Tamanho do Texto:
A+
A-

V DOMINGO DA PÁSCOA

Publicado por Frei João de Araújo Santiago | 23/04/2016 - 09:06

“Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem. ... Dou-vos um novo mandamento: Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos .. ” (Jo 13, 31-35).

 O Evangelho de hoje nos apresenta um momento muito solene: “a última ceia”. Era costume o dono da casa oferecer o pão passado no molho ao hóspede considerado o mais importante. Jesus passa o pão a Judas! Para Jesus, Judas é o único em perigo: perigo de perder-se para sempre. Merecia maior atenção. Nós tendemos a olhar o crime, Jesus olha a pessoa que cometeu o crime. Uma pessoa vale a pena, vale tanto? Jesus, ao passar o pão a Judas, estava a dizer: conheço tuas más intenções, mas não olho isso, olho a ti. O que é perder-se? Qual nossa reação perante tanta perdição?

Quando Judas sai para traí-lo, Jesus anuncia  que a sua glória se manifestará. Fala da doação de sua vida e também do modo como reagirá perante a traição e os inimigos. Jesus será constrangido, traído e crucificado: sua glória será exposta. A glória para Jesus é o êxtase, o seu momento culminante: um amor desenfreado que não se paralisa mesmo diante de todo ódio. Tal glória revela a verdade que Deus ama gratuitamente, sem perguntar, sem pretender, mas por puro transbordamento de si. Aqui Judas também é amado.

A humanidade tem fome de afetos. O Evangelho nos mostra a comunidade reunida e o pão sendo partilhado. Lembro da criança para a qual o momento mais sublime da vida era estar entre o pai e a mãe no sofá: experiência familiar e comunitária, superação da solidão, lugar de apoio mútuo, mundo de afetos e aconchegos. Não nos bastamos, precisamos também do “pão”. O “pão” é Jesus, e comer o pão é acolher uma vida que se doa, a vida dele.

Ser acolhido incondicionalmente é uma das maiores experiência que o ser humano pode ter. Seja por parte de alguém seja por parte do próprio Deus.  Não se pode duvidar do amor de Deus para conosco. A situação do pecador não paralisa a força do amor de Deus. O amor de Deus não se merece, se acolhe.

Jung dizia: “Deus pode ser amado, mas deve ser servido, temido”. Com esta frase queria dizer que sem servir a Deus, sem temê-lo, nem mesmo uma vida natural é possível ao homem. O homem que se arvora em não respeitar os limites termina por se esborrachar, cedo ou tarde. Tal verdade também o Antigo Testamento já anunciava. Lembremos de Números 15, 32-36: “Ora, aconteceu que ... encontraram um homem ajuntando lenha num dia de sábado. ... levaram-no a Moisés e a Aarão ... O Senhor disse a Moisés: “Que esse homem seja punido de morte, e a assembléia o apedreje fora do acampamento. ...”.      Jesus traz uma nova revelação, isto é, Deus é um que serve. São João nos diz:  “Ele nos amou por primeiro” (1 Jo 4,19-21).

“Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”:  Jesus nos deixou uma herança, um novo mandamento, uma nova aliança. Cabe a nós, como comunidade, sintonizar nossa vida com esse legado. Não há maior promessa e revelação do que esta. Não haverá outra novidade. Neste novo mandamento está toda a sua vida, seu espírito. A comunidade é chamada a se “lambuzar” desse mandamento, pois este espírito é do Eterno, não se acaba: a caridade jamais passará.   Caridade, amor..... A marca do amor é sempre aquela de promover a outra pessoa seja que ela me seja agradável ou não, seja que fique próxima a mim ou não. Que a pessoa seja livre, responda aos apelos de Deus, seja feliz. Que eu a ajude nesse caminho, e assim, eu terei amado tal pessoa.

O pão é o mandamento: amar é alimentar. Não há outra salvação nem para a própria pessoa, nem para as nossas famílias, nem para o nosso mundo. São Paulo nos fale desse alimento com outras palavras quando pede que tenhamos “entranhas de misericórdia, de cortesia, de humildade, de mansidão, e de longanimidade (virtude de se suportar com firmeza contrariedades em benefício de outrem). Paulo que nos suportemos uns aos outros. Jesus nos dizia: “sede perfeitos como o Pai”. É um desafio enorme, é um solavanco em nossa preguiça humano-espiritual. Pois é .... São Paulo diz que a Caridade nos dá a perfeição. É nossa tarefa de cada dia: buscar tirar o melhor que há em nós, pois, há, sim, caridade em nosso interior.

Sobre o autor
Frei João de Araújo Santiago

Frade Capuchinho, da Província Nossa Senhora do Carmo. Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Mestre em Teologia Espiritual. Tem longa experiência como professor, seja no Brasil, como na África, quando esteve como missionário. Por vários anos foi formador seja no Postulantado, como no Pós Noviciado de Filosofia. Atualmente mora em Açailândia-MA. Já escreveu vários livros e muitos artigos.