Bem-aventurada Miquelina de Pesaro
Viúva da Terceira Ordem (1300-1356). Aprovou seu culto Clemente XII no dia 24 de abril de 1737.
A cidade de Pesaro, na costa oriental da Itália, consagra uma devoção especial a esta viúva santa que foi um de seus membros. Nascida de pais ricos e ilustres, Miquelina Metellí se casou aos doze anos de idade com um membro da família Malatesta de Rimini. A união foi feliz, mas quando a morte de seu marido a deixou viúva aos vinte anos, com um único filho pequeno, parece que ela de modo nenhum ficou desolada. Sempre gostara dos prazeres da vida, e durante algum tempo continuou a levar a mesma vida de antes, dando pouca ou nenhuma atenção às práticas religiosas.
Vivia em Pesara por essa época uma terceira franciscana de origem e antecedentes desconhecidos, que atendia pelo nome de Siríaca. Vivia de esmolas, passava a maior parte de seu tempo em oração, e, para se abrigar de noite, dependia da hospitalidade casual das pessoas caridosas. Miquelina, que era uma daquelas que abriam suas portas à estranha, pouco a pouco foi sendo influenciada por ela.
Surgiu entre as duas uma familiaridade que resultou na conversão completa de Miquelina. Somente seu filho a prendia agora ao mundo, e quando ele foi vítima de certas queixas infantis, resolveu renunciar a tudo. Aconselhada por Siríaca, tomou o hábito de terceira franciscana, distribuiu seus bens aos pobres e passou a mendigar seu pão de porta em porta. Não era fácil para uma pessoa que sempre vivera no bem-estar e no conforto acostumar-se com restos de comida que ninguém mais queria. Certa vez, no início de sua nova vida, revelou a uma antiga colega que desejava muito saborear um pedaço de carne de porco assada de fresco. Ansiosa por lhe proporcionar este pequeno prazer, sua amiga convidou-a imediatamente para o jantar. Mas quando o prato com a carne foi trazido à mesa e o cheiro saboroso da iguaria lhe invadiu as narinas, Miquelina caiu repentinamente em si. Recusando-se a sentar-se à mesa, retirou-se da companhia da amiga e açoitou-se com uma corrente de ferro até o sangue escorrer.
A cada golpe, ela se apostrofava irada, exclamando para si mesma: “Ainda queres carne de porco, Miquelina? Ainda queres mais?” Teve de suportar muitas outras provações interiores e exteriores. Seus parentes criticavam severamente sua conduta, e durante certo tempo chegaram até mesmo a metê-la numa prisão como lunática. Sua paciência e brandura, porém, desarmaram-nos: concluíram que, embora iludida, ela não representava nenhum perigo, e a puseram em liberdade. O resto de sua vida ela o passou na renúncia de si mesma e na prática das boas obras.
Cuidava dos leprosos e de outros portadores de doenças repugnantes, exercendo os ofícios mais humildes em favor deles; e conta-se que curou vários deles, beíjando-lhes as chagas. No final de sua vida, Miquelina fez uma peregrinação a Roma, onde, em certa ocasião, lhe foi dada a graça de participar misticamente nos sofrimentos do Senhor. Morreu no Domingo da Santíssima Trindade de 1356, talvez aos cinquenta e seis anos de idade.
Desde o instante de sua morte foi venerada pelos seus concidadãos, que mantinham uma lâmpada acesa dia e noite diante de seu túmulo na igreja franciscana. Em 1580, a casa em que ela vivera, em Pesaro, foi convertida em igreja, e seu culto foi aprovado em 1737.
Encontra-se um breve relato de sua vida em “Acta sanctorum”, junho, voL IV, e em Wadding, “Annales Ordinis Minorum”, vol VIII, p. 140·143; diversas vidas foram publicadas no século XVIII por Bonuccí, Matthaei, Ermanno, Bagnocavallo e outros. Veja-se também Léon, “Auréole Séraphique” (traduzida para o inglês), voL II, p. 422·426.