tentou subornar a Jesus e o perseguiu até a morte).
“Nós temos a Abraão por pai!” (v. 9). Não servem os títulos. Se não dás fruto de conversão os títulos não contam nada. O sinal de que estou em aliança com Deus é se sou disposto a mudar de vida, de pensamentos, juízos e atitudes; se desenvolvo mais e mais abertura de coração e maior capacidade de amar, de promover o bem.
Vamos ao Deserto; lugar onde Deus gosta de educar o seu povo. No silêncio do deserto nascem valiosas perguntas. “O que conta e importa realmente na vida?” Lá, no deserto, se verá realmente que não tem sentido ir tecendo a vida simplesmente segundo o costumeiro, segundo a moda, o senso comum e qualquer costume. Lá se descobre que não tem sentido viver de “conversa fiada”, de fofocas e comentários levianos. No deserto se descobre o que realmente conta, o necessário para viver e não o supérfluo. No deserto a pessoa se vê pendendo.... de Deus, descobre sua fonte, sua raiz, sua origem, o Senhor! No deserto ninguém fica paralisado, ninguém caminha de qualquer jeito, ninguém caminha por caminhar, mas se caminha com um foco bem preciso, há uma meta. Não se pode perder tempo com bobagens porque senão morre-se de fome e sede. Geralmente ninguém se arrisca de adentrar no deserto sozinho. Façamos nosso deserto em comunidade! João Batista nos convida ao deserto, mas podemos ficar paralisados em “Jerusalém” ou em nossa confortável cidadezinha, ou seja, nossa rotina, nossos pensamentos, nossos caprichos e teimosias. Em qual lugar vamos gastar nossos anos de vida: na costumeira prisão do dia-a-dia ou em liberdade no deserto? Temos medo e preferimos o cômodo?
Só os violentos conquistam o Reino, disse Jesus. Então? Vamos ao rio Jordão, vamos deixar Jerusalém!? Será que estamos demasiadamente atolados na lama da violência, nas areias movediças das paixões, do abuso de autoridade, da vingança, da inveja, do ódio, do rancor, dos furtos, da mentira, da fofoca, da detração, da indiferença?
“Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo” (v. 12) O que te escraviza e por que temes? O Messias, para João Batista, te libertará. E outro espírito tomará conta de ti, o Espírito do Senhor ressuscitado. E terás outra luz e consideração sobre Deus, a vida e tu mesmo. Tudo isso faz o batismo no Espírito Santo. O fogo tem a capacidade de separar o homem da esfera do pecado. É um banho, um batismo interior. Aqui o cristão não é mais só um obediente, mas um que comunga Deus e a divina capacidade de amar.
Versículo 4 e as vestes de um profeta. Com suas roupas João Batista se mostra austero, sem necessidade da superficialidade que é a ostentação. Mostra-se um verdadeiro homem, um grande homem de uma grande estatura moral: " .... Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista”, disse Jesus.
“O machado já está posto à raiz das árvores ... (Ele) Tem na mão a pá .... As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível” (vv 10-12). Deus, em sua ira, se mostra apaixonadamente voltado ao bem, para livrar o homem do mal. O “machado” é a palavra que perscruta, corrige, elimina o mal pela raiz. A “pá” é o Evangelho, a Palavra que identifica as aparências e diante dela, da Palavra, fica só o que conta. “Porque a Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hebreus 4, 12)