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III DOMINGO DA PÁSCOA: "Tendes alguma coisa pra comer?"

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 09/04/2016 - 15:22

III Dom Páscoa. João 21, 1-19.

3. “Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe eles: Também nós vamos contigo. Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada apanharam”.  – Acordamos ao amanhecer, tomamos nosso café da manhã, planejamos o dia, trabalhamos.... Planeja-se o mês, as férias, o ano. Imaginamos qualquer mudança por fazer e a vida segue.....  E o tempo vai passando e a vida segue. Mas segue como? Os apóstolos seguem, vão pescar e nada conseguem.... Viver sem nada conseguir é como viver sem entusiasmo, em errância, sempre na falta de “algo mais”, sempre fora do divino, como que entregue a si mesmo sem a presença do Outro que me traga alegria. Vamos porque vamos! Você já assistiu encantada uma criança pela primeira vez em um parque de diversão? Ali a criança é puro encanto, descobertas, felicidade. Viver em tal estado de contentamento seria um dia ter descoberto o motivo de existir entre tantas pessoas: “Eu sou um bálsamo para muitos corações que sofrem” (Etty Hillesum).

4.“Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não o reconheceram”.  Deus é já presente, mas podemos não se dar conta. E como iremos nos dar conta? Não basta tê-lo seguido. Não basta ter escutado e saber dos seus ensinamentos. Se faz necessário intimidade com o Senhor, adesão de alma para com Ele. Por isso só o discípulo que Jesus amava reconhece: “É o Senhor!”. Na praia, Jesus? Pois é... símbolo do destino final. A Igreja navega, e Jesus como ressuscitado nos assegura o destino final, ele que lá já chegou. Agora é nossa vez de fazer nossa páscoa e de colaborar para que toda a humanidade também a faça. E Jesus, desde o porto seguro, como ressuscitado nos atrai a fazer nossa travessia.

6.“Disse-lhes ele: Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis”. Depois de terem reconhecidos não terem o que comer, Jesus ordena que lancem as redes. Lançaram-nas, e já não podiam arrastá-las por causa da grande quantidade de peixes. Bom, faz bem reconhecer nossa falta de peixe, isto é, nossa falta, nossos limites físicos, psicológicos, morais, espirituais e materiais. Só assim o médico Jesus pode fazer algo. Pense nisso: “Só é redimido aquilo que é mostrado”.  A Palavra é precisa: a rede deve ser lançada ao lado direito. A situação mudou: a noite passou, a Luz se faz presente, é o Ressuscitado; a Palavra guia os apóstolos; o lado é o direito, isto é, os apóstolos passam a investir no que de bom há nas pessoas (deixam o ressentimento contra a humanidade que crucificara a Jesus), e a Palavra de Jesus pede que acreditemos que há um lado direito, que é bom, que promete, que pode dar frutos, e que nem tudo está perdido. Que nossas ações sejam motivadas: “Por que eu ajo assim e não daquela forma?”  Que sejam ações justas: Que se procure o bem, não mal. Que nas minhas ações eu esteja comprometido(a): Não faço por fazer, mas com todo o meu ser me envolvo e assim eu mesmo(a) me transformo em nova pessoa.

7. “Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: ‘É o Senhor!’  Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se às águas”. Aqui, Pedro não possui uma capacidade, Pedro está nu, falta-lhe algo: a veste do serviço e com esta veste receber um batismo nas águas, uma renovação. Pedro, então, terá a capacidade, a capacidade de ter a própria vida em mãos e fazer dela um grande serviço à comunidade. Tornar-se-á um grão que dará frutos. Passaremos anos nesta terra e quais frutos deixaremos?  Pessoas que passaram por nós passaram a acreditar mais no bem, na beleza, na honestidade, na fidelidade, na felicidade, em Deus e na sua Igreja?

11. “Subiu Simão Pedro e puxou a rede para a terra, cheia de cento e cinqüenta e três peixes grandes. Apesar de serem tantos, a rede não se rompeu”. 153 é a soma do quadrado, do triângulo e da esfera: Deus, a ressurreição, cria harmonia na diferença, elimina as lacerações, feridas, rasgos que não temos como cicatrizá-los. Por vezes ficamos a pensar quando e como os seres humanos passarão a viver como uma só família (basta lembrar dos desafios do terrorismo, do trabalho escravo, do drama dos refugiados,  das guerras e envolvimentos em conflitos – dos 162 países, só 11 não estão envolvidos em conflitos). Deus, o Ressuscitado é Aquele que nos chama para águas mais profundas, para afrontar grandes desafios, desafios de superação. Qual superação você já realizou por crer no Ressuscitado? O Ressuscitado faz você realizar algo positivo que você não acredita ser em grau de realizar e faz superar aquilo que você julga por demais medonho para afrontar.

15. “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? ...  quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Pedro é chamado a amar a Jesus. A Igreja deve amar a Jesus para além de todo poder, reconhecimento, negócios. Pedro, a Igreja é chamado a ceder aos apelos do espírito, não ser contumaz, mas dócil ao espírito (deixar que o Outro nos leve). E quem foi que disse que Deus não queira  redizer a sua vida? E quem disse que Deus não queira algo grandioso de você? E quem foi que disse que Deus não queira curar a raiz do seu medo e de seus males? E quem foi que disse que Deus não transforme o seu caráter e lhe faça uma pessoa diferente (vivaz, alegre, trabalhadora, solícita, afetuosa, justa)?

E quem foi que disse que Deus não queira  redizer  a sua vida? E quem disse que Deus não queira algo grandioso de ti? E quem foi que disse que Deus não queira curar a raiz do teu medo e de teus males? E quem foi que disse que Deus não transforme o teu caráter e te faça uma pessoa diferente (vivaz, alegre, trabalhadora, solícita, afetuosa, justa)?

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.