FREI APOLÔNIO, um dom e uma tarefa!
FREI APOLÔNIO, um dom e uma tarefa!
QUATRO TONS BRILHANTES.
Criados à imagem e semelhança de Deus, somos um dom (Cf. Gn 1, 26). Um dom! Reconhecendo-me um dom dou-me conta de nenhum direito, de nenhum mérito ou até mesmo de nenhuma disposição absoluta sobre mim. Sou um dom a mim mesmo: um “poder” nós faz ser. Sou um dom, chamado à gratidão: acato, reconheço aquilo que faz que eu seja. A resposta ao dom é a gratidão, inicio da religião. Criados à imagem e semelhança de Deus, somos tarefa. Somos um mistério, pois afundamos nossas raízes no “Alto”, no misterioso Deus. Frei Apolônio Troesi passou entre nós. E sendo ele um mistério para ele mesmo – pois homem afundado no mistério de Deus -, quanto mais o será para nós! Resta-nos deixá-lo passar, seguir, ir.... Nada em nosso poder, tudo nas mãos do Pai. Somos tarefa, qual tarefa a de frei Apolônio? Diríamos que a sua tarefa recebida de Deus se expressa em quatro tons:
1. Convite ao “estupor”, ao arroubo, ao vislumbre, ao presságio de algo que desponta e que aponta para “algo mais” para além deste mundo sorrateiro, mesquinho, pequeno que tem nas posses e no dinheiro o seu aval. Frei Apolônio seja por índole poética seja pela formação em literatura italiana e clássica tinha essa marca. Em seus últimos momentos expressou a “Beleza” que por anos a fio lhe fascinava:
“Nestes últimos dias um telefonema da Itália surpreende aos seus acompanhantes. Sua Irmã Rita, ligou para saber como ele estava ao que ele respondeu telegraficamente: “Ciao, ciao, estou indo! Estou indo para um lugar muito lindo; lá é lindo!; ci vediamo là; È meraviglioso! Meraviglioso! È meraviglioso! Ciao!” (cf. Frei Macapuna, homilia na missa de corpo presente E homilia na missa de sétimo dia).
2. Convite à oração. Frei Apolônio, sendo atraído pela “Beleza eterna”, não poderia deixar de ser um frade orante. Quem com ele conviveu pode testemunhar o quanto prazerosamente, sem pressas, permanecia na capela seja para as horas canônicas seja para meditar, permanecendo sempre de olhos bem abertos parecendo ver ou procurando por ver “mais e mais”.
3. Convite de inserção ao mundo dos pobres. Os ouvintes de frei Apolônio testemunham o quanto em suas homilias procurava despertar nas almas dos fieis a indignação para com as injustiças sociais e guerras e também o compromisso para a sua superação. Podemos avaliar seus modos de afrontar o sofrimento de tantos infortunados, mas não resta dúvida que frei Apolonio colocou em pauta e em ribalta a “questionis paupertas” enquanto convocava a fraternidade a não viver para si, mas viver em atenção para com os menos favorecidos. Se acreditamos que todo irmão é presente dos Céus para nossa fraternidade capuchinha, recebamos esse legado. Acreditamos que esta “inserção” seja um tom da sua tarefa ao passar por entre nós. Em época de ostentação e de bastar poder para fazer e comprar, o nosso confrade deixa-nos o legado, nos faz ouvir o salmo 40, 1: “Feliz de quem pensa no pobre, quem entende o pobre”. Feliz, na Bíblia, significa quem caminha no rumo certo. E, assim, quem não pensa no pobre e no fraco certamente está desvirtuado e caminha para a ruína da vida, perderá o que de melhor traz em si. Acreditamos nisso?
Nossa Província não faz muito tempo realizou uma Assembleia sobre as obras sociais. E desde então...
Parece que carecemos de uma decidida opção seja individual seja institucional que dê conta ou faça valer o legado dos “velhos” missionários. Será? O certo, no entanto, é que a opção preferencial pelos pobres, como disse o Papa Bento XVI, não é uma moda, mas puro Evangelho.
Frei Apolônio gostava de ir de ônibus público para as “invasões” e palafitas: profecia para o nosso tempo. Profecia enquanto nossa pastoral se mostra quase sempre como uma pastoral de manutenção, isto é, sem ousadia e sem novas iniciativas.
Frei Apolônio deixou-nos “marcos” que apontam para o mundo da compaixão, da misericórdia. Deixou-nos “Escolinhas” em vista do educar; Creches em prol de crianças e seus pais; Refeitório para saciar a fome de famintos; Ambulatório em vista dos doentes e voluntários; Casa de apoio para a segurança e conforto dos transeuntes.
4. Austeridade. Parco no comer, parco no beber. Seu alimento era outro! Simplicidade: para quê o supérfluo? Espírito de sacrifício, pois quem quiser salvar a sua vida, seja sábio, faça bom negócio, invista a vida em serviço (a cruz). Viveu como pobre. Suas pobres havaianas testemunham a seu favor. No seu quarto, após seu falecimento, foram encontrados dois hábitos surrados e pouquíssimas peças pessoais, levando o Provincial a exclamar, admirado: “ele era um frade realmente pobre”. Austeridade denota uma luta, uma batalha gigantesca que combate o egocentrismo, o puxar as coisas para si. Em uma de suas ultimas frases, frei Apolônio deixou transparecer a luta: lutou consigo para passar a cuidar de outros e não outros quaisquer, mas os “outros-pobres”. Frei Apolônio disse ao médico dias antes de falecer: “Médico me deixa sair; tenho muitas coisas para fazer; tenho os pobres para cuidar” (Frei Macapuna, Homilia para a missa de sétimo dia). Já dizia Jesus: “Onde está o teu tesouro está o teu coração”. Um legado que nos provoca: onde está o nosso coração, qual o nosso tesouro? Já dizia o salmista: “Feliz quem entende, pensa no pobre e no fraco” (Sl 40, 1).