Quando cheguei ao primeiro convento dos frades, depois do de Lion, no mesmo dia (em 1247) aí chegou Frei João de Pian del Carpine, de volta dos tártaros, aos quais o tinha mandado o papa Inocêncio IV. Frei João era um homem muitoà mão, espiritual, letrado e bom para falar, perito em muitas coisas, e já tinha sido ministro provincial da Ordem.
Ele nos mostrou o cálice de madeira que levava para o Papa, no fundo do qual estava impressa, não pela mãos de pintores, mas por virtude das constelações, a imagem de uma belíssima rainha. E se a quebrasses em cem pedaços, aquela imagem ficaria intacta em cada um dos cem (p. 297).
Contava-nos que tinha chegado ao supremo senhor dos tártaros depois do cansaço de uma viagem interminável, entre perigos sem número, sofrendo fome, frio, calor; e que os tártaros na verdade se chamam tártaros, e comem carne de cavalo e bebem leite de jumentas, e que viu lá com eles pessoas de todas as nações, com exceção de apenas duas, e não pode apresentar-se ao imperador a não ser vestido de púrpura, e tinha sido recebido e tratado com grande gentileza. O imperador tinha querido saber quantos estavam dominando no Ocidente; e quando soube que eram dois, isto é, o Papa e o imperador, e desses dois todos recebiam o poder, quis saber quem era o maior. Ele respondeu que era o papa, e então lhe apresentou as cartas do Papa. Depois que as mandou ler, disse que lhe daria cartas de resposta ao Papa.
O mesmo Frei João escreveu um grosso livro sobre os tártaros e sobre as maravilhas do mundo, como ele tinha visto, e o fazia ler. E vi e escutei muitas vezes, todos as vezes que o obrigavam a contar a história dos tártaros; e quando se lia e não se entendia, ele explicava e se demorava sobre cada coisa (p. 298).